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Marlene Marchiori


Concluiu o pós-doutorado em Comunicação Organizacional na Brian Lamb School of Communication, da Purdue University, nos Estados Unidos. Doutora pela Universidade de São Paulo (USP), com estudos desenvolvidos no Theory, Culture and Society Centre da Notthingham Trent University, no Reino Unido. Graduada em Administração e em Comunicação Social – Relações Públicas, Marlene é pesquisadora líder do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) nos grupos de estudos Cultura e Comunicação Organizacional (Gefacescom) e Comunicação Organizacional e Relações Públicas: perspectivas teóricas e práticas no campo estratégico (Gecorp). Professora sênior da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Autora do livro Cultura e comunicação organizacional: um olhar estratégico sobre a organização, e organizadora das obras Comunicação e Organização: reflexões, processos e práticas; Redes sociais, comunicação, organizações; Comunicação, discurso, organizações; e da Coleção Faces da cultura e da comunicação organizacional.

O Diálogo nas Organizações Contemporâneas

              Publicado em 13/09/2010

São inúmeros os processos comunicacionais que se desenvolvem nos ambientes organizacionais. A perspectiva processual enfatiza o uso das representações na pratica e a consequente constituição comunicativa de tal conhecimento (TSOUKAS, 2011, p. xvii). O diálogo tem efeitos constitutivos porque, por meio dele, os indivíduos constroem ou criam realidades sociais. Assim, nas organizações, os indivíduos se engajam em práticas sociais, negociando significados e construindo o mundo, ao mesmo tempo em que também são construídos por eles. Humanos criam conhecimento por meio das praticas sociais as quais variam de acordo com o contexto sócio histórico. A abordagem teórica que se depreende é a do diálogo visto como uma forma de prática social. 

O diálogo é um processo de interação que oportuniza a possibilidade de influenciar o curso dos acontecimentos (Shotter, 2006, apud Brundin et al., 2008). Entender o diálogo como uma prática social nas organizações nos leva ao questionamento: o diálogo é um processo que facilita ou dificulta a construção do conhecimento nas organizações? Gorz (2005) sugere a criação de formas de saber – não substituíveis e não formalizáveis – reconstruídos nos diferentes discursos que permeiam os espaços organizacionais. “O saber da experiência, o discernimento, a capacidade de coordenação, de auto-organização e de comunicação /.../ formas de um saber vivo, adquirido no transito do cotidiano (GORZ, 2005, p. 9).

A “ordem da interação” (GOFFMAN, 1983; 1987) é o espaço onde as representações são promulgadas. Para Tsoukas (2011, p. xiv) “as representações e os significados são instanciados através da pragmática da ação humana”. O conhecimento organizacional é alcançado por meio de processos de representação, significação e improvisação (TSOUKAS, 2011). Os atores organizacionais, orientados pelos discursos, modificam parte de suas referências e de seus papéis, modelam suas práticas e executam seus trabalhos” (WAIANDT e DAVEL, 2008,  p. 387).
Segundo Arendt (2008, p. 191), o homem ao agir tem a capacidade de “realizar o infinitamente improvável”. Expõe Arendt (2008, p. 191-192):

/.../ Sem o discurso, a ação deixaria de ser ação, pois não haveria o ator; e o ator, o agente do ato, só é possível se for, ao mesmo tempo, o autor das palavras. /.../ Nenhuma outra atividade humana precisa tanto do discurso quanto a ação. Na ação e no discurso os homens mostram quem são, revelam ativamente suas identidades pessoais e singulares, e assim apresentam-se ao mundo humano.

É na convivência humana que o discurso se revela. As organizações são construções discursivas porque o discurso é a real fundação sobre a qual a vida organizacional é construída (FAIRHURST & PUTNAM, 2010). Taylor (2004) sugere que a atitude em comunicação se dá como um fenômeno discursivo, o que torna primordial olhar nas propriedades de linguagem que são trazidas no jogo de tal comunicação, sendo três fatores fundamentais nesse processo: contexto, interação e a habilidade das pessoas, o que envolve interação verbal para o desempenho das pessoas nos ambientes organizacionais.

O diálogo é referenciado como uma propriedade formal da “fala espontânea” e que por meio dele as pessoas se organizam (TAYLOR e ROBICHAUD, 2004, p. 399). “Tomar as práticas discursivas enquanto “interações comunicativas” significa enfatizar a presença dos sujeitos interlocutores e tomar as interfaces discursivas como momentos de negociação” (FRANÇA, 2005, p. 95) para a criação do conhecimento. O diálogo legitimiza a experiência de cada pessoa a partir da conexão com outras para determinar o que conta como conhecimento (Marchiori, 2008, p. 200). Enfim, entende-se que o diálogo tem na sua essência a busca da verdade, o cultivar o “não saber” e o vir a conhecer em relacionamentos (SOCRATES, apud LEAHY, 2001).


Referências

ARENDT, H. A condição humana. 10. Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.

BRUNDIN, E.; MELIN, L.; NORDQVIST, M. Strategic dialogue as an important practice of strategizing. Paper presented at the 24th EGOS Colloquium, Amsterdam, Julho, 2008.

FAIRHURST, G.; PUTNAM, L. Organizações como construções discursivas. In: Marchiori, Marlene. (Organizadora) Comunicação e organização: reflexões, processos e práticas. São Caetano: Difusão, 2010, p. 103-148.

FRANÇA, Vera R. V. Problemas metodológicos e conceituais na análise de programas populares de TV. In: CAPPARELLI, Sérgio; SODRÉ, Muniz; SQUIRRA, Sebastião. A Comunicação revisitada. Porto Alegre: Editora Sulina, 2005. p. 85-118

GOFFMAN, E. The interaction order. In: Lemert, C.; Branaman, A. (Editors) The Goffman reader. Malden, MA: Blackwell, 1983/1997, p. 233-261.

GORZ, A. O imaterial: conhecimento, valor e capital. São Paulo: Annablume, 2005.

LEAHY, M. J. The heart of dialogue. The Fielding Institute. Dissertation: Bell & Howell Information and Learning Company. UMI Number 3022121, 2001.

MARCHIORI, M. Cultura e comunicação organizacional: um olhar estratégico sobre a organização. (2. Ed.) São Caetano do Sul: Difusão, 2008.

SHOTTER, J. On the edge of social constructionism: withness-thinking versus aboutness-thinking. London: KCC Foundation, 2004.

TAYLOR, James R.; ROBICHAUD, Daniel. Finding the organization in the communication: discourse as action and sensemaking. Organization, v. 11, n. 3, 2004, p. 395-413

TSOUKAS, H. Foreword: representation, signification, improvisation – a three-dimensional view of organizational knowledge. In: Canary, H.; McPhee, R. D. (Editors) Communication and organizational knowledge: contemporary issues for theory and practice. New York: Routledge, 2011, p. x-xix.

WAIANDT, C.; DAVEL, E. Organizações, representações e sincretismo: a experiência de uma empresa familiar que enfrente mudanças e sucessões de gestão. Revista de Administração Contemporânea, v12,n2, p. 369-394, 2008.


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