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COLUNAS


Cristina Panella
cristina@cristinapanella.com.br

Diretora de Cristina Panella Planejamento e Pesquisa. Cristina Panella é Doutora em Sociologia com ênfase em Comunicação pela E.H.E.S.S. – Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, Mestre em Antropologia Social e Cultural pela Sorbonne (Université René Descartes – Paris V) e Mestre em Formação à Pesquisa em Ciências Sociais, também pela E.H.E.S.S. Também é professora convidada da ECA – USP e tem experiência nacional e internacional na área de consultoria de comunicação e marketing, pesquisa de imagem e reputação, mercado e opinião. Dedica-se, atualmente, ao desenvolvimento de abordagens e metodologias expressas em indicadores e índices que enriqueçam o planejamento, a pesquisa e a comunicação.

Observação: O segredo da (boa) Pesquisa

              Publicado em 15/06/2010

O aquecimento do debate eleitoral em face da confirmação das principais candidaturas traz novamente à cena as discussões sobre as pesquisas político-eleitorais. O momento é, portanto, propício a trazer para nossa discussão algumas das características intrínsecas ao ofício da pesquisa, ofício esse reclamado por muitos, em vias de regulamentação¹.

Acirram-se as discussões sobre a credibilidade – não dos políticos, nesse caso – mas dos institutos de pesquisa, perdendo-se de vista as razões históricas (políticas) e técnicas (métodos) que explicam a performance de cada um. Falar um pouco sobre essa questão representa a oportunidade de discutirmos as características básicas da pesquisa na área de ciências humanas.

Costumo afirmar que o verdadeiro calcanhar de Aquiles da pesquisa é a observação, ou seja, a coleta dos dados. Qualquer outra falha no processo – na codificação, na tabulação, no processamento, na descrição ou na interpretação dos dados pode ser sanada. Com exceção da falha na observação. Se o dado a observar não for coletado corretamente, só há uma coisa a fazer: recomeçar a pesquisa do zero. Há diversas razões para isso – e terei a ocasião de falar sobre elas - mas duas características, intrínsecas ao ofício do pesquisador, parecem-me fundamentais. Não se deixe enganar pela obviedade das afirmações contidas nos títulos. Vejamos:


1. O objeto a observar é humano

E isso não é uma coisa simples. Nas ciências naturais, a observação se vale de instrumentos de medida físicos que excluem a possibilidade de influência humana exterior. Esse não é o caso das ciências humanas. No exemplo clássico, em uma sala de aula com temperatura a 20º, dois indivíduos que venham, um de um ambiente mais frio (uma câmara frigorífica, por exemplo, a 0º) e outro de um ambiente bastante mais quente (uma sala de fundição a 30º) estarão de acordo sobre a temperatura da sala (e o termômetro estará lá para comprovar). No entanto o fato de sentirem calor ou frio – não dispondo de nenhum elemento de medida externa – deverá ser considerado igualmente verdadeiro! A importância do declarativo (e voltarei a ela quando conversarmos sobre percepções e sobre indicadores) é questão central na análise de resultados (principalmente nas pesquisas sobre comunicação interna)



2. O observador também é um ser humano

Na ausência de instrumentos de medida físicos, muitas vezes é o próprio observador que funciona como instrumento de medida – acarretando riscos de interferência de sua própria personalidade (bem como de pré-conceitos e pré-noções) sobre os resultados da observação. E esta é uma das principais dificuldades quando se fala em observação na área das Ciências Humanas. Donde a preocupação dos profissionais e associações do setor²  em qualificar os pesquisadores de campo. A objetividade do pesquisador é, portanto, questão central na qualidade da pesquisa.

Voltando às pesquisas política, dois dos principais institutos brasileiros - IBOPE e DATAFOLHA - utilizam procedimentos metodológicos diferenciados na seleção dos respondentes, mas já bastante provados. Tendem, também, a aproximar as datas das diferentes tomadas (o chamado “campo”), assim como encurtá-las ao máximo, sabedores que são do fato da pesquisa de opinião ser considerada uma fotografia instantânea que capta, também, as oscilações provenientes da exposição maior ou menor dos candidatos. O que, em hipótese alguma delimita seu valor: a análise da série histórica (e das médias móveis que hoje os jornais trazem) é excelente subsídio para o entendimento da opinião.  Pode-se esperar pouca diferença entres os resultados apresentados na fase que antecede o voto real - mas grandes diferenças surgem nas pesquisas de boca-de-urna (função, muitas vezes, de apostas diferenciadas sobre as regiões cobertas).

Imaginem, então, a importância da observação daquele pesquisador de campo – o entrevistador – quando solto com os questionários em punho. Qualquer entonação diferenciada pode provocar respostas diferenciadas. Supervisores e analistas se debruçarão sobre a consistência das respostas sem dúvida. Ainda assim, todo o trabalho técnico e analítico que será realizado dependerá dessa etapa inicial e fundamental: a observação.
 

 

¹ - O projeto de lei – o PL 609/2007 de Regulamentação da Profissão de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia, de autoria do dep. Luiz Sérgio, do PT o último dia 18 de maio e segue para o Senado, para apreciação e aprovação de duas comissões, e para a sanção presidencial

² - Caso da ASBPM e da ABEP, principalmente.


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