O Diálogo nas Organizações Contemporâneas
São inúmeros os processos comunicacionais que se desenvolvem nos ambientes organizacionais. A perspectiva processual enfatiza o uso das representações na pratica e a consequente constituição comunicativa de tal conhecimento (TSOUKAS, 2011, p. xvii). O diálogo tem efeitos constitutivos porque, por meio dele, os indivíduos constroem ou criam realidades sociais. Assim, nas organizações, os indivíduos se engajam em práticas sociais, negociando significados e construindo o mundo, ao mesmo tempo em que também são construídos por eles. Humanos criam conhecimento por meio das praticas sociais as quais variam de acordo com o contexto sócio histórico. A abordagem teórica que se depreende é a do diálogo visto como uma forma de prática social.
O diálogo é um processo de interação que oportuniza a possibilidade de influenciar o curso dos acontecimentos (Shotter, 2006, apud Brundin et al., 2008). Entender o diálogo como uma prática social nas organizações nos leva ao questionamento: o diálogo é um processo que facilita ou dificulta a construção do conhecimento nas organizações? Gorz (2005) sugere a criação de formas de saber – não substituíveis e não formalizáveis – reconstruídos nos diferentes discursos que permeiam os espaços organizacionais. “O saber da experiência, o discernimento, a capacidade de coordenação, de auto-organização e de comunicação /.../ formas de um saber vivo, adquirido no transito do cotidiano (GORZ, 2005, p. 9).
A “ordem da interação” (GOFFMAN, 1983; 1987) é o espaço onde as representações são promulgadas. Para Tsoukas (2011, p. xiv) “as representações e os significados são instanciados através da pragmática da ação humana”. O conhecimento organizacional é alcançado por meio de processos de representação, significação e improvisação (TSOUKAS, 2011). Os atores organizacionais, orientados pelos discursos, modificam parte de suas referências e de seus papéis, modelam suas práticas e executam seus trabalhos” (WAIANDT e DAVEL, 2008, p. 387).
Segundo Arendt (2008, p. 191), o homem ao agir tem a capacidade de “realizar o infinitamente improvável”. Expõe Arendt (2008, p. 191-192):
/.../ Sem o discurso, a ação deixaria de ser ação, pois não haveria o ator; e o ator, o agente do ato, só é possível se for, ao mesmo tempo, o autor das palavras. /.../ Nenhuma outra atividade humana precisa tanto do discurso quanto a ação. Na ação e no discurso os homens mostram quem são, revelam ativamente suas identidades pessoais e singulares, e assim apresentam-se ao mundo humano.
É na convivência humana que o discurso se revela. As organizações são construções discursivas porque o discurso é a real fundação sobre a qual a vida organizacional é construída (FAIRHURST & PUTNAM, 2010). Taylor (2004) sugere que a atitude em comunicação se dá como um fenômeno discursivo, o que torna primordial olhar nas propriedades de linguagem que são trazidas no jogo de tal comunicação, sendo três fatores fundamentais nesse processo: contexto, interação e a habilidade das pessoas, o que envolve interação verbal para o desempenho das pessoas nos ambientes organizacionais.
O diálogo é referenciado como uma propriedade formal da “fala espontânea” e que por meio dele as pessoas se organizam (TAYLOR e ROBICHAUD, 2004, p. 399). “Tomar as práticas discursivas enquanto “interações comunicativas” significa enfatizar a presença dos sujeitos interlocutores e tomar as interfaces discursivas como momentos de negociação” (FRANÇA, 2005, p. 95) para a criação do conhecimento. O diálogo legitimiza a experiência de cada pessoa a partir da conexão com outras para determinar o que conta como conhecimento (Marchiori, 2008, p. 200). Enfim, entende-se que o diálogo tem na sua essência a busca da verdade, o cultivar o “não saber” e o vir a conhecer em relacionamentos (SOCRATES, apud LEAHY, 2001).
Referências
ARENDT, H. A condição humana. 10. Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
BRUNDIN, E.; MELIN, L.; NORDQVIST, M. Strategic dialogue as an important practice of strategizing. Paper presented at the 24th EGOS Colloquium, Amsterdam, Julho, 2008.
FAIRHURST, G.; PUTNAM, L. Organizações como construções discursivas. In: Marchiori, Marlene. (Organizadora) Comunicação e organização: reflexões, processos e práticas. São Caetano: Difusão, 2010, p. 103-148.
FRANÇA, Vera R. V. Problemas metodológicos e conceituais na análise de programas populares de TV. In: CAPPARELLI, Sérgio; SODRÉ, Muniz; SQUIRRA, Sebastião. A Comunicação revisitada. Porto Alegre: Editora Sulina, 2005. p. 85-118
GOFFMAN, E. The interaction order. In: Lemert, C.; Branaman, A. (Editors) The Goffman reader. Malden, MA: Blackwell, 1983/1997, p. 233-261.
GORZ, A. O imaterial: conhecimento, valor e capital. São Paulo: Annablume, 2005.
LEAHY, M. J. The heart of dialogue. The Fielding Institute. Dissertation: Bell & Howell Information and Learning Company. UMI Number 3022121, 2001.
MARCHIORI, M. Cultura e comunicação organizacional: um olhar estratégico sobre a organização. (2. Ed.) São Caetano do Sul: Difusão, 2008.
SHOTTER, J. On the edge of social constructionism: withness-thinking versus aboutness-thinking. London: KCC Foundation, 2004.
TAYLOR, James R.; ROBICHAUD, Daniel. Finding the organization in the communication: discourse as action and sensemaking. Organization, v. 11, n. 3, 2004, p. 395-413
TSOUKAS, H. Foreword: representation, signification, improvisation – a three-dimensional view of organizational knowledge. In: Canary, H.; McPhee, R. D. (Editors) Communication and organizational knowledge: contemporary issues for theory and practice. New York: Routledge, 2011, p. x-xix.
WAIANDT, C.; DAVEL, E. Organizações, representações e sincretismo: a experiência de uma empresa familiar que enfrente mudanças e sucessões de gestão. Revista de Administração Contemporânea, v12,n2, p. 369-394, 2008.
Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje
e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1982
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