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Paulo Nassar
diretoria@aberje.com.br

Diretor-Presidente da Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial. Professor livre-docente da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e pós-doutor pela Libera Università di Lingue e Comunicazione, Milão, Itália. Integra o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (PPGCOM-ECA/USP). É Coordenador do Grupo de Estudos de Novas Narrativas (GENN ECA-USP). Autor de inúmeras obras no campo da Comunicação.

O Rio sem beleza

              Publicado em 26/11/2010

Copyright Terra Magazine - 27/11/2010



 

 

Os ataques desencadeados pelos traficantes do Comando Vermelho (CV) nos últimos dias contra a população carioca revelam uma cidade que se distancia de sua imagem utópica, extraída de sua inegável beleza natural e reforçada por suas traduções artísticas, principalmente aquelas oriundas da literatura e da música.

Noel Rosa, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Ivan Lins, entre outros compositores, produziram uma obra referenciada na geografia, nas ruas, nas casas e nas pessoas do Rio. Em uma de suas músicas, Gilberto Gil entoou que “o Rio de Janeiro continua lindo”.

O escritor Stefan Zweig (1881-1942), em seu livro Brasil, país do futuro, deslumbra-se com a Baía de Guanabara:  “uma das mais magníficas paisagens do mundo, através da qual se penetrava numa espécie inteiramente nova de civilização. Aqui havia, inteiramente contra a minha expectativa, um aspecto absolutamente próprio, com ordem e perfeição na arquitetura e no traçado da cidade, aqui havia arrojo e grandiosidade em todas as coisas novas...”.

Ainda sobre as favelas, - que, agora, a linguagem politicamente correta, chama de comunidades (essa palavra-mito que lembra valores como a fraternidade, a proteção, a paz e a comensalidade)- Zweig afirmava que os seus “moradores sentem-se ali mil vezes mais felizes do que o nosso proletariado em suas casas de cômodos. Moram em casas próprias, podem ali fazer e deixar de fazer o que quiserem: à noite ouve-se que cantam e riem – ali eles são senhores de si.” 


As imagens, ao vivo, das emissoras de televisão, veiculadas na quinta-feira, mostrando um batalhão de infantaria, formado por traficantes, fugindo da Vila Cruzeiro, revelam que esse mundo edênico não existe e transformou as populações dessas localidades em prisioneiros dos traficantes.  E, mais, avisam que a imagem do Rio de Janeiro como “Cidade Maravilhosa” está em crise. Uma crise de imagem que está sendo divulgada e amplificada pelos concorrentes da cidade no meganegócio do turismo mundial.  Quem viajará para descansar, para divertir-se, à uma localidade em que a violência impede o acesso aos locais turísticos? E, que no cotidiano, bandidos barram a livre circulação (o direito de ir e vir) de grande parte dos cariocas. 

Além da violência, se quiser atrair ou manter os seus turistas, o Rio de janeiro deverá combater a poluição de seu maravilhoso patrimônio ambiental, e isso depende de reforços nas áreas de sua infraestrutura urbana e na educação voltada para o turismo.

A guerra no Rio não pode esconder que outras cidades brasileiras – como São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Manaus – também tem as suas guerras contra a violência e a desagregação urbana e de seu ambiente.   E essas guerras precisam ser enfrentadas para que essas cidades não tenham suas imagens ligadas à barbárie, representadas na atualidade pelos traficantes, pela homofobia, descriminação de minorias e o racismo.


Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 2967

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