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Nádia Rebouças


Diretora da Nádia Rebouças Consultoria, empresa de consultoria de comunicação para transformação de organizações. Trabalha para empresas e ONGs, além de ser professora e palestrante.

Cadê o propósito?

              Publicado em 19/03/2015

“Não há despertar de consciências sem dor. As pessoas farão de tudo, chegando aos limites do absurdo para evitar enfrentar a sua própria alma. Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras deluz, mas sim por tornar consciente a escuridão".

Carl Gustav Jung

Esse ano tem sido difícil escrever. Esse ofício, que gosto tanto, ficou travado pelas minhas intensas reflexões. Um ano difícil, mas mais do que isso, surpreendente e que ainda deixará marcas muito profundas e imprevisíveis na história de nosso país. Considerando que somos seres espirituais vivendo uma experiência humana (Chardin), parece evidente que a dor tenha que se acentuar para que possamos sair da letargia que tem nos acometido nos últimos anos. Ficamos fascinados com o “mundo líquido” (Zygmunt Bauman). Foram anos duros depois de mais de uma década de crescimento, do consumo desenfreado, da busca interminável pelo prazer e conforto, do domínio absoluto da teoria dos resultados, que ocuparam nossos discursos, em todas as empresas e até de organizações sociais e governamentais. Me recordo que esse avanço do mantra “resultado” me espantou desde sempre e que eu sempre exigia sua qualificação... Resultado sim, mas para quê?

Números que evidenciavam crescimento eram anunciados e cada vez mais as estatísticas foram disfarçando os fatos. Sim, os números medem, mas não descrevem, não percebem os cupins que estão ali destruindo sem que possamos perceber suas consequências. Temos resultado aqui e ali. Medimos os daqui e perdemos a dimensão dos outros todos dali. E assim fui testemunha da vida das comunicações internas efusivas, mostrando empresas de fantasia. Vi inúmeuras comunidades tradicionais ou mesmo aqui no Rio de Janeiro serem removidas de suas vidas para projetos hoje paralisados. Vi resultados econômicos apontando para crescimento e crescimento, como se isso fosse melhorar nossas experiências, nos desenvolver. Vi relatórios de sustentabilidade crescerem em volume, em número e qualidade de fotos e a palavra sustentabilidade ser tão falada que virou paisagem. Nos valores das empresas, vi menções que poderiam estar em guias espirituais.

Sabemos que a espiritualidade é uma necessidade humana que nos leva a buscar algum significado para a vida e que nos ataca em algum momento, ainda aqui na terra. Não é à toa que usamos certas palavras, no mundo das organizações, como respeito, diálogo, motivação, harmonia, ética, tolerância, bom relacionamento, compromisso, confiança, satisfação, segurança, todas elas mais relacionadas com a espiritualidade. Sofri com colaboradores que olham tudo isso com o coração apertado que vaza no revotril noturno. A crise que acomete nossa maior empresa, entre muitas outras, terá efeitos mais que danosos, em rede. São valores sendo assassinados em praça pública. São colaboradores que viviam intrigados por anos, tomando consciência e entendendo seus desafios futuros.

Resultados. São esses que estamos colhendo e com muita dor. No calor fora de prumo, na falta d'água, na crise energética, entre muitas outras crises, estão as consequências de nossas escolhas concretas, no desânimo e descrédito e no vazio onde abandonamos valores. Minha esperança anda febril e eu, como não consigo viver sem ela, coloco compressas de álcool e fico firme na lembrança dos que resistiram, dos que abandonaram corporações e, com isso, o falso conforto, com os meninos que estão espalhados por aí que falam em empreendedorismo, que experimentam uma economia do compartilhar, que aos pouco usam as coisas, sem que seja necessário ser dono delas. Não sei o quanto as empresas estão monitorando essas novas tendências. A bicicleta do Itaú pode apenas ser uma ponta que pode inovar o jeito de viver. Penso nas empresas que vão resolverem mudar comportamentos de verdade, que vão se descobrir investindo em outros produtos que atendam a essa nova geração, nos colaboradores que poderão fazer a diferença, agora com mais consciência. A comunicação interna vai precisar ser intensa e educativa para evitar o revotril entre outros tarjas pretas, os acidentes de trabalho, mais demissões e decisões equivocadas que se repetem apesar dos cursos de gestão, dos procedimentos extensivos de saúde e segurança, do discurso da sustentabilidade etc.  

Ai! caiu a compressa de álcool. Acho que vou ter que apelar para um antitérmico: e se, mesmo com a dor, empresários, governantes e seres humanos vivendo sua experiência de espiritualidade, continuarem a tapar olhos, ouvido e bocas como os clássicos macaquinhos? E aí?


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