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COLUNAS


Conrado Adolpho


Especialista em desenvolvimento de negócios digitais e mentor de empreendedores que desejam potencializar seus empreendimentos por meio da internet e estratégias de vendas on-line e off-line. Fundador da editora digital Webliv, que desenvolve cursos e comunicação on-line neste segmento, e que faturou R$ 3 milhões em 12 meses de operação. Conrado é autor dos livros Os 8Ps do Marketing Digital – que está na lista dos 10 mais lidos no Brasil – e do e-book iJumper – o novo empreendedor da economia digital

Para não dizer que não falei de...bits

              Publicado em 19/11/2010

Que tempo é esse?

Palavras como YouTube, web semântica, hashtags, co-criação, iPhone fazem parte de nosso cotidiano e são medidas em milhões, bilhões. Palavras que poderiam fazer parte de "outras palavras" Caetaneadas. A alquimia dos bits gerando negócios bilionários.

Nos livramos da paranoica máquina déspota de Chaplin em Tempos Modernos, mas continuamos oprimidos e pequenos. O que nos oprime, contudo, não é mais a imensa engrenagem, mas o ínfimo bit. Ao contrário dos tempos em que a ignorância regia o planeta, não é mais a escassez de informações que nos estorva, mas o excesso delas.

Como um exército de formigas, os bits nos cobrem, nos subjugam. As engrenagens, essas, coitadas, passaram a ser controladas por eles também.

A promessa da desobrigação humana proporcionada pela tecnologia só nos torna cada vez mais ocupados. A imensidão de escolhas da pós-modernidade nos leva de volta ao prosaico. Desejamos consumir o vazio. Procuramos o nada, sem encontrá-lo, contudo, em meio ao tudo que existe.

A ansiedade gerada pela notícia não sabida nos faz obstinados e vorazes leitores de e-mails, posts, tweets. Um segundo que se perde parece ter o poder de mudar a história de toda a humanidade. Enquanto isso, Ele, o tempo, passa apático à nossa angústia.

Vivemos cada vez mais rápido. Quanto mais velozes, mais efêmeros. Desperdiçamos a essência da contemplação. Triunfamos na abrangência mas nos perdemos do detalhe.

Cassiano Ricardo, poeta joseense, já nos dizia no início do século XX que “cada minuto da vida, Nunca é mais, é sempre menos” e “desde o instante em que se nasce, Já se começa a morrer". A nossa eterna peleja com o tempo.

Temos estado tão atribulados. Atarantados com o cotidiano, confundimos o fim com o meio, o palco com a plateia. Será que nossa missão como seres humanos é simplesmente acumularmos riquezas o mais cedo que conseguirmos, vivermos das suas benesses e adiarmos a morte o quanto pudermos?

Será que é só isso?

Há de haver uma saturação em que iremos procurar o sentido de tudo isso. Corremos tanto, discutimos tanto, debatemos tanto que não sabemos mais para onde e nem por que. Se espreitarmos a vida em torno, como um ser nos observando de fora de nós mesmos, perceberemos um movimento, ainda que sutil, da busca de si próprio. A procura pela autenticidade das coisas.
A internet nos mistura com a própria humanidade. Nos ensina o “Ubuntu” - palavra de origem africana para designar o sentimento de que só somos humanos por meio da humanidade dos outros.

A internet nos agride quando expõe a fome alheia, nos agracia quando nos traz a presença digital de alguém querido e distante. A rede nos revela o quanto somos parte desse todo. Nos impele a ver que só somos completos quando o outro pode sê-lo também. Numa vida em rede, só assim é possível evoluirmos, quando o outro também evolui.

Esqueça o “cogito, ergo sum” cartesiano e individualista. Grite o “eu sou porque nós somos” caórdico e gregário.

A internet expõe nossas chagas como raça humana e nos incomoda com sua franqueza. Não nos julga, mas também, não nos poupa. Ela é o espírito humano ferido por guerras e desigualdades sociais clamando por mudanças.

Fazer sites e enviar e-mails é apenas uma parte do que é de fato a grande rede. O homem que para e reflete sobre sua existência e a sua função neste mundo, passa a utilizar os bits a seu favor, não contra si. Tem no tempo o seu melhor aliado, não inimigo. Transforma a sociedade em um lugar melhor porque sabe fazer parte dela.

A comunicação, aspecto natural da grande rede, baseada em seus bits como palavras são calcadas em letras, deve ser utilizada para o crescimento do outro como uma maneira de nós mesmos crescermos.

Me pergunto: Que mundo é esse? Será que estamos utilizando nossa capacidade de comunicar para mudar o mundo ou apenas para mudar nossa própria existência? Que mundo é esse em que bits passam a substituir a comunicação e a palavra franca dita cara a cara?

Estranhamento pelas minhas palavras? Sou um defensor confesso dos bits, mas, antes de tudo, um defensor da humanidade. O bit existe para servir o homem e não o contrário. Não confundamos e utilizemos a comunicação para a sua função mais nobre: transformar, não bits em ouro, mas "usuários" em cidadãos politicamente conscientes.


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