A galáxia de Marshall McLuhan
Copyright Terra Magazine - 23/04/2011 e reproduzido no Observatório da Imprensa em 26/04/2011 e no site do PPGCOM/ECA/USP
O filósofo canadense Marshall McLuhan
Neste ano, Herbert Marshall McLuhan (1911-1980) completaria cem anos. A efeméride será comemorada em São Paulo, no Teatro Vivo, nos dias 2 e 3 de maio, a partir das 9h00, com o seminário “O Século McLuhan”, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (PPGCOM/ECA/USP), pelo Centro de Pesquisa ATOPOS e pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE). O encontro reunirá professores e comunicadores para debaterem a obra do pensador canadense. Entre eles, Derrick de Kerckhove, ex-diretor do McLuhan Program in Culture & Technology, Décio Pignatari e Maria Immacolata Vassallo de Lopes, coordenadora do PPGCOM/ECA/USP.
O meio é a massagem
Os livros de McLuhan mais conhecidos são a “A Galáxia de Gutenberg”, de 1962, “Os Meios de Comunicação Como Extensões do Homem - Understanding Media”, de 1964, traduzido no Brasil pelo poeta Décio Pignatari, e o “O Meio é a Massagem”¹, de 1967, que tem como co-autor o artista gráfico Quentin Fiore e que é um manifesto repleto de provocações e um inventário ilustrado dos efeitos da comunicação eletrônica sobre os indivíduos, empresas, instituições e governos.
Em uma de suas páginas, o livro “O Meio é a Massagem” traz como título, em negrito, a palavra “Você”, ilustrado com um redemoinho, ao lado da impactante afirmação de McLuhan de que as formas de pensar, criar, operar, controlar e viver das tecnologias mecânicas de comunicação estavam seriamente ameaçadas pelas tecnologias, pelo modo de criar e fazer, armazenar, criar e armazenar as informações elétricas. McLuhan e Quentin Fiore refletiram, há mais de 50 anos, sobre a gestão do ambiente da comunicação baseada em computadores e o que poderia decorrer disso. Por exemplo, os meios de comunicação como protagonistas importantes de inovações, crises e revoluções - de inúmeras abrangências e impactos - nos campos culturais, econômicos, sociais, ambientais, políticos, educacionais e da psique da sociedade. E, profeticamente, o surgimento das grandes economias asiáticas, como a japonesa e a chinesa (“The west shall shake the east awake...while ye have the night for morn...”)
E-comerce e Tribalização
Na atualidade, os circuitos, os computadores, as conexões elétricas e instantâneas transformaram situações do cotidiano, quando os jovens urbanos usam e abusam do uso dos celulares e das redes sociais para se tribalizar e questionar o poder do pai, do professor, do padre, do patrão e do pai de santo ou, ainda, nos cafundós dos extremos do mundo, nas franjas do mediterrâneo e no interior da África expor e derrubar ditaduras tidas como eternas. O Wikileaks e a indelével memória digital são frutos singulares do que McLuhan denominou era da informação eletrônica. E, também, a criação artística e a pesquisa acadêmica democratizadas, em termos de suas produções e divulgações, pela disponibilização de softwares gratuitos ou de baixo custo e compartilhamento de experiências e informações no âmbito de comunidades de artistas, pesquisadores e interessados, que não dependem mais de financiamentos, museus e curadorias para existirem e se afirmarem. No mundo empresarial, a revolução eletrônica se consolida com o comércio digital, com a e-comunicação empresarial e as ações de educação e treinamento, renovadas com as possibilidades da co-criação, das novas narrativas como o storytelling e a memória institucional, as produções audiovisuais de baixo custo e da educação à distância.
Ideias que permanecem.
Após 50 anos, as idéias de McLuhan têm uma sintonia com a idéia ecológica de que todos, independentemente de suas posições na hierarquia, tamanho de conta bancária, formação educacional e ideologia fazem parte de um mesmo mundo, integrados eletricamente, digitalmente, em uma “aldeia global”. As nossas ações privadas ou públicas afetam a todos. A comunicação e os seus meios criam uma noosfera, idéia do padre jesuíta francês Teilhard de Chardin (1881-1955), que influenciou McLuhan a pensar a aldeia global tecida por circuitos eletrônicos. Para Chardin, além do mundo natural integrado, convivemos com um mundo ou esfera constituída pela cultura e pelos conhecimentos, a noosfera. Outra idéia mcluhiana a de que “todos os meios são extensões de alguma faculdade psíquica ou física humana” nos integra também com aquilo que criamos e que constituem as nossas extensões, o pós-humano, as ferramentas, os processos tecnológicos, as máquinas. Em “O Meio é a Massagem”, McLuhan explica didaticamente o seu pensamento sobre as extensões: “A roda é uma extensão do pé”; “O livro é uma extensão do olho”; “A roupa é uma extensão da pele”; “O circuito elétrico é uma extensão do sistema nervoso central”.
A obra de McLuhan, aparentemente didática, é coalhada de aforismos. “O meio é a mensagem” é o mais conhecido de seus aforismos. Outros são igualmente provocadores: “A nova interdependência eletrônica recria o mundo à imagem de uma aldeia global”; “O amanhã é o nosso endereço permanente”; “Não há passageiros na espaçonave Terra. Somos todos tripulação”; “Todas as extensões de nossos corpos, inclusive as cidades – traduzem-se em sistemas de informação”; “Hoje cada um de nós vive centenas de anos em uma década”; “É o quadro que muda a cada nova tecnologia e não apenas a imagem dentro da moldura”; “Notícias, mais do que arte, são artefatos”. Todas as mesas temáticas do seminário “O Século McLuhan” foram inspiradas pelos aforismos de McLuhan citados, que deverão ser debatidos pelos pesquisadores e profissionais convidados. Um desafio e tanto.
