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Mauricio Felício
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Sócio Presidente da Felício Comunicação, atua em consultoria, gestão e treinamento em comunicação empresarial e Business Intelligence. Formado em Relações Públicas pela USP, onde atualmente participa do programa de mestrado e é Professor conferencista para a graduação, com MBA em Gestão de Comunicação e Marketing pela mesma instituição (USP em parceria com a Florida University)."

 

Relações entre storytelling e educomunicação

              Publicado em 17/05/2013

A desvalorização do homem com aumento da valorização das mercadorias e a constatação da finitude de recursos forçaram uma ampla reflexão. Como não dá pra rever o tempo, fica evidente a necessidade de correr atrás do prejuízo e revisar convicções e práticas equivocadas. A importância de equilíbrio entre pretensões futuras e os traçados do passado fica mais clara (e daí deriva toda a preocupação sob o nome de “sustentabilidade” e também uma verdadeira “moda da memória”, com toda a sorte de influências: moda de brechó, arquitetura retrô, regravações de discos, refilmagem de películas, reedição de clássicos literários, edição de peças históricas, construção de museus). 


O reflexo na comunicação organizacional vem sendo imenso. Múltiplos protagonistas, detentores de meios de difusão e repercussão, estão em todos os lugares e não dependem mais da chancela da igreja, escola, família, empresa, mídia. Mais que isto, são pessoas desejosas de uma colaboração permanente no modo de conceber as coisas e as interações. Discursos oficiais e convencionais passaram a ser relativizados e comparados com as visões de mundo de outros agentes. E a qualidade plural da narrativa na forma de storytelling, que pode agregar diversos elementos de elaboração distinta (valores, padrões lingüísticos, mitos, metáforas, fatos), é uma aposta de reconfiguração das mensagens e das trocas. 

E tudo isto altera também a educomunicação, área que trabalha na interface comunicação e educação, bem como sinaliza uma circunstância histórica onde mecanismos de produção, circulação e recepção do conhecimento e da informação se fazem considerando o papel de centralidade da comunicação. Interessante destacar, mesmo diante da evidente aceleração tecnológica, que o foco não estaria no manuseio, domínio e oferta de dispositivos informatizados ou conectados na internet em ambientes de ensino e aprendizagem, mas sim a ênfase precisaria recair na capacidade comunicativa da interação oral e no desafio de captar a atenção e estimular a retenção de conteúdos. Afinal, há um ecossistema comunicativo que passou a ter papel decisivo na vida de todos nós, propondo valores, ajudando a constituir modos de ver, perceber, sentir, conhecer, reorientando práticas, configurando padrões de sociabilidade, como assinalam pesquisadores da área.

Cresce a atribuição de relevância da oralidade, como comunicação espontânea que permitiria uma experiência mais viva e polissêmica – numa abertura de sentidos mais adequada à quantidade de pensamentos circulantes e completamente avessa à linguagem dura e fechada das comunicações dos até então dominantes, inclusive em âmbito escolar. As abordagens agora precisariam ser mais poéticas, com uso de metáforas que auxiliariam na união dos mundos material e espiritual. As figuras do emissor e do receptor se misturam num espaço expressivo forte, onde a atenção – tida como cada vez mais pulverizada e de difícil captura – resta natural e focada. A escrita fixa o conteúdo, mas na oralidade há um momento que não se repetirá igual. Este tom artesanal encontra eco num homem simbólico e espiritual que não acredita mais no progresso a qualquer custo. A narração não tem a pretensão de transmitir um acontecimento pura e simplesmente, mas sim envolver os ouvintes. Há experiência onde entram em conjunção na memória certos conteúdos do passado individual com outros do passado coletivo. Por isto que as histórias estão tão em voga.

O papel do professor/instrutor, como de resto de vários outros profissionais que desempenham funções de orientação e inspiração na transmissão e debate sobre mensagens e interfaces, acaba modificado por um modus comunicandi próprio. Neste ínterim, o resgate e a evocação de histórias de vida, lições, lendas e fábulas contagiam positivamente a narrativa, estimulam o conhecimento associativo e criativo e mesmo despertam para o estabelecimento de padrões próprios de absorção de conteúdos pelas plateias e interagentes. 

Neste caminho, o testemunho oral tem sido amplamente discutido para amparar uma relação dialógica não se dá pela tecnologia adotada, mas pela opção por um tipo de convívio humano, aqui postulado com base na desintermediação. Afinal, a educomunicação, como uma maneira própria de relacionamento, faz sua opção pela construção de modalidades  abertas e criativas de relacionamento, contribuindo, dessa maneira, para que as normas que regem o convívio passem a reconhecer a legitimidade do diálogo como metodologia de ensino, aprendizagem e convivência.

Fica a dica para pensar mais sobre a oralidade e sobre a contação de histórias, ainda que se reconheça a dificuldade de inserir a cultura oral no ambiente tradicional da escola e dos locais de aprendizagem. A oralidade cultural das maiorias parece não caber nestes espaços, pois o mundo das piadas, das narrativas orais, dos provérbios e dos ditos populares têm suas próprias gramáticas, ritmos e prazeres que põem em paralelo os métodos tradicionais de repasse de conteúdo e de busca de internalização de conhecimentos. Certamente teria sido melhor eu contar uma história do que fazer este artigo todo... 

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