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Paulo Nassar
diretoria@aberje.com.br

Diretor-Presidente da Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial. Professor livre-docente da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e pós-doutor pela Libera Università di Lingue e Comunicazione, Milão, Itália. Integra o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (PPGCOM-ECA/USP). É Coordenador do Grupo de Estudos de Novas Narrativas (GENN ECA-USP). Autor de inúmeras obras no campo da Comunicação.

Chacinas, atalho para o fascismo

              Publicado em 18/08/2015

Copyright Correio Braziliense - 18/08/2015

O país assiste, entre perplexo e sem o necessário rigor nas ações, a escalada das chacinas nas periferias dos centros urbanos. Hoje, foi o assassinato de 18 pessoas nas cidades de Osasco e Barueri, na Grande São Paulo. Ontem, houve chacinas no Amazonas, Belém e, também, em Salvador, além de sucessivos tiroteios no Rio de Janeiro. Os responsáveis por tais atos criminosos, que apavoram a população, ainda não foram descobertos e muito menos punidos. Amanhã, o que acontecerá?

A questão da segurança e, consequentemente da violência, torna-se, cada dia mais, um tema chave na vida brasileira. Um estudo recente da ONU (abril, 2014) revela que o Brasil responde por 11, 4 por cento do total de assassinatos no mundo. Corresponde a taxa média – 25,2 para cada 100 mil habitantes -, quatro vezes maior que a mundial, em torno de 6,2  para cada 100 mil. Por trás da aparente frieza dos números, encontra-se uma população sitiada pela violência, sem que se saiba se há conexões entre as chacinas. E, o que é igualmente nefasto, que a sociedade seja vítima e refém da narrativa dessa escalada de sombras.

Estatisticamente, são 53 mil crimes violentos por ano, em números aproximados, mas a verdade é que pobres e ricos são prisioneiros de campos de concentração invisíveis. Como o assassinato se banalizou e a vida deixa de ter valor, a sociedade foi envolvida pela barbárie. Não se trata, é evidente, apenas da impunidade. Dados oficiais revelam que o Brasil é um dos países que mais encarcera em âmbito internacional. Seu sistema penitenciário, superlotado com mais de 570 mil presos, comporta vasta pletora de acusações: cruel, racista, ultrapassado, pune majoritariamente jovens e negros e traficantes de drogas.

Mesmo na televisão, a novela Babilônia está ai para mostrar que as milícias existem e se infiltram no cotidiano de maneira ameaçadora, se superpondo às leis e às regras de convivência democrática. Na vida ou na arte fica claro que o problema comunica algo muito maior do que aparenta ser. A sociedade não confia no Estado, o Estado não confia na sociedade. É uma desconfiança que se avoluma e transcende o nível pessoal para se tornar institucional. Faltam instituições confiáveis.

Ao lado dessa desconfiança, germina o sentimento de que a lei existe para uns, não existe para outros, com o Estado negligenciando de sua reputação e identidade. Esquecendo-se que a confiança se constrói com ações práticas e que a comunicação, desde que associada à ações, pode resgatar a confiança junto à sociedade. Vive-se, historicamente, o universo dissoluto do poder do Estado.

A lei que vale para os bairros ricos das cidades precisa valer para os bairros pobres. Nas periferias, como nas favelas, as chacinas que se sucedem são o pano de fundo para um ingrediente muito mais explosivo, e atual do Brasil: a exclusão social que se dá não apenas pela pauperização, mas pela ausência de projetos de formação de polícias democráticas. Negros e jovens são sempre os primeiros suspeitos de crimes. A lei precisa igualar a todos, não discriminar.

Diante do crescente noticiário sobre a violência, torna-se imperativa dupla ação das autoridades. A primeira é desenhar, e tirar rapidamente do papel, currículos de educação democrática para as policias. Mudar exige reformulação geral de políticas de segurança. A segunda iniciativa é levar a lei e a justiça para as periferias. O cidadão precisa ter a quem recorrer e ser protegido. Soma-se a rápida redução das desigualdades sociais. Grandes massas saíram da linha da pobreza, mas o país ainda permanece dividido entre ricos e muitos pobres, gente sem esperança e sem amanhã. 

Cidadania e liberdade não se resumem apenas a votar e ser votado. É preciso que as autoridades visitem as periferias, escutem os dramas dos seus moradores e encontrem soluções práticas para a dura realidade cotidiana.  Pois, se nada acontecer, as chacinas só tenderão a proliferar e o atalho para o fascismo irá se alargar. Não é esse o Brasil que desejamos. O desafio é impedir que a violência ganhe proporções e comece a recuar com a punição dos culpados. É péssima, hoje, a narrativa da realidade brasileira. Necessita mudar.


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