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COLUNAS


Mário Mazzilli


Diretor Superintendente do Instituto CPFL, organização que mantém um dos mais amplos e duradouros programas culturais desenvolvidos por uma empresa privada brasileira.

Sociólogo graduado pela FFLCH/USP, com especialização em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas/SP (CEAG) e mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP.

Atua há mais de 20 anos no setor cultural, foi o primeiro editor da revista Observatório Itaú Cultural e desenvolveu projetos de Comunicação Empresarial para empresas e instituições no Brasil e no exterior como: Itaú Cultural, Odebrecht, Centro Cultural Banco do Brasil, Editora Planeta, Frankfurt Book Fair (Alemanha), Vergara & Riba Editora (Argentina), Editora Globo, Editora Unesp.

Professor e articulista do CEMEC – Polo Criativo do portal Cultura e Mercado e da Casa do Saber.

Autor do blog O Valor da Cultura.

Empresas e o novo profissional de comunicação e cultura

              Publicado em 30/01/2015

O Brasil registrou, na última década, um grande avanço quantitativo e qualitativo nas relações de trabalho na área cultural. A cadeia produtiva da cultura é diversificada, sofisticada e com múltiplas funções e especificidades. As empresas conectadas às demandas da contemporaneidade - no Brasil e em muitos países desenvolvidos - têm aberto espaços qualificados para ações culturais, quase sempre buscando alinhá-las às suas estratégias de comunicação. Esse alinhamento acaba por aproximar os profissionais de comunicação que, já há algum tempo, conseguiram construir seus espaços nas estruturas empresariais, aos novos profissionais de arte e cultura, que ainda estão em fase de conquista de seus espaços nas organizações. As capacidades, competências e linhas de atuação desses dois grupos de profissionais criam linhas de convergência e espaços de cooperação, aproximando formações técnicas que tradicionalmente se posicionavam em campos estanques. É verdade que a cultura, como atividade econômica, saiu do confinamento e superou fronteiras, mas ainda mantém vícios e dependências de uma atividade não totalmente legitimada pelos mercados tradicionais de trabalho. Ao contrário das carreiras de comunicação, que se encontram legitimadas há mais tempo em organizações privadas e no setor público.

No entanto, existem alguns sinais positivos para os profissionais da cultura. Um dos elos da cadeia produtiva em que as relações de trabalho parecem estar se redefinindo com mais velocidade é o das empresas privadas. Sejam elas mantenedoras de programas, institutos ou fundações culturais, ou apenas patrocinadoras de projetos culturais, as empresas têm enfrentado o desafio de identificar e atrair profissionais qualificados para seus quadros. Do lado dos profissionais, abre-se um promissor mercado de trabalho que, apesar das perspectivas pouco otimistas na economia, deverá criar oportunidades ainda pouco exploradas.

O momento é de transição, e terão mais chances de sucesso aqueles profissionais que demonstram as habilidades, posturas e experiências desejadas pelas empresas.

O mundo contemporâneo dos negócios está em estado de fluxo permanente e as empresas têm que se reinventar a todo o momento, ou correm o risco de serem deixadas para trás. Isso significa que as empresas precisam identificar e recrutar talentos com flexibilidade, agilidade mental, criatividade e curiosidade incansáveis capazes, eles mesmos, de sempre se reinventarem.

Os profissionais, por seu lado, não mais obedecem ao antigo padrão de seguir uma carreira lentamente ascendente em apenas uma organização. Mudam constantemente de função, de empresa e mesmo de setor econômico, e preferem buscar empresas e atividades que os desafiem, que os estimulem a se desenvolver e a se qualificar. E, é claro, ofereçam compensação material adequada. Como estão em constante mudança, precisam ser capazes de incorporar permanentemente novas habilidades e de aprender a lidar com equipamentos e serviços que ainda sequer tinham sido inventados quando iniciaram suas formações profissionais. É só nos lembrarmos do Twitter, do Facebook, dos tablets, da TV e do cinema 3D e de tantas outras inovações recentes.

Portanto, mais do que agregar habilidades técnicas ou específicas, o relevante para os jovens profissionais é saber acumular conhecimento e adaptá-lo de forma inteligente ao ambiente volátil das empresas e dos negócios.

O que vale para os profissionais contemporâneos, de maneira geral, é ainda mais relevante para os profissionais de comunicação e cultura. E com algumas vantagens: os cursos de comunicações, história, literatura, filosofia, arte e ciências sociais, que dominam a formação dos profissionais de comunicação e cultura, fortalecem as características, habilidades e atitudes hoje intensamente procuradas pelas empresas. Especialmente para aquelas organizações que desenvolvem programas ou atividades nas áreas de gestão e produção cultural, valorizam o pensamento criativo e a capacidade de construção de cenários, ampliando, assim, as possibilidades de colocação para os que possuem formação nessas áreas.

Aqueles que se formaram nas humanidades e nas artes, foram estimulados a desenvolver suas capacidades de pesquisar, analisar, avaliar grandes volumes de informação, estabelecer padrões e conexões de sentido, apurar o senso estético, construindo conhecimentos que poderão aplicar de forma inovadora nas empresas.

Narrativa, persuasão e cooperação

Agora que passamos da sociedade industrial para uma economia globalmente conectada, as bases do sucesso – para empresas e profissionais – passam a ser conhecimento, informação, criatividade e inovação.

Isso agrega um enorme valor à habilidade de comunicar de forma clara e persuasiva, pois não é mais suficiente ter uma ideia brilhante: será preciso ter a habilidade de trabalhar em equipe, de transformar a ideia em algo tangível e vendê-la para dentro e para fora da companhia.

Consciência Histórica

A formação em humanidades e ciências sociais ajuda na construção de contextos, não só para entender o que está acontecendo no mundo e na empresa, mas para imaginar aquilo que poderá acontecer e por quê. Pois, quando empresas e mercados estão em rápido processo de mudança, são valorizadas as pessoas capazes de apreender o quadro geral da situação e antecipar o que poderá se desenhar no futuro imediato.

Por outro lado, negócios geridos por pessoas ignorantes ou inconscientes do passado e da tradição estarão operando com conhecimento insuficiente da realidade, algo absolutamente desastroso no mundo contemporâneo. Em um mundo de habilidades múltiplas, em que o treinamento padronizado se tornou obsoleto, será importante, a esse novo profissional, lidar com a diversidade cultural como valor. Ou seja: qualquer ranço em relação a diferentes culturas, gênero ou sexualidade tende a ceifar as possibilidades de sucesso tanto do colaborador quanto do empreendimento.

Finalmente, o novo profissional das carreiras culturais e de comunicação deve procurar se qualificar permanentemente e aproveitar todas as oportunidades de agregar habilidades e conhecimento ao seu repertório, mas evitando a hiper especialização. Deve maximizar o potencial de sua carreira e procurar ser um profissional híbrido, combinando estudos teóricos e conceituais com aplicações práticas.

Em um mundo em constante transformação, em estado líquido, como define o sociólogo Zygmunt Bauman, não há espaço para certezas absolutas. Mas sempre haverá oportunidades para os profissionais que conseguirem balancear formação humanística consistente com conhecimentos técnicos específicos e atualizados. Terão ainda maiores chances de sucesso aqueles que demonstrarem habilidade para apreender e decodificar os contextos políticos e econômicos, e bem utilizarem sua capacidade reflexiva para o entendimento amplo do que é cultura e de sua relevância no processo social.


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