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COLUNAS


Ignacio García
ignacio@treeintelligence.com

Antropólogo Sociocultural pela Universidade de Buenos Aires e Especialista em Inteligência de Redes, Netnografia e Cultura Organizacional.  Palestrante internacional e membro fundador da Orion Community (Grupo de especialistas em Business Network Analysis), sediada em Budapeste, e coordenador da RCI (Redes Colaborativas da Inovação) do Fórum de Inovação da FGV. 

Sócio fundador da Tree Intelligence, consultoria pioneira na aplicação da Ciência das Redes aos negócios na América Latina.

Ser maior que o cargo

              Publicado em 31/01/2014
Cargos de alta responsabilidade, presidentes, diretorias e até gerencias precisam ser exercidos com certa fidalguia. O ocupante deve enobrecer o lugar que ocupa - ser maior do que ele, não o contrário. A liderança não permite atitudes e atividades mesquinhas como vaidade, orgulho, prepotência, arrogância e assédios. O ocupante não deve aproveitar da sua condição para legislar em causa própria e tirar proveitos para si, amigos e família. Ética e honestidade são inerentes à condição hierárquica e não é necessário nenhum manual de governança corporativa para se entender isso.
 
Existe a liderança burocrática, oficial, aquela em que a pessoa é nomeada, e a natural, quando o ocupante constrói o seu próprio merecimento. Líderes que merecem o posto que ocupam, geralmente são maiores do que ele. Uma autoridade mostra-se pela sua gravitas - termo latino que significa o reconhecimento ao cargo pelo seu ocupante quando ele honra a posição exercida e age, a partir dela, com sabedoria e coragem. Você conhece algum líder ou político brasileiro ocupando algum cargo nesta condição? Na eterna crise de liderança brasileira vemos políticos se locupletando das suas posições, autoridades brigando com subalternos na fila do caixa eletrônico, porque, ele, a autoridade maior, quis furar a fila e foi chamada a atenção. 
 
A maneira como nos comportamos determina como seremos tratados pelos outros. Uma autoridade que se comporta de forma vulgar ou comum fará com que os subordinados e a sociedade não o levem em consideração. “O soberano que sabe venerar a si próprio inspira nos outros o mesmo sentimento. Aja como um rei para ser tratado como tal”, dizia o filósofo espanhol Baltasar Gracian.
 
No filme “Mestre dos Mares: O Lado Mais Distante do Mundo”, um tenente cria intimidade com os marinheiros, não respeitando seu próprio cargo. É repreendido pelo capitão que lhe diz: “Você é um oficial da Marinha Inglesa, tem que se dar ao respeito.” Não adiantou, o inexperiente marujo foi um dos primeiros a sucumbir durante a viagem. Outro inglês, Shakespeare, disse: “A intimidade gera o desprezo.” Não estou dizendo para nos isolarmos ou mantermos o nariz empinado frente àqueles que trabalham conosco, mas que cada um deve saber o seu lugar, principalmente as chefias, honrando a posição que ocupam. 
 
Líder maior do que o cargo sabe compartilhar sonhos usando, na maior parte das vezes, a sutileza, força maior da comunicação. Por isso, primeiro escutam, para depois dar ordens e indicar caminhos. São pessoas que nasceram para comandar e não se deixam levar pela vaidade transitória dos seus cargos. Bons líderes são bons ouvidores. Sabem que as estratégias emanadas pelos conselhos e diretorias até serem implantadas e levadas à ação com os resultados esperados não passam de sonhos. E, esses, se não forem compartilhados não existirão, por isso valorizam e apoiam a comunicação interna em suas empresas. 
 

Com tantos e variados cursos empresariais, pouco se vê sobre o tema comunicação interna destinado aos altos escalões. As lideranças atuais são preparadas pelo mídia training para enfrentar o hostil mundo externo, mas e para o ambiente interno? Gerentes estão melhor preparados do que suas diretorias e, até chegar a vez deles a assumir cargos maiores, a velha guarda precisa voltar aos bancos escolares e aprender comunicação.  


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