Belo Monte, belo exemplo
A usina hidrelétrica de Belo Monte foi planejada para ser a terceira do mundo em geração de energia. Mas, em termos de geração de polêmica, confusão e incertezas, nenhuma se iguala a ela no momento. Há questionamentos quanto à real necessidade da sua construção, já que para alguns especialistas o atendimento da região poderia ser feito por outras fontes e, ao invés de estabelecer novas usinas, seria mais importante investir no combate às perdas. Há quem duvide dos orçamentos apresentados, apostando que o custo deverá ir muito além dos R$ 19 bilhões sugeridos até agora. Há intenso debate quanto ao modelo adotado pelo governo, impondo uma precificação de tarifa considerada irreal e constituindo uma nova empresa estatal para viabilizar o projeto com generosos incentivos fiscais e financiamentos do banco oficial de desenvolvimento. Há até suspeitas quanto a integrantes do consórcio vencedor. O grupo privado com a segunda maior participação, de acordo com o jornal O Globo, “deixou um rastro de denúncias de crimes ambientais e trabalhistas pelo país” e responde a processos em pelo menos quatro estados: Pará, Tocantins, São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Pode-se dizer que três aspectos principais turbinam a discussão. O porte da obra é um. A escavação necessária para remoção de terra e rochas é tão volumosa que tem sido comparada à da construção do Canal do Panamá. Calcula-se que o concreto a ser utilizado seria suficiente para erguer dois Maracanãs em cada uma das 12 capitais que vão sediar a Copa 2014 no Brasil. O momento político também interfere. Do ponto de vista do governo, Belo Monte é considerada estratégica para evitar um novo apagão e levar luz para mais de 22 milhões de lares brasileiros - além de ser a maior obra do PAC, a marca registrada do governo Lula. Para a oposição, Belo Monte envolveria mais preocupações eleitorais do que a estruturação da matriz energética do País. Em terceiro, a localização. Belo Monte ficará no Rio Xingu, um dos principais afluentes do venerado Rio Amazonas, e vai impactar a vida de várias de milhares de pessoas, incluindo povos indígenas, e de milhões de espécies animais, vegetais e minerais em uma dezena de municípios com nomes desconhecidos ou estranhos para a maioria dos brasileiros, mas em plena Amazônia, o precioso patrimônio de biodiversidade do planeta.
A polêmica em torno do projeto é um belo exemplo de como o desencontro entre as demandas sociais e ambientais do presente e a indiferença de governantes e empresários com o tema sustentabilidade torna-se fator de insegurança para a sociedade, inclusive, para os próprios empresários e governantes. Se há uma coisa certa em relação a Belo Monte é que o processo continuará tumultuado. Protestos, pressões, mandados de segurança e liminares não serão barrados com a facilidade com que se costumava desviar cursos de rios e alagar comunidades no passado.
Há um novo cenário pela frente, no qual as mudanças climáticas e o aquecimento global são fenômenos reais que ameaçam a estabilidade do planeta e preocupam todos que têm um mínimo de responsabilidade em relação ao futuro. Impossível imaginar que um empreendimento do porte de Belo Monte, no santuário amazônico, não vá ser confrontado por ONGs articuladas internacionalmente e caciques empunhando tacapes em defesa do território de suas aldeias. A mobilização de ativistas ambientais, cientistas e entidades civis, como a que está em torno de Belo Monte, são legítimas e tendem a se tornar cada vez mais freqüentes. Há um movimento crescente de tomada de consciência sobre a exaustão e a deterioração dos recursos naturais do planeta. Sustentabilidade vista de um modo transversal, preservação de florestas, entre as quais a Amazônia é o ícone mundial, conservação de mananciais de recursos hídricos, controle da emissão de carbono e equilíbrio dos ecossistemas não são mais apenas bandeiras de ativistas ambientais ou temas de estudos acadêmicos. Para uma parte da sociedade (ainda pequena, mas em expansão) isto começa a ser adotado como princípio a ser refletido em suas atitudes do dia a dia. E empresas modernas começam a incorporar as mesmas preocupações na sua estratégia de negócios.
A época em que empreendimentos eram avaliados pela sociedade considerando-se apenas os indicadores econômicos já passou. Criação de empregos, geração de renda e oportunidades de desenvolvimento serão sempre bem vindas. Mas os impactos socioambientais também serão considerados. Governo e empreendedores precisam entender este novo momento. Hoje não basta prometer desenvolvimento, é preciso assegurar desenvolvimento com sustentabilidade.
E o exemplo de Belo Monte mostra exibir uma licença ambiental do órgão oficial também não basta. Além de cumprir formalidades legais é necessário mostrar sensibilidade e comprometimento com novos paradigmas socioambientais.
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