Empregado-formiga
Formigueiro tem de monte lá pras terras de onde venho. Nenhum doce escapa. Aliás, nenhum tipo de comida, suco, folhas.
Fortes e organizadas, elas fazem com que cada coisa que cai no chão seja retalhada, dividida, carregada. Poucos de nós, ao falar delas, lembramos que elas não comem açúcar, ou pão, ou doces. Grande parte das espécies de formigas se alimenta de substratos produzidos por fungos. Diariamente elas buscam alimento para os fungos, que por sua vez as alimentam, numa relação harmônica.
Começou a ver os paralelos empresariais positivos? Se sim, não é deles que eu vou tratar hoje. Claro que quando somos organizados, conseguimos transformar grandes questões em trabalhos compartilhados. Óbvio que lidamos com produtos e serviços para atender necessidades de uma parcela do mercado que, em troca, nos nutri e nos fortalece. Mas quem de nós nunca parou alguns instantes para observar o hábito de uma formiga?
Tudo começa quando uma única formiga, em busca de alimento, encontra aquela migalha ou o pedaço que caiu quando aquele seu amigo olhou com muita vontade para a sua última bolacha. Em instantes o alerta já foi emitido. Outras formigas virão, seguindo o rastro químico deixado pelo caminho por aquela desbravadora. Dependendo do tamanho da empreitada, horas depois nada mais se vê ali. Trabalho feito, e muito bem feito.
Mas e se a trilha é interrompida? E se algo arrasta algumas formigas para bem longe dali? Fim.
Quando a trilha das formigas é perdida, todas as outras se desesperam, procurando por um caminho, um rastro. Se são afastadas, pouco podem fazer para que não morram atacadas por outras colônias ou pela desnutrição.
Somos tão parecidos. Um de nós encontra um nicho no mercado. Chama mais pessoas para seguir seu rastro e conquistar o nosso pedaço de melaço. Porém tantos outros se parecem mais ainda com a formiga que se perdeu no meio do caminho. Desesperada, buscando uma saída, sem arriscar andar pouco além do fim da trilha. Por vezes, o que separa uma formiga perdida das demais é pouco menos de um metro.
O mesmo acontece conosco. Vez ou outra, o que nos impede de irmos além é a miopia que adquirimos com o tempo. Nos viciamos nas estruturas. Fazemos ataques bárbaros e desesperados contra o que nos atrapalha, mas, por vezes, isso é apenas um graveto no meio da trilha de formigas. Bastaria arriscar um passo a frente para retomar o percurso correto.
Como se comunicam, eu não sei, mas elas o fazem. Como nos comunicamos, achamos que sabemos, mas nem sempre estamos dispostos a compreender, de fato, o papel de cada profissional. Em um formigueiro há tantas operárias, alguns soldados e uma única rainha. Em nossa profissão há tantos reis, incontáveis batedores e os operários, coitados, estão se perdendo nas trilhas mal rabiscadas que apresentamos. E para piorar, escrevemos “estratégico” no topo de várias telas e apresentações, enfeitamos as palavras e botamos todos para correr atrás das metas.
Entra ano, sai ano e o instinto é o mesmo. Acumular, expandir e conquistar. Se algumas formigas operárias se perdem no caminho, é a lei da natureza. O mesmo não deve valer no nosso trabalho. Evoluir é sempre nosso objetivo, mas o preço não pode ser este. Não desta forma.
Não salvaremos cada uma de nossas formigas. Jamais conseguiremos entender a fundo o quanto cada uma delas vai poder carregar, se será uma migalha de pão ou se será o torrão de açúcar, mas temos que agir sempre pensando que estamos mandando os nossos melhores desbravadores para encontrar as oportunidades e, como não dizer, os perigos na vida lá fora. Ordenamos o trabalho e nossas operárias atendem sem sequer hesitar, mas basta pensar um pouco para se perguntar se, ao ter uma delas lançada ao vento, quantos de nós mandariam um destacamento resgatar esta formiga? Quantos de nós volta pelo caminho traçado para ver se o galho não caiu e nos separou da nossa equipe?
Devemos tentar. Não importa quantas filhas nasçam diariamente no formigueiro. Se todas forem sacrificadas, chegará o dia em que a própria rainha perecerá.
Não importa quantos produtos, quantos bons serviços ou quantos talentos incríveis temos em nossas companhias. Se permitirmos a morte diária dos elos desta cadeia, estamos sendo coniventes com o abalo diário das nossas estruturas.
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