E ainda queremos fidelidade
Tome este cartão de fidelidade, volte mais vezes e ganhe um almoço grátis. Uma promoção simples de ser entendida. Sete refeições pagas garantem a oitava na faixa. Não só os restaurantes, mas muitos outros setores aplicam este tipo de estratégia comercial para “fidelizar” seus clientes.
Mas o consumo constante é um sinal de fidelidade? A quem?
Em alguns casos, ao invés de fiel, os clientes se sentem acorrentados a um programa ou a um plano de serviços para receber, ao final, um troféu, um prêmio. Feito isso, adeus restaurante, até mais companhia aérea e afins.
Este efeito é um sinal do quão dissonantes são inúmeras das ações comerciais que, antes de se colocar no contexto de seus clientes, tentam obrigá-los a se enquadrarem em suas metas de vendas e em seus chamados pacotes.
Mas diga lá, quem se sente empacotado, por fim? Podemos apostar que não só o cliente, mas também os próprios profissionais que, em um mercado viciado nos modelos generalistas, não conseguem sentir que oferecem algo realmente diferenciado para suprir tantas necessidades e desejos.
Exemplos deste enclausuramento estão ao alcance da nossa vista. Aliás, em alguns casos somos até os vilões da história com os bordões “comunicação integrada” e “alinhamento estratégico”, pelos quais alguns traduzem um imperativo. “Na minha empresa só pode haver o jornal corporativo. No meu mural, só notícias pertinentes ao negócio. E-mail corporativo é a peça-chave para atingir uma faixa de funcionários mais dinâmica”. Cada pensamento torto que acabamos reproduzindo mesmo sem perceber.
Pertinente para o negócio? O churrasco mensal da fábrica não é pertinente? Se não o é, então por qual motivo gastamos rios de dinheiro para fazer uma festa de final de ano na empresa? Resposta fácil! Para motivar e premiar a equipe, não é? Para que se sintam parte da organização.
É relevante para a empresa as fotos do aniversário dos filhos de alguns funcionários no jornal’zinho’ local? E como teria mais importância a festa do dia das crianças corporativa?
Veja como nosso discurso falha em detalhes. Quando criamos a burocracia de aprovações, budget, estratégias mirabolantes e alienadas, é importante. Quando surge espontaneamente, não serve, a imagem não tem qualidade suficiente, o timing já passou.
Alguns dirão que é mais importante por estar integrado, mas isso é uma balela muito grande, e sabemos disso. Comunicação integrada não é a comunicação do capataz, a fala do guarda, mas sim algo planejado e estruturado, mas que compreende os níveis de interferência e influência e as necessidades comunicativas dos ditos públicos, e por necessidade devemos entender mais do que a fidelidade aos nossos canais.
Obrigar a força de trabalho a consumir sempre as mesmas mídias, como os mesmos conteúdos, é pedir que o sentimento de alívio seja a única coisa que resta ao final do dia por se ver livre de tanto discurso pasteurizado.
É em casos assim que e-mails e recados telefônicos perdem valor ante um post-it bem-humorado deixado em sua mesa. Uma reunião na área arborizada da empresa, sem projetores e slides, acaba produzindo mais do que 2 horas de pão de queijo numa sala de consultoria.
Ser fiel é conviver. É compartilhar valores. Compartilhar, reciprocamente.
Mas para que isso seja uma realidade constante, precisamos oferecer liberdade e clareza sobre os limites, além do cuidado com a promoção dos canais de comunicação e sua convivência pacífica com a comunicação espontânea.
Regras não serão mantidas e respeitadas se não fizerem parte de uma cultura viva.
Se, para ganhar o almoço tivermos que carregar o tal “cartão de fidelidade”, ou para receber apenas um salário sejamos obrigados a usar uniformes e crachás, que seja, mas isso nunca significou cumplicidade.
Sejamos francos conosco e com nossas equipes. Está mais do que claro que já passamos do tempo da ditadura empresarial disfarçada, e o mundo está, a cada dia, um pouco mais ‘transparente’.
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