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Mauricio Felício
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Sócio Presidente da Felício Comunicação, atua em consultoria, gestão e treinamento em comunicação empresarial e Business Intelligence. Formado em Relações Públicas pela USP, onde atualmente participa do programa de mestrado e é Professor conferencista para a graduação, com MBA em Gestão de Comunicação e Marketing pela mesma instituição (USP em parceria com a Florida University)."

 

Puxa-saco

              Publicado em 22/10/2010

Já cansou de ouvir que a estratégia da empresa não está sendo seguida? Aquelas pessoas dizendo que o chefe não pratica o tal do walk-the-talk1? E que a equipe não está engajada nas metas e objetivos da área?

Se você é chefe, meu caro, pode ser que esteja se esquecendo de uma figura relevante na sua estrutura. O puxa-saco.

Aquela sobremesa extra, o elogio sem critério no início do dia, o sorriso pela frente e a careta pelas costas. Sinais aparentemente pequenos de que estamos lidando com falsidade e hipocrisia. E como perceber os sinais de um puxa-saco? Bem, alguns carregam um alerta, uma sirene no topo da cabeça, ou como diriam há alguns anos, um giroflex luminoso.

E quanto aos mais discretos? Para encontrá-lo, observe a atitude de toda a equipe. Identifique aquela pessoa que sorri para as pessoas de outras áreas e assim que vira o corredor fecha a cara e começa a criticar seus modos, seus interesses, suas roupas. Este pode ser um sinal de muitas coisas. Na melhor das hipóteses é falta de integração entre áreas. Na pior delas, pode ser falta de ética, falha no filtro social. Pode também significar que a pessoa que fala mal de outras para você, de modo vulgar, vê em você a falta de valores necessária para que dividam as mesmas maledicências e a mesma má educação.

Aqui entra o puxa-saco. A postura profissional de cada membro de sua equipe deve ser continuamente avaliada. Imagine que você, ao valorizar uma pessoa que tem estas atitudes, mesmo que o reconhecimento seja por um resultado positivo ou uma qualidade ímpar, está dando um recado aos demais: “Sejam falsos, sorriam para qualquer um e passem na minha sala ao final do dia para falar mal dos outros”.

E não precisa muito. Lembre-se que lidamos sempre com pessoas, cada uma em um momento diferente de sua vida pessoal e profissional. Não somos suficientemente racionais para aceitar um profissional competente sendo reconhecido, ainda que na hora do almoço ele tenha uma postura vulgar. Geralmente as empresas costumam avaliar os empregados pelos números e indicadores, mas as pessoas se veem de forma ampla. Olhamos o todo, a postura, o relacionamento, o profissionalismo, a cooperação. As relações interpessoais e os jogos de poder e reconhecimento são delicados e pautado por detalhes.

Pensando assim é mais fácil entender quando passamos pelos corredores e ouvimos algo como “Ah, só podia. Lá vai ou puxa-saco” ou “Vou parar de ser burro. O fulano não faz nada o dia inteiro e já foi promovido duas vezes neste ano”.
Estamos permitindo esta inversão de valores?

Na hora de perguntar qual o problema com a aplicação da estratégia, podemos nos surpreender. Quem sabe uma comunicação anônima informe que isso se dá porque a grande parte da equipe vê seu gestor como um profissional fraco, que cede a bajulações. Então, se é assim, este seria apenas um chefe, não um líder, e estaria despreparado para guiá-los profissionalmente. Correto?

Veja bem, não há aqui uma acusação de intencionalidade nesta subversão. O problema é quando nos esquecemos de gerir pessoas e passamos a gerir tabelas, números e divisões corporativas.

E ainda, por favor, lembre-se de que há pessoas gentis e sinceras. Por isso, não tome todos os elogios ou agrados por bajulação. Se o fizer, estará, novamente, punindo aqueles que se empenham em manter não só um bom ambiente como construir uma história positiva com as equipes das quais fizeram ou fazem parte.

Isso é comunicação. Observar. Mapear. Aprofundar-se na interação entre as equipes. De outra forma, faríamos apenas emissão de palavras vazias e destruiríamos a legitimidade discursiva de toda a companhia.

Não aceite dizerem que é impossível distinguir as pessoas éticas e positivas neste cenário. Não permita que aleguem que nunca há retorno dos clientes internos ou externos sobre a atuação das equipes, principalmente se há muito tempo a postura dos líderes tem favorecido e ratificado uma atuação desleal e frívola dos seus subordinados. Seja crítico neste momento, pois a sua própria imagem e postura já podem estar sendo colocadas à prova.

A cada dia há menos espaço para práticas abusivas. Por isso, leitor, espero que você, além de você ser uma pessoa correta, exija isso dos que estão ao seu redor.


1 - Walk the talk: expressão estrangeira que indica que aquele que aconselha/rege também deve seguir aquilo que diz. Sendo assim, quando a liderança exige uma postura profissional de sua equipe, deve se portar da mesma forma.


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