O empresariado que fala e os políticos com as mãos sujas
Copyright Terra Magazine - 22/01/2011
Da esquerda para a direita, os empresários Jorge Gerdau e Guilherme Leal
Por que empresas e empresários se falam sobre questões sociais, que, olhadas de forma tradicional, parecem ultrapassar os limites dos negócios? A pergunta brota ao se examinar quem opina nas diferentes mídias sobre as mortes provocadas pelos deslizamentos de terra e temporais desse verão, registrados principalmente nas cidades de Petrópolis, Nova Friburgo e Teresópolis, na região serrana do Rio de Janeiro.
Um deles é Benjamin Steinbruch, acionista controlador da CSN, proprietário da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Em seu artigo, “Podia ser diferente”, publicado na sua coluna de 18 de janeiro no jornal Folha de S.Paulo, discorreu sobre a responsabilidade dos políticos brasileiros na produção dessas tragédias. No texto, o empresário afirmou que “os culpados pelas ocupações irregulares não são os ocupantes, e sim a autoridade pública. Para administradores de cidades, é politicamente mais interessante -rende mais votos- incentivar obras irregulares, às vezes até fornecendo tijolos e cimento, do que impedi-las. Quando sobrevêm as catástrofes, em geral, os responsáveis pela negligência que levou à tragédia já estão fora da administração”.
A fala de Benjamin Steinbruch é um diagnóstico preciso, diferente do discurso enganador e protocolar de políticos, que estão no governo e preferiram culpar Deus, a natureza, a chuva e a montanha pelos desastres. A oposição local, estadual e nacional ficou calada porque também têm culpa pelas mortes. Nos últimos anos, em algum momento, ela já foi governo. Os políticos apostam no esquecimento produzido pelo circo dos novos acontecimentos, no qual um desastre maior, talvez do outro lado do mundo, continuará alimentando o espetáculo.
Empresariado e educação
Outro tycoon da indústria brasileira, Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do conselho de administração do Grupo Gerdau, com fábricas nos Estados Unidos, Argentina, Chile, Colômbia, Uruguai, México, Venezuela, Estados Unidos e Canadá, é um dos principais líderes do movimento “Todos pela Educação”, uma referência intelectual para a sociedade quando o assunto é estratégia e a melhoria da gestão empresarial. E é mais um exemplo do empresariado que opina e intervêm com recursos e ideias em assuntos do âmbito das instituições, infelizmente mal geridas e desmoralizadas pelos políticos. O “Todos pela Educação” é uma grande aliança do empresariado, integrada pela sociedade civil organizada, educadores e gestores públicos, cujo objetivo é contribuir para a efetivação do direito de todas as crianças e jovens brasileiros à educação básica de qualidade até 2022. Entre os seus membros estão empresários como Daniel Feffer, da Suzano; Fabio Coletti Barbosa, do Santander; e Milú Villela, acionista do Banco Itaú.
Empresariado e os novos temas
Guilherme Peirão Leal, um dos três principais acionistas da Natura, foi vice-candidato à presidência da República, pelo Partido Verde, nas eleições de 2010. Leal é um pioneiro da causa ecológica no Brasil. Ele ampliou, com recursos tirados do próprio bolso, o discurso sobre sustentabilidade, conservação e uso sustentável da biodiversidade. No âmbito das empresas, a mineradora Vale do Rio Doce, bancos como a Caixa Econômica Federal, Itaú, Santander e Bradesco centram suas mensagens institucionais nos campos da sustentabilidade, e, também, nos campos da responsabilidade social, estímulo ao consumo responsável e apoio à cultura.
O que se vê, de maneira crescente, é um tipo de comunicação preocupada em apresentar as empresas como organizações não apenas interessadas em vender e melhorar seus resultados econômicos, mas apresentá-las com credencial de cidadã, participantes dos anseios sociais. Para isso, tiram recursos financeiros dos bolsos e ideias da cabeça de seus gestores para um país e um mundo melhor. É um processo de divulgação das ações que transcendem os negócios para reforçar a percepção dessas organizações como seres institucionais. Com isso, os líderes empresariais se qualificam diante da sociedade como líderes institucionais, legitimam os seus negócios e criam um escudo simbólico para as suas empresas e para o empreendedorismo. Uma análise do que escrevem nas colunas e sessões opinativas dos grandes jornais e revistas brasileiros, mostrará que eles discorrem sobre os grandes temas institucionais: a saúde, a justiça, a educação, a estratégia e a gestão do Estado, os destinos da comunidade, da cidade, do país, da humanidade. É um discurso que aproxima os patrões dos pastores, padres, políticos, juízes, entre outros emissores tradicionais dos conteúdos institucionais. Mais uma característica de uma sociedade em que os papéis sociais se misturam, principalmente quando os políticos usam as enxurradas para lavarem suas mãos.
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