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COLUNAS


Marlene Marchiori


Concluiu o pós-doutorado em Comunicação Organizacional na Brian Lamb School of Communication, da Purdue University, nos Estados Unidos. Doutora pela Universidade de São Paulo (USP), com estudos desenvolvidos no Theory, Culture and Society Centre da Notthingham Trent University, no Reino Unido. Graduada em Administração e em Comunicação Social – Relações Públicas, Marlene é pesquisadora líder do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) nos grupos de estudos Cultura e Comunicação Organizacional (Gefacescom) e Comunicação Organizacional e Relações Públicas: perspectivas teóricas e práticas no campo estratégico (Gecorp). Professora sênior da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Autora do livro Cultura e comunicação organizacional: um olhar estratégico sobre a organização, e organizadora das obras Comunicação e Organização: reflexões, processos e práticas; Redes sociais, comunicação, organizações; Comunicação, discurso, organizações; e da Coleção Faces da cultura e da comunicação organizacional.

Comunicação e Controle: um olhar sobre o trabalhador e as racionalidades em busca de eficiência e produtividade

              Publicado em 30/01/2014
A partir de Burrel e Morgan (1979) é possível traçar uma retrospectiva dos estudos organizacionais e os diferentes olhares sobre o trabalhador.  Nas teorias de Taylor, Fayol e da Escola Clássica de Gerência encontramos pressupostos objetivistas, onde ao trabalhador é atribuído papel essencialmente passivo.  Estudos, entre as décadas de 1930 e 1960, ponderam sobre a dimensão subjetiva presente nas realidades organizacionais e colocam em evidência o trabalhador “como um ser social motivado por necessidades afetivas” (BURREL; MORGAN, 1979, p. 40). Neste contexto, a perspectiva interpretativa vê o mundo social em construção, na qual se tem o olhar sobre o trabalhador como um sujeito de natureza humana voluntarista, autônomo e possuidor do livre arbítrio. Reconhece-se o sujeito na sua qualidade subjetiva, como aquele que cria, modifica e interpreta o mundo no qual ele se descobre. 
 
Contemporaneamente, embora seja manifestado o interesse na dimensão subjetiva do sujeito e a necessidade de seu reconhecimento no ambiente organizacional, o que aparece, muitas vezes de forma não declarada, é a preocupação com a eficiência corporativa e a produtividade, sem envolvimento com aspectos mais humanos da vida organizacional, como alerta Mumby (2010). Para este autor, de Taylor aos dias atuais, os estudos organizacionais preocuparam-se sobremaneira com a questão de controle, tendo havido apenas a transferência do local de seu exercício, antes sobre o corpo do trabalhador e hoje sobre a mente, bem como, suas emoções.
 
Se organizações são produtos de configurações de poder e interesses específicos (MUMBY, 2010), exercidos em discursos e significados das ações, tem-se a comunicação como constituinte da própria organização. Neste contexto, Frost et. al. (2000 apud MUMBY, 2010) descreveram as organizações como locais de cura e dor diárias, onde as emoções são reprimidas de forma que elas simplesmente atendam aos objetivos restritos da produtividade e eficiência organizacional. 
 
Num olhar habermasiano sobre a comunicação, tem-se mais claramente a visão da comunicação atendendo interesses organizacionais, dentro das racionalidades instrumental e estratégica, nas quais o trabalhador é considerado como uma “coisa para se obter outra coisa” ou “como meio para alcançar um fim” (REPA, 2008). Nestas racionalidades, voltadas exclusivamente para ganhos, investe-se em quantidade de resultados, incentiva-se a competição entre os trabalhadores e objetiva-se a ‘supervalorização’ do econômico. 
 
A implementação e o predomínio das racionalidades instrumental e estratégica podem ser observados em mecanismos de coordenação, controle e comunicação para resultados, que utilizam gratificação ou ameaça e sugestão ou engano, desconsiderando a presença da intersubjetividade do trabalhador como sugere a proposta da Teoria do Agir Comunicativo (TAC) de Habermas (2012). Na racionalidade da TAC, a comunicação prioriza o entendimento negociado entre sujeitos, que falam e agem em processos interacionais livres de influências de poder e interesses coagidos. Neste sentido, a comunicação em Habermas demanda um ambiente aberto às falas espontâneas e à crítica, em busca de entendimento para a resolução de conflitos.
 
Muito embora os discursos contemporâneos vislumbrem um ambiente como esse, ainda prevalece, no contexto capitalista, uma comunicação orientada para atender prazos e metas, para alcançar a eficiência, a produtividade e o sucesso organizacional. O resultado deste esforço comunicacional controvertido pode ser cada vez mais percebido nos altíssimos níveis de estresse físico e mental dos trabalhadores.  Seria esta a hora de repensar as racionalidades por trás dos processos e práticas comunicacionais? 
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Giovanna Galleli, graduada em Comunicação e discente do Programa de Mestrado em Administração da Universidade Estadual de Londrina (UEL)
 
Marlene Marchiori, pesquisadora líder do GEFACESCOM www.uel.br.gefacescom/
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Referências
 
BURREL, Gibson; MORGAN, Gareth. Sociological Paradigms and Organizational Analysis. Heineman, London, 1979. 
 
HABERMAS, Jürgen. Teoria do Agir Comunicativo: racionalidade da ação e racionalização social. São Paulo: Editora WNF Martins Fontes, 2012. 
 
MUMBY, Dennis K. Reflexões críticas sobre comunicação e humanização nas organizações. In: KUNSCH, Margarida M. K. A Comunicação como Fator de Humanização das organizações. 1. Ed. São Caetano do Sul, SP: Difusão Editora, 2010. pp. 19-40.

 

REPA, Luiz Sérgio. Jürgen Habermas e o modelo reconstrutivo de teoria crítica. In: Marcos Nobre. (Org.). Curso livre de teoria crítica. 1ed.Campinas: Papirus, 2008, p. 161-182. 


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