Da preguiça como método de trabalho
Chega o final de ano, e sou abatida por um enorme cansaço, uma preguiça terrível. E junto com a preguiça, vem a culpa pois para mim, a preguiça sempre esteve entre os sete pecados capitais da humanidade. O preguiçoso, aquele sujeito encostado e sem valor. Além da fábula da formiga e da cigarra, enfatizando a importância do trabalho. A cultura judaico-cristã, não dá brecha para esses desvios. Deus ajuda quem madruga, primeiro a obrigação, depois a diversão, e outros tantos dizeres ecoam em minha cabeça, desde a mais tenra infância. Porém, devo confessar, como que a um padre, que sim, sinto uma preguiça deslavada. Sem pudor. Mas só de vez em quando. Acordar tarde, não fazer nada. Ficar sem arrumar a cama, sem pentear os cabelos, pois para falar a verdade no meu caso não faz muita diferença. Largar-se e pronto. Que delícia!
Meu maior alívio na vida, foi quando li uma entrevista com Caetano Veloso, o ícone baiano, dizer que a preguiça é uma das suas fonte de inspiração. Quando deitado na rede, olhando para o mar, surgiram várias canções e poemas. Sem esses momentos, essas idéias fugiriam, como coelhos assustados. A pressão e ocupação constante camuflariam qualquer elemento levemente diferente. Simplesmente se perderiam na imensidão de pensamentos agitados. Outra grande descoberta, é a filosofia oriental. O Tao. O vazio da mente. Pela meditação, consigo limpar os ruídos e sujeiras do pensamento. Expandir a visão interna, abrindo espaço para novos conteúdos. Um processo semelhante à velha e boa faxina dos armário de coisas que guardamos. Tiramos o que não cabe e não usamos, e trazemos coisas novas. Ou não. Essa forma de ver a preguiça, me conforta. Aos poucos ela deixou de ser vilã, e passou a ser quase uma aliada. Aparece de vez em quando para relaxar uma situação. Alguém já viu um preguiçoso estressado? Não conheço. Um pouco de preguiça, é igual pimenta. Não faz mal a ninguém.
Há um outro ponto importante a trazer aqui. O tempo. Aos vintes anos, as ondas de preguiça eram bem curtinhas. Resumiam-se aos domingos. Dia de acordar tarde, e ficar naquela modorra. Sem nem querer falar. Com o passar das primaveras, essas momentos foram se alargando. Ficar em casa passa a ser bom. Curtir aquela preguiça gostosa. Ver um filme, ler ou apenas estar junto de quem se gosta. Será isso preguiça? Agora me confundi. Se for assim, sou mesmo uma preguiçosa. Acabo de consultar o dicionário. Faço uma descoberta interessante: a preguiça é um comportamento estritamente humano. Os animais não tem preguiça, eles preservam sua energia para poderem usá-las no momento certo. Fantástico! Minha preguiça é então do tipo animal. E além disso, ecológica e sustentável. Moderníssima. Uma espécie de hibernação, como os computadores que não estão em uso. Inaugura-se uma modalidade: a bio preguiça. Preserva a energia, oxigena os pensamentos, equilibra o corpo e alma, preparando-se para a ação posterior.
Outra pesquisa, on line, mostra que essa teoria já existe. O ócio criativo. Seu núcleo de pensamento é bem similar. Ótimo! Não me encontro só. Há uma legião de preguiçosos pós modernos por aí. Estar sempre fazendo alguma coisa, ligado, conectado, antenado, ou sabe-se lá mais o que, enlouquece. Ao menos 10 minutos por dia, ao acordar ou antes de me deitar, fico bem quieta. Mergulho no mar da inércia e deixo-me levar. Entrego-me a essas ondas, peço inspiração. Especialmente agora, no intervalo entre um ano e outro. Na volta, acabo trazendo algo comigo. Peixinhos ou peixões. Tomara que essa pescaria seja boa! E viva 2010!
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