McLuhan parecia saber que o aforismo deve ser escrito para o futuro, para ser compreendido, se isso é possível, no longo prazo. É como o fogo pequeno que arde eternamente escondido no interior do vulcão aparentemente extinto. A imprecisão aparente que é essencial nos bons aforismos é defendida por Nietzsche e Karl Kraus (1874-1936), excelentes em conceber este tipo de narrativa. Os criados por McLuhan têm a mesma linhagem dos aforismos desses mestres. E a não compreensão imediata de suas frases abertas como mitos, principalmente pelos acadêmicos de sua época, e a adesão de milhões de leitores, que transformaram algumas de suas obras em best-sellers, geraram um movimento mental que as trouxeram vivas e atuais até os nossos dias. Marshall McLuhan vive.
¹ - Publicada em 1967, a versão original de “O meio é a mensagem” (que, em inglês, tem o título "The medium is the massage)" utiliza o termo “massage” para indicar o impacto sensorial das mídias.
Serviço
Data: 02 e 03 de maio de 2011
Local: Teatro Vivo - Rua Dr. Chucri Zaidan, 860 – Morumbi.
Inscrições: www.atopos.usp.br/mcluhan
Programação
O evento será articulado em uma conferência inaugural, três debates e quatro mesas redondas. As mesas redondas começarão sempre com uma introdução inspiradora a temática da mesa, (de 15 ou 20 minutos de duração) proferida pelo docente cujo nome tem o asterisco ao lado.
Dia 02 de Maio
9h - Mesa de Abertura
Prof. Massimo Di Felice (PPGCOM/ECA/USP e Atopos)
Profa. Maria Immacolata Vassallo Lopes (PPGCOM/ECA/USP)
Prof. Paulo Nassar (PPGCOM/ECA/USP e ABERJE)
Prof. José Roberto Withaker Penteado (diretor-presidente da ESPM)
Sr. Paul Baran (Cônsul do Canadá)
Representante Vivo (a confirmar)
9h30 – Conferência
“A nova interdependência eletrônica recria o mundo à imagem de uma aldeia global” - McLuhan e a Aldeia Global
Conferência de Derrick de Kerckhove (ex-Diretor do McLuhan Program in Culture & Technology)
10h45 - Intervalo
11h Debate
“O amanhã é o nosso endereço permanente” - McLuhan no Brasil
Décio Pignatari (UTP-PR)
Lúcia Santaella (PUC-SP)
Mediação: Maria Immacolata Vassallo de Lopes (PPGCOM/ECA/USP)
13h - Almoço
15h Mesa Redonda
“Não há passageiros na espaçonave Terra. Somos todos tripulação” - McLuhan e as formas comunicativas do habitar
Andrea Miconi (IULM – Itália)
Mario Pireddu (Univ. de Roma III – Itália)
Massimo Di Felice (PPGCOM/ECA/USP e Atopos)*
Nello Barile (IULM – Itália)
Mediação: Cristina Costa (PPGCOM/ECA/USP)
17h - Mesa Redonda
“Todas as extensões de nossos corpos, inclusive as cidades – traduzem-se em sistemas de informação” - McLuhan e as extensões
Fabio La Rocca (CEAQ-Sorbonne)
Stéphane Hugon (CEAQ-Sorbonne)
Vincenzo Susca (Univ. de Montpellier, McLuhan Fellows)*
Andre Stangl (Atopos/ECA/USP)
Mediação: Eneus Trindade Barreto Filho (PPGCOM/ECA/USP)
DIA 03 DE MAIO
9h - Debate
“Hoje cada um de nós vive centenas de anos em uma década” - McLuhan e a tecnologia
Rogério da Costa (PUC-SP)
Vinícius Andrade Pereira (Coordenador do ESPM Media Lab e Professor do PPGCOM-UERJ)
Mediação: Andre Stangl (Atopos/ECA/USP)
10h45 - Intervalo
11h - Debate
“Se funciona, é obsoleto” - McLuhan e a teoria da comunicação
Muniz Sodré (ECO/UFRJ)
Ciro Marcondes Filho (PPGCOM/ECA/USP)
Mediação: Sandra Reimão (PPGCOM/ECA/USP)
13h – Almoço
15h - Mesa Redonda
"É o quadro que muda a cada nova tecnologia e não apenas a imagem dentro da moldura" - McLuhan e a comunicação de empresas e instituições
Paulo Nassar (PPGCOM/ECA/USP e ABERJE)*
Luli Radfahrer (ECA/USP)
Mario Vitor Santos (Casa do Saber)
Vander Casaqui (ESPM)
Mediação: Adilson Citelli (PPGCOM/ECA/USP)
17h - Mesa Redonda
“Notícias, mais do que arte, são artefatos” - McLuhan e as mídias e as artes
Elizabeth Saad (PPGCOM/ECA/USP)
Irene Machado (PPGCOM/ECA/USP)*
Artur Matuck (ECA/USP)
Mediação: João Carrascoza (ECA/USP e ESPM)
19h - Encerramento
Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje
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