Desculpem-me, mas, para a concisão que nosso espaço exige, é necessário começar com um neologismo.
Muitos estudos têm sido feitos sobre o perfil dos profissionais de comunicação, o que traz a oportunidade de discutirmos o valor e a validade dos aspectos teóricos e técnicos das profissões que compõem o mix das atividades da área.
Antes de mais nada, temos que estabelecer a diferença entre o conhecimento que caracteriza a consultoria e a técnica. A consultoria coloca a serviço da empresa o conhecimento¹ e a capacidade desenvolvidos pelo profissional ao longo de seu aprendizado teórico e prático. Para além da retenção de exemplos ou conhecimentos anteriores, preparar-se como consultor consiste em adquirir e dominar a capacidade de raciocinar e desenvolver hipóteses a partir de fatos enfrentados no presente ou que possam vir a ser enfrentados no futuro (caso das crises, por exemplo). E fazer isso se apoiando em parâmetros teóricos definidos que, longe de limitar, impulsionam as soluções para caminhos com alta relevância para as situações enfrentadas. É muito comum que, assim fazendo, o consultor produza mais conhecimento. O consultor é um virtuose do raciocínio.
Já a técnica² consiste em uma habilidade, ainda que mental – e, como tal, pode ser treinada. O tempo contribui no desenvolvimento das habilidades do profissional técnico que ultrapassa as dificuldades expressas pelas diferentes necessidades das empresas que o contratam. O técnico é um virtuose da aplicação.
Ambos são absolutamente necessários à perfeita execução de uma obra, seja um planejamento de comunicação ou a elaboração de um sistema de indicadores de mensuração de resultados.
Acreditamos que o ideal seja procurar desenvolver as duas aptidões. Tanto a comunicação como a pesquisa – profissões relativamente recentes e ainda ancoradas em outras disciplinas - sofrem com essa falta de definição com o desconhecimento dos contratantes.
Os profissionais que trazem, pela sua própria formação, as duas características, são raros, mas existem.
Deixo a vocês a reflexão sobre os profissionais de comunicação (e particularmente da comunicação interna) e falarei um pouco sobre pesquisa, onde a luta é árdua.
Em uma primeira reunião com uma empresa, não carrego a maleta surpresa dos mágicos, embora eu perceba que isso sempre cause certa frustração. A mesma coisa ocorre nas palestras que profiro. Sempre que tenho a ocasião, peço a meus interlocutores que não me tratem como uma simples ferramenta, nem mesmo como um conjunto delas, alojado em um cinto de super-herói que, aliás, não uso.
Preciso ouvir e entender o negócio da empresa, o relacionamento com seus públicos, pois precisarei desenhar uma solução que denominamos ad hoc (ou seja, sob medida) para atender às necessidades do momento. Isso, para mim, é o papel do “consultécnico”.
É somente depois de me debruçar sobre o contexto vivido pela empresa, que explica sua necessidade, que me sirvo, ao mesmo tempo, de meu conhecimento téorico, assim como das habilidades que adquiri com diferentes ferramentas ao longo do tempo para construir uma proposta, se não original (nem sempre é possível chegar a isso), ao menos completamente adequada e sob medidas às necessidades da empresa contratante.
Ao final do processo, um novo desafio: transformar as informações coletadas e o conhecimento produzido em um documento palatável e elucidativo. E em bom português. Mas isso já é outra conversa.
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¹ Conhecimento: s.m. Ato ou efeito de conhecer. / Ideia, noção de alguma coisa: conhecimento das leis. / &151; S.m.pl. Saber, instrução, cabedal científico: homem de grandes conhecimentos.(Dicionário Aurélio)
² Técnica: s.f. Conjunto de métodos e processos de uma arte ou de uma profissão: técnica cirúrgica. / P. ext. Maneira (hábil) de agir, método. (Dicionário Aurélio)