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Paulo Nassar
diretoria@aberje.com.br

Diretor-Presidente da Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial. Professor livre-docente da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e pós-doutor pela Libera Università di Lingue e Comunicazione, Milão, Itália. Integra o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (PPGCOM-ECA/USP). É Coordenador do Grupo de Estudos de Novas Narrativas (GENN ECA-USP). Autor de inúmeras obras no campo da Comunicação.

As mulheres no poder

              Publicado em 01/10/2010

Copyright Terra Magazine - 02/10/2010

 

Às vésperas das eleições presidenciais – competitivamente disputadas por duas mulheres, Dilma Rousseff e Marina Silva - é interessante olhar para as mitologias masculina e feminina ligadas ao comando do Estado e das empresas. 

Instituições e empresas têm sido tradicionalmente comandadas por estrategistas.  O estrategista como expressão de chefe de militares moldou uma cultura de comando inflexível e inquestionável em quase todas as organizações empresariais.  Dessa forma de ver e transformar o mundo deriva as expressões, palavras, gestos, comportamentos, horários e formas de vestir-se no mundo do trabalho, demasiadamente preocupado em controlar o tempo e pretender eliminar os desejos e as subjetividades. A palavra de ordem, produtividade, é essencialmente masculina. Homem tem dificuldade em conviver com licença maternidade e menstruação.  Homem tem pressa.

Estrategistas de Estados, desde a antiga Grécia, são homens. As empresas têm repetido o modelo masculino de comando, caracterizado muitas vezes por ser desproporcional, violento, forte, feroz e rústico.  Não é sem causa, Atlas representa o trabalho pesado de segurar sobre os ombros o céu, o mundo.  Aos homens-comandantes cabe historicamente tomar as decisões de forma objetiva.  O gênero masculino nos é apresentado como um atributo natural do poder. Será?

Toda essa mitologia acerca do comando masculino é posta à prova, desmontada, por narrativas mitológicas acerca de mulheres como a Judite bíblica, que protagoniza a mulher que cortou a cabeça de Holofernes, o general assírio inimigo, para livrar o povo judeu da opressão.  Ou a Joana D’Arc, heroína francesa da Guerra dos Cem Anos (1337-1453), representa o símbolo da resistência da França ao invasor inglês e, nas grandes guerras mundiais, do século XX, ao invasor alemão.

 Na contemporaneidade, mulheres que não tinham as narradas belezas e as sensualidades de Judite e de Joana, exerceram um comando forte sobre os seus países, que determinou mudanças profundas feitas, por exemplo, pela primeira-ministra britânica Margaret Thatcher (1925) e por Michelle Bachelet, presidente da República do Chile, entre os anos de 2006 e 2010.

Bachelet , que havia sido presa e torturada pelos militares chilenos, em 1975, dentro do ambiente da ditadura do general Pinochet,  anos depois,  dentro da democracia chilena reconquistada,  foi a comandante em chefe dos militares de seu país. 

As narrativas sobre as comandantes vitoriosas como Margaret Thatcher e Michelle Bachelet são colocadas, na maior parte das vezes, como exóticas.  O clichê “Dama de Ferro” pelo qual era conhecida Thatcher é uma prova disso.   Para uma sociedade machista, à direita e à esquerda, só uma mulher dura, feita de um material siderúrgico, poderia promover reformas ou revoluções. Nesse mesmo enquadramento mental, surge sempre a figura de um homem que tutela a marionete mulher que exerce o poder institucionalmente.  Imaginem, então, como são enquadradas aquelas chefes-mulheres solteiras ou casadas com desconhecidos ou ainda, aquelas que vivem os seus segundos ou terceiros casamentos.  O raciocínio social binário, trabalhado pelo chamado marketing político, com certeza, terá dificuldade em categorizar as comandantes viúvas.


O marketing político é masculino e reacionário

O contexto eleitoral é criador de identidades fortes e reacionárias sobre homens e mulheres.  É produtor de uma conversa reduzida que não tem meio tom. Homens e mulheres reais não fazem parte dele.  O discurso e ação eleitoral (muitas vezes, também, da comunicação da empresa e da instituição) cumprem estratégias centradas em construir oponentes, em combater e eliminar inimigos.  O marketing político é inimigo da democracia. É inimigo das mulheres, dos homens, das crianças e dos desvalidos. O marketing eleitoral devora valores como a compreensão, o entendimento, a solidariedade e a cidadania.  O ringue político deseduca.  A ágora, ao contrário, educa.

Neste contexto, eleição é uma situação que não admite neutralidade.  É criador de um ambiente onde não é possível conviver, compartilhar, co-criar, comunicar, conversar, colaborar, ser comensal.

O marketing político é uma escola de guerra, inclusive contra as mulheres.


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