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COLUNAS


Marlene Marchiori


Concluiu o pós-doutorado em Comunicação Organizacional na Brian Lamb School of Communication, da Purdue University, nos Estados Unidos. Doutora pela Universidade de São Paulo (USP), com estudos desenvolvidos no Theory, Culture and Society Centre da Notthingham Trent University, no Reino Unido. Graduada em Administração e em Comunicação Social – Relações Públicas, Marlene é pesquisadora líder do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) nos grupos de estudos Cultura e Comunicação Organizacional (Gefacescom) e Comunicação Organizacional e Relações Públicas: perspectivas teóricas e práticas no campo estratégico (Gecorp). Professora sênior da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Autora do livro Cultura e comunicação organizacional: um olhar estratégico sobre a organização, e organizadora das obras Comunicação e Organização: reflexões, processos e práticas; Redes sociais, comunicação, organizações; Comunicação, discurso, organizações; e da Coleção Faces da cultura e da comunicação organizacional.

O binômio comunicação-trabalho como uma proposta humanizadora das organizações contemporâneas.

              Publicado em 20/05/2015

* texto de Érik Fernandes e Marlene Marchiori

 

Em nossa discussão de hoje para a Coluna Aberje, partimos da premissa da comunicação como expressão da humanização nas organizações da contemporaneidade (MARCHIORI, 2010) e sugerimos uma reflexão sobre o significado do trabalho dentro dessas organizações, nas quais o binômio comunicação-trabalho surge como uma perspectiva que reforça o princípio humanizador das organizações.

Continuamente, as organizações têm sofrido modificações e o trabalho tem sido alterado junto delas, se tornando heterogêneo, fragmentado e complexo, demandando cada vez mais dos sujeitos dentro das organizações (ANTUNES, 2009). Estes por sua vez, passaram a diminuir gradativamente as reflexões sobre o significado do trabalho em suas vidas e como resultado, houve um afastamento entre a essência (como princípio gerador de sentido à vida) e os aspectos estruturais (conhecimentos, ferramentas, modelos, entre outros) do trabalho.

Esse afastamento se reflete no entendimento limitado sobre premência do trabalho na vida das pessoas. Sendo que dentro desse contexto, o trabalho se tornou sinônimo de emprego e tem suas práticas orientadas pelo viés econômico, sendo definido pela relação de troca entre mão de obra e salário.

Com sua essência afastada da realidade, as reflexões sobre seu significado foram paralisadas e isso conduziu aos questionamentos sobre a centralidade do trabalho nas organizações contemporâneas. Aliado a isso, temos o papel que a comunicação exerce na reconfiguração das relações de produção e consequentemente do mundo do trabalho (FIGARO, 2008). Neste mundo, a comunicação permeia todos os significados produzidos, de modo que ela acaba regulando as relações de poder (MUMBY, 2013), para que estas não moldem livremente os significados do mundo do trabalho.

Quando essa comunicação é instrumentalizada, o poder se sobrepõe na significação do trabalho, passando a fazer sentido na vida das pessoas e orientando-as. Com isso a relação comunicação-poder adquire importância nas organizações contemporâneas, enquanto que a relação comunicação-trabalho perde seu valor, não apenas monetário, mas social e sua banalização tal como é atualmente, é inevitável.

Entretanto essa relação comunicação-trabalho foi estabelecida quando o homem se tornou um ser social (ANTUNES, 2009). Assim o trabalho no seu sentido amplo, é o ato laborativo de produzir coisas úteis a partir da relação homem-natureza. Quando esse ato laborativo passa a depender da cooperação de outras pessoas, ele origina o que se chama de prática social interativa, na qual o trabalho passa a compreender a relação entre esses sujeitos e a deles para com a natureza. Dessa forma, a prática social interativa pode ser entendida como uma prática social comunicativa, que requisita os sujeitos em processos comunicacionais, para que sejam capazes de se coordenarem dentro dessas práticas (ANTUNES, 2009).

Dessa forma, o binômio comunicação-trabalho é um processo de humanização e socialização entre as pessoas, que transforma o homem enquanto ser natural (espécie), em um ser social, no qual a consciência adquire um novo patamar, deixando de se centrar na reprodução biológica e passando a refletir sobre as necessidades de realização contínua e sobre como se produzir e reproduzir enquanto organização. Portanto, é exatamente quando esse sujeito constituído socialmente, busca dar sentido à vida, que a comunicação-trabalho surge como sua primeira realização (ANTUNES, 2009).

A partir dessa perspectiva, entende-se que essência e aspectos estruturais do trabalho não se encontram dissociados, mas interligados na própria evolução histórica do trabalho e, portanto, necessitam de um caminho para reaproxima-los. Nesse sentido, o binômio comunicação-trabalho, surge como uma possibilidade, que ao mesmo tempo é a força motriz do sistema hegemônico e também da transformação da realidade (FIGARO, 2008).

Nesse sentido, ao centrarmos na relação comunicação-trabalho, evidenciamos seu papel fundamental para o processo de humanização e socialização dos sujeitos no mundo do trabalho, restabelecendo o sentido da vida e as conexões entre a fala, a cultura, a política, as crenças, os valores, enfim, os próprios aspectos que sustentam as organizações. A partir disso, esses sujeitos passam a refletir sobre a sua relação com a natureza e com os outros sujeitos, de forma consciente e autônoma, o que modifica suas práticas sociais interativas.

Logicamente que reaproximar a essência do trabalho do seu aspecto estrutural, junto com uma comunicação não instrumentalizada, não é uma tarefa das mais simples e mesmo sua realização, não resolveriam todos os problemas, mas permitiriam que no mínimo que a organização partisse para enfrentar seus desafios, a partir de um outro patamar, mais processual, dialógico, experiencial e experimental, onde os sujeitos são conscientes e capazes de reconhecer as implicações de suas ações.

Apesar dessa clara dificuldade, o debate sobre a reestruturação do trabalho já está em curso no âmbito das organizações, onde “há um grande esforço para alterar as bases ideológicas de significados das práticas sociais concretas que se exercem no cotidiano do trabalho” (FIGARO, 2008, p. 29). Portanto, pode-se considerar que o binômio comunicação-trabalho, potencializa a humanização do homem, transfigurando-o para um ser social capaz de colaborar amplamente com a organização.

 

Referências Bibliográficas

ANTUNES, R. Os Sentidos do Trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 2 ed. São Paulo: Boitempo, 2009.

FIGARO, R. Relações de comunicação no mundo do trabalho. São Paulo: Annablume, 2008. 160 p.

MARCHIORI, M. Comunicação como expressão da humanização nas organizações contemporaneas. In: KUNSCH, M. M. K. (Org.). A Comunicação como Fator de Humanização das Organizações. São Caetano do Sul: Difusão, 2010, v. 3. p. 139-157.

MUMBY, D. K. Comunicação, organização e poder. In: MARCHIORI, M. (Org.). Faces da Cultura e da Comunicação Organizacional: perspectivas metateóricas da cultura e da comunicação. São Caetano do Sul: Difusão, 2013. v. 3. p. 83-103.


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