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Paulo Nassar
diretoria@aberje.com.br

Diretor-Presidente da Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial. Professor livre-docente da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e pós-doutor pela Libera Università di Lingue e Comunicazione, Milão, Itália. Integra o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (PPGCOM-ECA/USP). É Coordenador do Grupo de Estudos de Novas Narrativas (GENN ECA-USP). Autor de inúmeras obras no campo da Comunicação.

Dialogar para liderar: um programa para 2016

              Publicado em 18/01/2016

Copyright Correio Braziliense - 16/01/2016

Paulo Nassar e Paulo Marinho (*)

 

No momento em que o Correio Braziliense e a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) se associam para realizar, em 24 de fevereiro, o Seminário Dialogar para liderar, é necessário reavivar o sentido de duas palavras-chave no âmbito da comunicação organizacional: diálogo e liderança. O diálogo incorpora e amplia, assim, o conteúdo da prática, adquirindo o espírito regulador da democracia, com concessões e avanços dos diferentes atores sociais, na construção do bem comum. Como desdobramento natural, os líderes se afirmarão pela comunicação e pelo diálogo em um ambiente aberto, tendo como verdade primordial a busca de soluções para os múltiplos e graves problemas brasileiros.

Em outras palavras, existem razões históricas e conjunturais para a escolha do tema. O diálogo no Brasil é utopia possível, embora frequentemente adiada. Na Proclamação da República, predominou a visão positivista, com a exclusão da sociedade e a opção por golpe de Estado que baniu o imperador dom Pedro II. Acreditava-se no positivismo, o governo dos melhores. Um modelo messiânico que, no Brasil de tradição sebastianista herdada de Portugal, encontrou solo fértil para vicejar. Esgotou-se com a Revolução de 1930, que desobstruiu os canais para o diálogo com novas lideranças. Não demorou muito: em lugar do diálogo construtivo, optou-se pela força. Houve um lado vencedor, mas a névoa da ruína se projetou sobre os ideais reformistas e os aprisionou, até os dias atuais.

É a narrativa síntese que emerge do golpe do Estado Novo e no pós-1964. No primeiro, foram banidos os tenentes da Revolução de 1930, os antifascistas (era época das ascensões do nazismo na Alemanha e do fascismo na Itália) e os comunistas. No segundo momento, em 1964 e até a Constituição de 1988, cortou-se o diálogo com os reformistas sociais e, novamente, com os comunistas. Em ambos os casos, houve a opção por modelo excludente, em detrimento de modelo que incluísse todos os setores sociais. Produziu-se consenso artificial, de fôlego curto, em favor da eliminação das vozes discordantes, em lugar de sociedade plural. Consequentemente, a formação de lideranças ficou represada.

Hoje, passadas quase três décadas da democratização do país, a comunicação efetiva volta a exercer protagonismo. Não é panaceia, mas desponta como solução para continuada ação espelhada no bem comum. Isto porque Dialogar para liderar é sinônimo daquela que é a essência da comunicação contemporânea: a firme interação entre a palavra e a ação. Não a palavra para dissimular e iludir, mas a palavra como expressão da ética prática, que envolve compromisso e responsabilidade, para encontrar as melhores saídas para a normalidade da vida e felicidade brasileiras Não há mais lugar para a ação de spin doctors.

O choque violento entre o diálogo e o não diálogo, entre a formação e o sufocar das lideranças, nada trouxe de bom. Só provocou atrasos. Prova disso são as muitas — e graves — crises brasileiras que se acumulam e se aprofundam.

No cotidiano: corrupção endêmica, segurança, intolerância, saúde, mobilidade, impostos que desafiam a gravidade, inflação ascendente, desemprego, preços altos, sem falar nas crises de abastecimento de água e saneamento, dois problemas típicos do final do século 19. Há toda uma juventude sem amanhã chegando, sem bússola ao mercado de trabalho. Há graves problemas na educação. Há dissintonia entre os poderes. Há um modelo de desenvolvimento em crise. Há reformas a serem feitas que não saem do papel. Por quê? A comunicação pode, e muito, contribuir para encontrar respostas, a começar pela construção da confiança.

O diálogo pressupõe partilha de responsabilidade. Está muito distante do inconsequente resgate das aparências, como no diálogo pelo diálogo. Não significa ausência de conflitos, mas ausência de violência. O filósofo Jean-Paul Sartre comparava o processo social ao boxe e rixa de rua. O boxe, a despeito do embate, possui as suas regras e objetivos. A briga de rua era, como continua sendo, a expressão da força bruta. O diálogo, a julgar pela perspectiva sartriana, é a expressão civilizada do embate. Implica em concessões e tolerância entre as partes envolvidas. Quem deseja liderar, precisa saber dialogar. E dialogar é comunicar a civilidade, não a força bruta da rixa de rua.

O programa que se inicia com o seminário Dialogar para liderar envolve uma grande variedade de temas, com preponderância para os novos paradigmas. Sobretudo, o paradigma democrático. Onde há democracia, há crítica, há controvérsias, há o coro polifônico de ideias. Há diferentes caminhos para as soluções. O segredo é produzir a convergência, criadora das correntes do entendimento. Esta que atenua os conflitos, empresta racionalidade às percepções. Como disse o pensador André Malraux, os homens se formam aprofundando suas diferenças. O objetivo é discutir o Brasil e seus impasses, tornar visíveis as portas do presente e os horizontes de futuro. Unir e não calar os diversos modos de administração do País, de cujos choques violentos brotaram as crises do não diálogo.

Os líderes e suas redes têm papel importante no processo de superação do não diálogo. Nos campos de atuação, onde quer que estejam, no real e no virtual, devem contribuir para uma visão transcendente, além do partidarismo para propagar a unidade da vontade na formulação e resolução dos problemas.

Liderar, com comunicação de qualidade, é entender a verdade como processo, conduzir o entendimento pelo saber (nunca pelo insulto), atenuar a contradição dos fatos pelo caminho, frequentemente esquecido, do pensar antes do agir. Agir por impulso não é dialogar. É agir de acordo com as circunstâncias, não por parâmetros racionais. Por fim, o pano de fundo do nosso tema central, Dialogar para liderar é a liberdade como valor: liberdade de expressão, liberdade de imprensa. Liberdade como valor universal. Pois diálogo e liderança são filhos da liberdade. É a necessidade da História que o Brasil precisa completar.

Por isso, a Aberje e o Correio Braziliense convidam para integrar o programa Dialogar para liderar as instituições que tenham nas raízes e missões a defesa do diálogo e da comunicação como fundamentos da sociedade contemporânea, entre elas a ANJ, Aner, Abracom, Instituto Palavra Aberta, Ethos, Abap e ABI.

 

*Paulo Nassar é Diretor Presidente da Aberje e Professor Livre Docente da Universidade de São Paulo

*Paulo Marinho é Presidente do Conselho Deliberativo da Aberje e Superintendente de Comunicação Corporativa do Itaú Unibanco 


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