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COLUNAS


Mauricio Felício
contato@feliciocomunicacao.com.br

Sócio Presidente da Felício Comunicação, atua em consultoria, gestão e treinamento em comunicação empresarial e Business Intelligence. Formado em Relações Públicas pela USP, onde atualmente participa do programa de mestrado e é Professor conferencista para a graduação, com MBA em Gestão de Comunicação e Marketing pela mesma instituição (USP em parceria com a Florida University)."

 

Seu colaborador tem identidade?

              Publicado em 29/04/2010

As estratégias de comunicação para envolver o colaborador são incontáveis. Umas mais elaboradas, outras mais simplórias, mas em sua grande maioria voltadas a informar ou a formar os nossos colaboradores.

Atualmente temos nos deparado com o conceito do Educomunicador, um profissional que não se limita à comunicação circunscrita nos níveis informativo, interpretativo e opinativo. Sua missão é ir além, educar, conduzir, cooperar, mudar atitudes e potencializar alterações do estado das coisas, ou no bom latim, alterar o status quo.

Mas sempre há um porém. Formar, educar, comunicar, relacionar, interferir. Todas ações políticas. Todas ações que visam um fim, ações de troca, de negociação de valores e significados. O problema está em fazê-lo de forma excessivamente incisiva, violando a liberdade e liberalidade do colaborador.

Este debate toca uma questão importante, mas que por muito tempo foi negligenciada. Concorremos com muitas fontes de informação para manter a atenção dos nossos colaboradores. Então a tática é a quantidade, a comunicação integrada, o mix de comunicação alinhado, estratégico e sem ruído. Em outras palavras, tudo muito liso e limpo.

Nossos colaboradores já dedicam nove horas diárias às corporações, quando não muito mais. Privados da companhia familiar em troca de bons soldos, exigimos deles atenção, fidelidade, comprometimento etc.

Então, um belo dia, decidimos que não é suficiente tentar formatá-lo no período em que ele está na empresa, precisamos atingir sua família. Uma ótima idéia. Vamos criar uma revista corporativa e mandar para a casa de todos os colaboradores, assim seus filhos lêem, sua mulher pergunta mais sobre o que seu marido faz. Perfeito.

Isso pode ser um ponto positivo, se, e somente se, esta for a vontade e o interesse específico das pessoas envolvidas, e nisso, é um tanto quanto óbvio, leva-se em conta o próprio colaborador.

De uma forma mais direta, pense que estamos limando, lixando a identidade dos nossos colaboradores. Nove horas uniformizados, vestidos com roupas que nunca fizeram parte da cultura deste país, ouvindo e lidando com interesses de terceiros, da empresa, da comunidade, da sociedade, e quando ele tem um tempo para cuidar de si e daqueles que mais valoriza, ganha de presente mais informação sobre a empresa, mais perguntas, mais respostas. Até as nossas paredes estão desaparecendo em nome da dita "transparência"¹, criando ambientes ainda mais proibitivos às manifestações identitárias.

Vai dizer que você não tem nenhum amigo que, depois de fazer uma tatuagem, teve que ouvir de alguém que não deveria ter feito isso, pois as empresas não aceitam bem este tipo de coisa.

Não me lembro de ter ouvido alguém se queixar explicitamente de ter sido retirado de um processo seletivo por ser tatuado, ou por ser emo, ou qualquer outro motivo desta monta, mas o "não gostar de muitas empresas" recai, ainda hoje, não sobre opções específicas, mas sobre a falta de neutralidade, sobre o excesso de rugas, de ruídos, de complexidade e profundidade.

Até o futebol agora é patrocinado pela empresa. Grupos de corrida, tênis, aulas de inglês em grupo. E com isso, some mais algumas horinhas vendo as mesmas pessoas e agindo como se o crachá ainda estivesse pendurado na lapela.

Mesmo nos esforçando para conquistar o engajamento dos nossos colaboradores, precisamos estar atentos ao excesso, que pode ser tão ou mais prejudicial do que a falta de comunicação.

Nesta inundação comunicativa, podemos ser nós os agentes que favorecem e potencializam a contracultura. Os responsáveis parciais pelo desânimo e pela rejeição da própria comunicação.

Imagine se fosse o oposto. Se o colaborador resolvesse levar as metas e objetivos de sua esposa para o trabalho, fizesse reuniões com seus subordinados para discutir planos emergenciais a fim de contornar as baixas notas de seus filhos no último ciclo.

Melhor ainda, que todas as reuniões com seu chefe fossem realizadas na creche, pois ele está fazendo hora extra como pai, sabe, muita coisa para fazer, os filhos crescem rápido e as metas estão batendo à porta.

Parece patético, mas nos acostumamos tanto com o fluxo e com a pressão que já não se dá conta da inversão feita, dia a dia, na vida das pessoas.

Nosso papel? Pesquisar, avaliar, planejar, conduzir, gerir, priorizar, filtrar, mas, além disso, saber dosar, lembrando que nossos “públicos” também têm seus interesses e sua história, que podem se mesclar, sim, com a da corporação, mas que não se restringem a ela.



¹ – Caso ainda não tenha lido o artigo do autor sobre Transparência Organizacional, clique aqui.


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