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Rosana Miziara


Historiadora com mestrado em história social e gestora cultural. Foi coordenadora de cultura da região central de São Paulo da Secretaria Municipal de Cultura e coordenadora de projetos do Museu da Pessoa, onde desenvolveu ações para grandes corporações, como Cia. Vale, Petrobras, SESC, CCBB, entre outras. Foi diretora da CDN Cultural, onde desenvolveu projetos voltados para a comunicação empresarial a partir da cultura. Atualmente é Relações Institucionais do Museu da Pessoa.

Os vídeos nas narrativas das redes sociais

              Publicado em 15/01/2014
As imagens em movimento fazem cada vez mais sucesso nas redes sociais. Todos querem ter seu vídeo postado, narrar experiências, mostrar momentos da vida ou partes de uma criação. 
 
A proliferação de produções audiovisuais caseiras, gravadas por pequenas câmeras digitais ou webcams, por vezes colaborativas e quase sempre compartilhadas, mostra experimentações narrativas não permeadas pelas técnicas e introduz novos desafios. 
 
A publicação e o consumo de vídeos na Web crescem a cada dia, bem como o tempo gasto nessa navegação. A visualização de imagens on-line cresceu 74% e os brasileiros viram 4,7 bilhões de vídeos. Isso consolida o segmento como uma das atividades mais importantes da internet. 
 
Jornais e revistas reforçam suas equipes multimídias para que as matérias sejam complementadas por vídeos. O assinante deve ser leitor e espectador. Grandes veículos, como o New York Times, fazem produções arrojadas que vão muito além do hard news. Moda, cultura, culinária, comportamento e humor ganham vídeo editorias. Produzem séries como Modern Love e Op-Docs. Agora trabalham uma curadoria de conteúdos para veicularem produções de terceiros. Por aqui também temos vários exemplos da mídia tradicional que produz conteúdos em vídeo como TV Estadão, TV Folha, TV Uol, TV Terra, TV IG etc. 
 
O YouTube é a maior fonte de acesso de vídeos no País. Em julho deste ano foram 59,4 milhões de unique viewers. O Facebook ficava em segundo lugar com 34,6 milhões. A rede de vídeos lançou, em dezembro de 2012, seu aplicativo YouTube Capture. Uma forma mais fácil de compartilhar produções pelos smartphones, já que 25% das visualizações mundiais de vídeos são realizadas em dispositivos móveis e o tráfego de mobile triplicou desde 2011. 
 
No Instagram o novo recurso de vídeos foi bem aceito pelo público. Representantes da empresa falam que nas primeiras 24 horas após o lançamento, já tinham sido enviados 5 milhões de vídeos para o serviço.
 
Vídeo na Web está em alta mesmo. No dia 28 de agosto estreou no YouTube o filme “Latitude“, primeiro projeto transmídia de longa, televisão e internet do Brasil. Diferente do que acontece nas produções para o cinema e a TV, em que conteúdos extras vão para a Web, aqui ocorreu o contrário. O filme primeiro será exibido na internet, depois no canal TNT e, por último, nos cinemas. 
 
Público é o que não falta mesmo. Pesquisa publicada em julho aponta que 30 milhões de brasileiros usam, diariamente, três telas simultaneamente. São 63 milhões de pessoas que utilizam, no mínimo, duas telas por vez: a televisão e o computador. 52% da população on-line assiste TV ao mesmo tempo em que acessa a internet e 68% dos multi-telas assistem à televisão e interagem com o smartphone simultaneamente. 
 
Nos posts da web, com imagens em movimento, temos variáveis de qualidade e espontaneidade. Os patrocinados pelas empresas tendem a seguir as narrativas mais tradicionais dos filmes comerciais, apesar de agora não mais se aterem aos meros e caros 30 segundos da veiculação televisiva. As imagens dos usuários mostram menores recursos, maior desprendimento, mas o mesmo desejo de ser visto, curtido, compartilhado. Com mais de 3 mil agências digitais no Brasil, segundo a Abradi (As. Br. das Agências Digitais), esse mercado é estimulado pelo apetite da população por relacionamento pela internet. 
 
Frente aos novos comportamentos, agências de publicidade passam a oferecer serviços integrados, conteúdos proprietários que procuram se adaptar a essas formas de consumo de mídia pela audiência e às atuais demandas das marcas. Novos serviços digitais pululam tentando criar perenidade em relatos que conectem e dialoguem com consumidores e colaboradores. Plataforma proprietária vira must na busca de vínculo emocional com os ecléticos públicos.
 
