A escravidão, a ditadura, Dunga e o media training
Como milhões de brasileiros, acompanhei pela televisão o evento organizado pela Confederação Brasileira de Futebol para divulgar a relação dos jogadores convocados para defender o Brasil na Copa do Mundo da África e a entrevista coletiva com Dunga, o treinador da seleção.
Lamentei em perceber que mesmo depois de tanto tempo como treinador da seleção, Dunga continua mal preparado para lidar com entrevistas coletivas.
Atualmente, a comunicação é estratégia e parte do arsenal de gestão corporativa. E a grande maioria das organizações entende que treinar seus executivos sobre como se comportar perante a mídia é importante para a construção de valor e manutenção da reputação da marca.
Media training é um treinamento que capacita os executivos e colaboradores-chave a representarem as organizações perante a opinião pública e o Dunga precisa de media training para adquirir mais segurança no trato com os meios de comunicação e compreender que, quando está em contato com a mídia, ele está representando a imagem, os valores e as crenças de uma organização que mexe com o emocional de milhões de brasileiros apaixonados pela seleção e principalmente, o nosso treinador precisa ser avisado que existem alguns temas históricos que não admitem equívocos e exigem muito cuidado no trato.
Longe de querer comentar aqui sobre as escolhas de Dunga para a copa 2010 dois fatos relacionados a entrevista me chamaram a atenção.
Utilizando um raciocínio desprovido de sensibilidade, Dunga argumentou que não poderia opinar sobre algo que não havia vivenciado e disse: “Quem não viveu a época da escravidão não pode falar se era boa ou não!” e também afirmou “(…)do mesmo modo que a ditadura, quem não viveu a época não pode saber se era boa ou ruim”.
Em outras entrevistas Dunga já se atrapalhou com palavras e expressões simples (“isso é com nós”, por exemplo, ele já usou diversas vezes), mas o pensamento externado por ele dessa vez ultrapassa o limite do aceitável, pois leva à omissão de juízo, o que muitas vezes equivale a inocentar, mesmo sem intenção direta, qualquer tipo de atrocidade ou injustiça cometida contra quem quer que seja, desde que a pessoa não tenha “vivido a época”.
Constatar que Dunga é capaz de cometer tamanho deslize em uma das entrevistas coletivas mais esperadas do ano foi só a metade do meu espanto, pois esse fato ficou praticamente fora das pautas da maioria dos grandes veículos, simplesmente porque o tema convocação ocupou as redações durante todo o dia.
Sei que somos apaixonados por futebol e que a convocação da seleção para uma Copa, ainda mais com a polêmica sobre a não convocação de Ganso e Neymar, seria motivo para milhares de análises, comentários, previsões e declarações fortes, mas, sinceramente, ficoi um tanto desapontado e frustrado com o fato da imprensa “aliviar” para Dunga por conta da grande curiosidade sobre os convocados.
Para utilizar de expressões comuns no futebol, a fala de Dunga sobre a escravidão e sobre a ditadura “passou em branco”, ou seja, não gerou nenhuma manifestação contrária por parte da imprensa e “ficou por isso mesmo”.
Lamento também que Dunga tenha dito tamanha bobagem sobre a escravidão tão perto do 13 de maio, data em que se comemora justamente a assinatura da Lei Áurea e abolição da escravidão no Brasil. Um verdadeiro chute na canela de todos que prezam pela história em nosso país.
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