Crise da informação e crise ambiental: Perspectivas em conflito na sociedade de risco
Um texto produzido por Milene Rocha Lourenço
A sociedade contemporânea, transitória e plural, marcada pelas mudanças sociais, culturais, econômicas e ambientais, tem vivido momentos de descentralização e conflito, onde os contornos da sociedade industrial se dissolvem e, ao mesmo tempo, as características da modernidade ainda estão muito presente (BECK, 2010). Essas transformações e constantes mutações no ambiente, advindas principalmente a partir do século XIX, quando inicia-se o processo de industrialização, tem gerado danos à saúde e à integridade física dos sujeitos, que se veem em constante contato com produtos e substancias contaminadas.
Para Ulrich Beck essa realidade se explica na teoria que ele denomina como Teoria da Sociedade de Risco, onde os riscos são distribuídos de maneira democrática. Mesmo que haja uma diferença temporal, que varia de acordo com a classe social, os riscos, em algum momento, afetará a todos de maneira homogênea. Outros riscos não respeitam o tempo ou condições financeiras, impactam de tal forma que atinge a todos igualmente, como, por exemplo, o caso da poluição atmosférica e a degradação ambiental, que não distinguem diferenciações sociais.
Situações como estas são alarmantes e urgentes, o que requisita um outro olhar das organizações para essa realidade. Por isso, nota-se que a questão da sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável tem conquistado espaço nas pautas e discursos organizacionais. As informações sobre a crise ambiental são disseminadas com o propósito de demonstrar a preocupação das organizações com esse tema e também, ou na maioria das vezes, para preservar sua imagem e a reputação no cenário competitivo que se encontra. Organizações que não se atentam a esse contexto recebem o descrédito e a descrença da sociedade.
No entanto, vive-se um paradoxo complexo, onde as organizações, que representam as maiores produtoras e reprodutoras dos riscos na sociedade, defendem a ideia de um mundo sustentável. Como isso é possível? Por meio da informação transmitida nos discursos sustentáveis! Beck (2010) explica que embora as organizações produzam os riscos e ameacem a vida do planeta, suas ações são justificadas por argumentos que alimentam a esperança de melhoria na qualidade de vida, menor desigualdade social, entre outros benefícios.
A informação, nessa perspectiva, está a serviço de alguns poucos atores sociais, em função de seus objetivos particulares (SANTOS, 2000). As concepções de melhorar as condições de vida da sociedade e diminuir a desigualdade social se configuram como ilusórias, uma vez que o próprio sistema econômico que vivemos requisita, estruturalmente, a desigualdade estre os seres humanos para que haja exploração da força de trabalho e, com isso, a obtenção do lucro (SANTOS, 2000). Por esses motivos, questiona-se a veracidade e a validade das informações que são disseminadas nos discursos organizacionais sobre a sustentabilidade.
A informação sobre a crise ambiental encontra-se em crise. O processo de informar, de maneira transparente e com responsabilidade, tem cedido espaço à informações articuladas de forma a convencer os sujeitos a respeito da preocupação da organização com a questão ambiental. “O que é transmitido à maioria da humanidade é, de fato, uma informação manipulada [...] Estamos diante de um novo “encantamento do mundo”, no qual do discurso e a retórica são o princípio e o fim” (SANTOS, 2000, p. 20).
Diante da falta de confiabilidade e transparência na disseminação de informações sobre os riscos ambientais, de discursos enviesados e parciais, vê-se a importância de uma comunicação na constituição de um discurso social para uma mudança efetiva de estilos de vida, onde a responsabilidade pela sustentabilidade do planeta deve ser compartilhada em termos de novos valores quanto ao bom uso da economia e da ecologia.
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Referências Bibliográficas:
BECK, Ulrich. Sociedade de Risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Editora 34, 2010.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. São Paulo. Record, 2000.
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