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Nádia Rebouças


Diretora da Nádia Rebouças Consultoria, empresa de consultoria de comunicação para transformação de organizações. Trabalha para empresas e ONGs, além de ser professora e palestrante.

Comunicação e felicidade

              Publicado em 07/12/2009

Usei esse título para uma pequena palestra que fiz para uma equipe de uma empresa esse mês. Nunca pensei que ia escolhê-lo, mas esse ano foi o tema de minha reflexão. Na realidade, a pergunta que está por trás desse título é: porque tantos são tão infelizes no trabalho? Na França inclusive isso levou a um debate sobre o suicídio de empregados. Livros estão sendo publicados sobre esse assunto.

Por que? Em primeiro lugar porque o mundo que criamos está girando numa velocidade louca onde todos estão se robotizando e não estão tendo oportunidade e liberdade de demonstrar seus talentos. Uma grande parcela de jovens hoje já sai da faculdade querendo ser empreendedor, criar seu próprio negócio, especialmente por não querer ter chefe. São jovens que viveram a era do resultado, nos seus pais. Apressados, angustiados, sempre correndo, sem tempo para ser pais, sem tempo para a tão falada qualidade de vida levaram seus filhos a questionar o formato de inserção no trabalho.
 A era do resultado, que passa de boca em boca, como diferencial de um profissional bem sucedido, construiu o que eu chamo das habilidades “hard”, do dedo em riste, do que não perde tempo com “bobagens”, daquele que não se dá oportunidade para refletir e se entrega ao comando com dedicação exclusiva. Sua tarefa principal é cobrar.

 Em algumas empresas profissionais que saem no horário despertam imediato comentário na  rádio corredor: o que deu nele? Está desmotivado?
Profissionais de comunicação pedem propostas aos fornecedores, quase sempre num prazo desafiante, e “esquecem” de comunicar qual foi a avaliação. Empresas que colocam na frente profissionais de suprimento com metas bem estabelecidas de redução de preços,  que falam com os mais diversos fornecedores negociando qualquer trabalho como se tudo fosse da mesma natureza. Uma infinidade de briefs mal elaborados por profissionais assustados, pressionados e ...infelizes.

Bin Laden teve resultado. Por isso sempre pergunto a esses executivos quando me dizem que tem foco em resultado: qualifique o resultado que você espera... Porque resultado sem a qualificação não me leva a lugar nenhum. Resultado é lucro? Que espécie de lucro? Para quem? Agindo assim construímos os problemas ambientais que vão afetar a todos nós daqui para frente. São muitas as perguntas que ficam no ar e que não são respondidas por um gerente que precisa “buscar resultado” e que todos os dias levanta da cama carregando seu fardo.

Sua atitude com seus liderados é de agressividade, cobrança e na maioria das vezes pouca conversa. Não há tempo para isso. No fundo sente uma enorme insegurança. Assim plantamos diariamente equipes desmotivadas, executoras sem criatividade, sem paixão. Quem disse que isso dá resultado? A curto prazo, muitas empresas tem resultado. Mas há necessidade de conseguir perenidade numa empresa. Elas vivem de altos e baixos e características de certos estilos de gestão. Depois começa tudo de novo. Já aconteceu comigo de novos profissionais acharem algum pesquisa ou planejamento, daqueles que antes iam para a gaveta, agora perdidos no servidor, e dizer depois desse diagnóstico o que foi feito? Nada. Gastaram para ter um diagnóstico que não conseguiram escutar.
Sei que é muito difícil fazer a conta do desperdício que uma empresa tem com um clima interno dessa qualidade, mas adoraria que alguém conseguisse. Normalmente quando olhamos a comunicação interna, a oficial, a impressão é que tudo está um sucesso. São assim os veículos de comunicação interna, especialmente os jornais que mostram fotos de diretores e gerentes e falam numa linguagem de apologia das maravilhas da realização da empresa. Não é o que a rádio corredor fala, mas são poucos que tem coragem para ouvi-la e humildade para construir processos de transformação.

Entendo - e nossos OFFPLANS nas organizações deixam isso claro -, a falta de uma comunicação verdadeira está fazendo com que as empresas percam muito. Perdem sua história, perdem o conhecimento acumulado, perdem experiência, diagnósticos e planejamentos que são interrompidos, antes de provarem para o que vieram. Quanto dinheiro se perde nas empresas porque a comunicação, a conversa é ruim?

Departamentos não se falam, gestores competem, sem compromisso efetivo com a organização. A falta de comunicação traz infelicidade. Para o gestor que engole sapo, fingindo concordar com o que não concorda, até não agüentar mais. Desce a infelicidade para seus empregados, que entendendo menos ainda os porquês, percebem as suas vidas como uma bola de neve que corre atrás deles. Corra Lola Corra. Vejam o filme e percebam do que estamos falando.

Enquanto isso, o mundo precisa se transformar. Clama por nossa ajuda. Para entendermos nosso planeta que agoniza com nossa mania de querer dominar o que tem vida. Milhões de pessoas passam fome, não tem água, não tem acesso às tecnologias que orgulhosamente criamos. Tudo está prestes a explodir.

No entanto podemos continuar fingindo. Agimos como se isso nada tivesse a ver conosco. Casais continuam casando, sonhando com o novo carro, mesmo que andem a 20km por hora. A consciência dos absurdos de nossa sociedade, passam à margem. As empresas escrevem relatórios de GRI, os RHs continuam seus trabalhos mecanizados, planos de carreira e desenvolvimento. E eu pergunto onde está a felicidade? Acredito que a comunicação, no seu conceito mais amplo, pode ajudar a empresa e organizações  a encontrar uma nova consciência e a partir das novas percepções poderão construir o mundo do futuro. O mesmo para nossa sociedade. Comunicação, transparência, planejamento para transformação estarão sendo demandados cada vez mais, simplesmente porque precisamos mudar. O consolo é que mesmo sem querer estamos mudando, percebendo algo muito simples: o que tem vida precisa de vida.
 


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