Grandes Eventos e o Trânsito em São Paulo
Há alguns dias, li uma mensagem no Facebook sobre a possibilidade de não ocorrer a abertura da Copa do Mundo em São Paulo. Na mensagem, havia o compartilhamento de uma matéria da UOL Esporte na qual informava haver uma pressão de Ricardo Teixeira, presidente da CBF, para que o jogo aconteça no Rio de Janeiro. Sou paulistana, nativa da cidade de São Paulo e ciente de vários problemas da cidade. Viver aqui é um desafio diário. Pelo alto poder aquisitivo que a região concentra, todos os setores têm interesse em investir. Por mais que exista um movimento que estimule outras praças, São Paulo ainda é o mercado mais cobiçado.
Com cerca de 11.300.000 de habitantes, a cidade é a 6ª maior do mundo. Possui o 10° maior PIB do mundo e, sozinha, representa 12,26% do PIB brasileiro. Das multinacionais presentes no País 63% estão aqui. É responsável por cerca de 30% da produção científica brasileira. Mas esses números não representam apenas os nativos. Por ser a cidade mais rica do Brasil atrai migrantes de outras as regiões. Todos os números aqui são gigantes e, por isso, o forte poder de atração para quem deseja lucrar. Afinal, como desperdiçar um mercado com tantos consumidores. Fazer sucesso no mercado mais disputado é vencer na vida. São Paulo é conhecida como a cidade do trabalho e de fato o é. O perfil dos migrantes é composto, em sua maioria, por pessoas que desejam vencer e por isso trabalham muito, dando continuidade a fama da cidade. Mas também gostamos bastante de cultura e lazer, e esse setor também é bem explorado por aqui.
Contudo, os números gigantes, infelizmente não representam apenas aspectos positivos. A violência é grande, a estrutura de saúde é precária, há miséria e o transporte público ainda deixa muito a desejar. Somos vítimas da falência do poder público como tantos outros. Problema por aqui não falta. O que falta é tempo.
Passamos cada vez mais horas no trânsito, pois a cada mês cerca de 30.000 carros são emplacados na cidade, ampliando os congestionamentos. Pela precariedade do transporte público em quantidade e qualidade, em média 50% da população possui um carro. A cidade tem a maior frota de táxi da América Latina e a maior frota de helicópteros do mundo. Aliás, quem frequenta o aeroporto de Congonhas sabe que temos congestionamentos na terra e no ar. Nosso metrô tem pouquíssimas estações proporcionalmente ao tamanho da cidade e por isso são lotados. Os ônibus, também lotados, não são suficientes e se fossem, ampliariam ainda mais os congestionamentos. Uns desrespeitam os outros. Ônibus não respeitam suas regras e fazem manobras radicais. Taxistas sem passageiros andam devagar e com passageiros ficam mais impacientes. Motociclistas tomaram conta das ruas, acreditam que ao tocarem suas buzinas todos devem parar para que eles passem, até pelas calçadas andam. São conhecidos por destruírem retrovisores. Em algumas avenidas como a Rebouças, por exemplo, às vezes fica difícil passar de uma pista para outra em virtude da quantidade de motos nos corredores. Motoristas comuns às vezes certos, outras vezes errados tentam se organizar nesse ritmo.
Mas o fato é que todos, profissionais ou não dos volantes, tornaram-se mais estressados e impacientes e estão quase sempre atrasados. Imprevisto é o que mais existe nas ruas de São Paulo. Com chuva fraca todos reduzem a velocidade e com a forte todos param e uns flutuam nas enchentes. Se motociclista cai o trânsito para, considerando que segundo o Hospital das Clínicas três motociclistas morrem por dia na cidade, nas estatísticas do CET esse número é menor, mas é porque eles não contabilizam os que morrem nos hospitais. Se um caminhão entala embaixo de uma ponte, outro congestionamento. Ou seja, existe tanto imprevisto no trânsito de São Paulo que a palavra“imprevisto” não se aplica mais, tornou-se regra, o imprevisto tem que ser previsto. Chegar atrasado e atribuir o problema ao trânsito não cola mais. Temos que nos conscientizar ao sair de casa que em algum momento poderemos estar em um congestionamento. Isso ocorre até de madrugada, pois é quando a prefeitura realiza algumas obras em função do horário ter menos movimento. E as greves nos transportes coletivos? Quando ocorrem é de dar dó da população, não há quem não seja afetado.Pensem naqueles que levaram meses aguardando uma consulta médica ou um exame importante e quando chega o dia, não tem condução por causa da greve.
A exceção hoje é conseguir não pegar trânsito, dia de sorte grande. Fato é que o trânsito de São Paulo já passou o limite do caos há muitos anos. Hoje não sei mais qual é a expressão para descrever esse horror e a infinidade de malefícios que causam. A Associação Brasileira de Medicina de Tráfego afirma que muito tempo no trânsito pode causar desde irritação, dor de cabeça, até diabetes, gastrite e males do coração. Cotidianamente somos atrasados, estressados e doentes. Sorte daqueles que habitam perto do trabalho. Aliás, será que os processos seletivos nas corporações consideram a proximidade da moradia? Se todos os dias são assim, com a falta de estrutura atual, o que ocorre quando acontecem grandes eventos em São Paulo?
Lembro quando George W. Bush esteve em SP pela última vez como presidentedos EUA e nem era um grande evento, foi uma breve passagem, mas várias ruas ficaram interditadas, pois havia a necessidade de opções de rotas por razões de segurança, o que piorou muito o trânsito na cidade.
Recentemente, na realização da Fórmula Indy no início de maio, em virtude da chuva, a corrida foi adiada para segunda-feira pela manhã, dia útil. Por isso um trecho da Marginal Tietê permaneceu interditado no início da semana em horário de pico. Sem contar os prejuízos financeiros envolvidos, a ira dos cidadãos foi colocada em teste.
Lembro também de um dos shows do U2, também em dia útil, uma quarta-feira e horário de rush. Os congestionamentos foram gigantescos. Para a banda chegar ao Estádio do Morumbi precisaram interditar ruas e escolta-los, pois a cidade parou. Uns queriam ir para o estádio enquanto outros desejavam voltar para suas casas e ninguém ia a lugar nenhum.
Os habitantes da cidade estão cada vez mais avessos a situações que interfiram em seu direito de ir e vir, que atrapalham em seus compromissos causando diversos transtornos. A prefeitura continua tentando atrair cada vez mais eventos para cidade e patrocinadores por aqui não faltam, tamanha é a visibilidade. Eventos são importantes por várias razões, trazem divisas, geram exposição, atraem turistas, etc. Particularmente gosto muito dessas atividades e a população, que trabalha duro, merece e precisa de entretenimento e lazer. Além disso, temos mão de obra qualificada para eventos que precisa ter trabalho. Contudo, a cidade não tem estrutura para receber grandes eventos, o que é uma pena. Essa cidade, tida como tão rica, não consegue sequer oferecer transporte público decente. Políticos quando questionados respondem sobre o que será feito, valorizam os próprios feitos e culpam gestões anteriores pelo atraso no setor, além de continuarem a prestigiar a indústria automobilística, que é a única que lucra oficialmente nesse contexto e nada colabora para amenizar o que ajuda a prejudicar.
Lamento, mas por enquanto não desejo nada da Copa do Mundo na cidade de São Paulo, assim como nenhum outro grande evento. Merecemos mais respeito, dignidade e qualidade de vida.
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