O bom profissional de comunicação não se forma somente na universidade. O aprendizado em boas instituições é um ótimo começo, mas é só o início de uma jornada sem fim. Continuamos sempre aprendendo, evoluindo, nos atualizando com as mudanças. Principalmente na área de comunicação. Sendo assim, a atividade de coaching em comunicação tem por obrigação considerar conhecimento e experiência. Pressupõe-se do coach, além do domínio sobre o tema, a habilidade em lidar com pessoas, de considerá-las, motivá-las, alertá-las sobre possíveis obstáculos e orientá-las para que consigam adquirir segurança para seguir o rumo. A responsabilidade do coach é séria, não basta ser um bom comunicador. É fundamental também saber desenvolver pessoas. Identificar como elas funcionam melhor e montar uma equação de competências, fragilidades e realidade de mercado. Dizer o que é certo ou errado sem demonstrar como se chega a tal conclusão é o mesmo que dar o resultado da equação sem ensinar como ela é resolvida. Considerando que em comunicação os caminhos não são fixos, oscilam constantemente caso a caso, pessoa a pessoa, momento a momento. Não há uma HP ou uma planilha Excel para o atalho. Nossas melhores ferramentas são os calos adquiridos na jornada. Calos que não doem, dão orgulho e apontam caminhos.
No entanto, nenhum coach sabe tudo. Nunca saberá. Mas pode ser honesto e utilizar a ignorância como didática para demonstrar como descobrir o que não sabe. A febre de coaching, como todo modismo (entendendo moda como um processo cultural), trouxe os bons e os maus exemplos. Houve uma banalização da atividade promovida pela oportunidade de negócios na área de treinamento. Algumas empresas estão mais preocupadas em bater as metas quantitativas de treinamento desconsiderando a efetividade da qualidade. Prova disso é a forma como são apresentados resultados no final do ano. Investimos “X” em treinamento. “X” pessoas foram treinadas. Ao todo tivemos “X” horas de treinamento. E?
O bom coach realiza diagnóstico e prognóstico. Mensura resultados em conjunto não apenas no fim, mas durante seu trabalho. Só assim corrige falhas de percurso. Todo coach deveria ler “Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro” de Edgar Morin, e perceber a amplitude da atividade. Apesar de a obra ser dirigida às crianças e adolescentes, pode ser refletida no coaching por consistir em construção de conhecimento.
Segundo Morin,os sentidos e nossos desejos ou medos nos levam, com certa frequência, as falhas de percepção originando erros e ilusões. Todo conhecimento é passível de erro de interpretação. E por consequência ao erro intelectual. Por isso a educação (ou coaching) deveria dedicar-se também a origem dos erros e ilusões. O ideal seria possuir a autocrítica das próprias crenças e ideias. Evitando assim a racionalidade que pode normatizar o conhecimento inibindo contestações, o inesperado ou o novo. As interrogações alimentam o conhecimento.
O autor considera que não podemos deixar de considerar os problemas globais, um alinhamento com o universo, pois estamos todos conectados. Conhecer o espírito humano para organizar a quantidade gigantesca de conhecimentos é uma boa tática para ações fragmentadas. Isso porque quanto mais crescer a inteligência geral, mais facilmente se trabalhará com problemas especiais. Logo, o bom comunicador jamais se limitará aos conhecimentos específicos de comunicação, se alimentará do mundo.
Acredito que a crescente automação dos processos trouxe a tendência da automação humana, que é antinatural e contraditória. Simultaneamente ao caminharmos para isso, tentamos nos livrar dos problemas gerados. Morin defende ensinar a condição humana em um ambiente no qual definir o ser humano está ficando muito complexo. O ser humano carece de restauração. Questionar nossa condição humana significa tentar entender nosso papel no universo.
Todos os Sete saberes se adequam ao coaching, mas o de “enfrentar as incertezas” e o de “ensinar a compreensão” desinteressadapossuem apelos especiais. Incertezas existem para todos, são reais. É importante ensinar estratégias de enfrentamento para os imprevistos que certamente surgirão. A compreensão contribui para reduzir as incertezas. Para o autor, compreensão é meio e fim da comunicação humana, mas não nos é ensinada. Morinlembra o “ruído” que interfere na transmissão da informação, ignorância sobre outras culturas, entre outros.
Para um coachee, cliente sem experiência ou com experiência que precisa ser aprimorada, é difícil avaliar a capacidade de seu coach. Aos olhos de quem pouco sabe é complicado avaliar quem sabe um pouco mais. Uma avaliação consistente só poderia ser realizada após um bom tempo de experiência. As organizações têm a responsabilidade da contratação do profissional ideal, assim como precisam saber exatamente o que desejam conquistar com a ação e em quanto tempo. De preferência montar um cronograma com etapas avaliadas em tempo real.
Coaching consiste em facilitar e/ou transmitir conhecimentos incentivando o coachee. Essa é a primeira compreensão. Mas um dado é real: não se pode ensinar o que não sabe, em especial para profissionais já experientes. Caso tal erro seja cometido, logo as máscaras caem e o coach se relevará frágil. Para ser coach, técnico em inglês, é indispensável ter vivência na área de conhecimento. Como no caso dos técnicos de esportes, gente que sabe o que faz e conhece a profissão.
Referências
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2000