As dúvidas da comunicação
Um grupo seleto demanda um tema profundo.
Somos realmente, os comunicadores, fatores de transformação? Agentes de mudanças? Para dizer “sim” com orgulho, primeiro recorro a um trecho do Livro do Desassossego, de Bernardo Soares, um dos muitos heterônimos de Fernando Pessoa:
“Baixo olhos novos sobre as duas páginas brancas, em que os meus números cuidadosos puseram resultados da sociedade. E, com um sorriso que guardo para meu, lembro que a vida, que tem estas páginas com nomes de fazendas e dinheiro, com seus brancos, e os seus traços de régua e de letra, inclui também os grandes navegadores, os grandes santos, os poetas de todas as eras, todos eles sem escrita, a vasta prole expulsa dos que fazem a valia do mundo.” (p.49 – Companhia das Letras)
Estamos nós mensurando os resultados, agindo com a ética, buscando prover à sociedade o bem que podemos gerir? Temos, aos poucos, mudado o que escrevemos nos papéis da história.
Neste quesito temos a ascensão da Governança Corporativa, da Responsabilidade Social e da preocupação das empresas com a nossa pegada ecológica. Todas emanações dos anseios da sociedade. E nós, muitas vezes nos apegamos aos nossos valores corporativos, nossa missão e visão, e esquecemos de dizer qual é a nossa própria razão social, nosso nome, nossa gênese.
Toda empresa precisa, para vir à luz, de uma razão social. Da Razão e do Social. Então como explicar que quase ninguém a conhece e menos ainda a consideram, sua origem, um fator relevante para a corporação? Ainda não tenho esta resposta, mas sei que a questão repercute contundentemente no fazer comunicação, ato dialógico, ou melhor, ato relacional.
Como podemos comunicar, evoluir, guiar, desenvolver, e todos os verbos de ação, que no modismo das palavras inglesas caem tão bem, se mal sabemos de onde viemos? Comunicar é, antes de tudo, estar disposto a ouvir, conhecer, vasculhar, sentir, viver. É conjugar verbos muito mais humanos do que a simples ação, do que a reação.
Sem dúvida, para conquistar o posto devido à comunicação nas corporações, devemos incorporar o economiquês e os jargões de tantas áreas já consagradas, mas até onde devemos aceitá-los tacitamente e até onde devemos propor mudanças simples, transformações medianas ou releituras completas?
Hoje os temas que falei, como RS, Governança Corporativa etc. são vistos como os pilares para a longevidade das corporações, sendo que há décadas isso seria visto como perda de tempo, dinheiro e, principalmente, quase um suicídio mercadológico.
Toda esta arqueologia, fiz para dizer que chegamos a uma sociedade mais integrada, conectada pela web, mas mal entendemos nossas corporações através do paradigma 1.0.
Rumar seguramente para o modelo 2.0 é uma utopia, pois a segurança, nos parâmetros que tínhamos há alguns anos já não existe mais. Mas a longevidade também está se deitando sobre a participação, a pseudo transparência (aqui caberá um novo artigo, para um outro debate) e a evolução da sociedade pela multiplicação de vozes e a simetria da comunicação (e aqui valerá mais um novo levante).
As palavras de hoje não são para apontar caminhos, mas para chamar mais pessoas às minhas dúvidas, e convidar você a pensar ou repensar, a encontrar nas empresas e universidades, nos debates da ABERJE e nas nossas atividades profissionais cotidianas, os melhores caminhos a serem trilhados. Por isso, não encerro o artigo, mas sim, peço que releia a citação de Bernardo Soares, a fim de alimentar a dúvida como motor da evolução sobre como estamos fazendo, de fato, a valia do mundo.
Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje
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