Com isso empresas e consumidores procuram se comunicar utilizando estratégias para compartilhamento de valores e socialização de perspectivas. Tentam aprimorar narrativas, produzir social films e promover a comunicação que embuta o relacionamento. Bom exemplo é esse vídeo do Skype
 
Mas, se a narrativa hoje precisa conectar pessoas e trazer relacionamento, é necessário adaptar as formas de produção e distribuição de conteúdos. Afinal, se esse “modelo” deve ser dinâmico e participativo, a narrativa terá melhor partido se a audiência se envolver, opinar e interagir. E isso ocorre cada vez mais nas redes sociais ao se partilhar experiências. 
 
Big Data ganha evidência e mineração de dados passa a integrar novos projetos. Profissionais de marketing e comunicação se juntam a outros como os de estatística e de modelagem matemática. Fazem surgir aplicações e ferramentas como marketing mix modelling e predictive analytics
 
Do lado das produtoras de vídeos, algumas lançam divisões para materializarem cases de branded contente, séries em vídeo a serviço de uma marca ou campanhas on-line para perenizar a relação com o consumidor. O humor é tendência constante, virando estratégia de marketing e comunicação na Web. Muitas empresas recorrem a coletivos como o “Porta dos Fundos”. Afinal, em julho de 2013, já acumulavam quase 300 milhões de visualizações e 3 milhões de inscritos no canal do grupo no YouTube. Uma baita audiência que pode ser comparada ao dos canais da TV aberta. 
 
Hoje aos formadores de opinião se somam o que se conhece por “personalidades digitais”. Os internautas influenciadores que ajudam a virilizar em minutos o que publicam na rede.
 
Ao mesmo tempo, temos o outro lado dessa moeda das interações sociais na rede. O MIT, a Universidade de Nova York e a de Jerusalém realizaram estudo que busca entender melhor a viralização na internet. O resultado, publicado na revista Science de agosto, mostra que temos 32% mais chances de gostar de algo quando ele já foi elogiado por alguém. É o famoso “efeito manada”, em que todos seguem para a mesma direção. O estudo mostra que esse espaço de liberdade e de “sabedoria das multidões” favorece pouco a construção de opinião própria. O que passa pela timeline sofre mais influência do que aquilo que passa na cabeça do usuário. Ai cada vez mais se escolhe livro, hotel, local de compra, filme, comentário e narrativa pelos instrumentos on-line que agregam opiniões. 
 
Mas, afinal, gravamos, publicamos, curtimos e compartilhamos imagens em movimento para revelar o que as TVs encobrem? Construímos uma nova experimentação visual? Ou meramente para que mais pessoas saibam dos nossos feitos e progressos? Fazemos vídeos para entretenimento, protesto, exibicionismo, denúncia ou deleite? Todas as alternativas ou nenhuma delas? 
 
Nesse ambiente em transformação, grande parte das empresas ainda não despertou para essas demandas. Creio que ainda há muita resistência na realização de vídeos inovadores. As companhias não acompanham de perto esse novo momento em que imagens narradas e redes sociais se encontram e se expandem em progressão geométrica. Faltam vídeos realizados por funcionários ou, ao menos, com maior participação deles. Os que são produzidos muitas vezes ignoram sugestões do público interno e mantém discursos positivistas. Os cases de sucesso na Web ainda são mais dos que criticam as empresas do que os dos vídeos exitosos realizados por elas. 
 
A possibilidade de apontar um celular e gravar imagens HD abriram novos caminhos para a criatividade, a possibilidade de denúncia ou o cyberativismo. Como exemplo recente, vemos o coletivo “Mídia Ninja” (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação). Com celulares, notebooks e ampla rede de colaboradores, transmitiram ao vivo os protestos recentes do Brasil. São ligados ao “Fora do Eixo”, rede de coletivos criada em 2005 para organizar festivais de música para ocupar a cena cultural independente. 
 
A tecnologia tem dado voz a todos e os consumidores agora influenciam mais as marcas. Em depoimento à Exame, Jan Rezab, CEO e cofundador da SocialBakers, disse que o grande segredo para empresas fazerem sucesso nas redes sociais é serem autênticas, ouvirem o cliente e acertarem no tom com os seus consumidores. 
 
No momento em que a voz do consumidor está sendo ouvida e considerada pelos outros, ela é insumo na tomada de decisão. A relação agora exige o que se denomina de Comunicação 3.0, informação clara, transmídia e de mão dupla. Para isso é necessário bem mais que investir em vídeos de humor, ter gerenciamento de crise e monitorar a empresa nas redes sociais. 
 

É desejável que empresas e cidadãos façam bom uso das enormes possibilidades das imagens em movimento. Que as utilizem para narrar menos envaidecimento e mais autenticidade. Menos “efeito manada” e mais construção coletiva de conhecimento.  


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