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COLUNAS


Denise Monteiro
denisemonteiro4@hotmail.com

Gestora de negócios na área de Comunicação Empresarial, ministra palestras, cursos e treinamentos na área de comunicação. Atuou em organizações como Grupo Ogilvy, Rede Globo de Televisão, Unilever e Tetra Pak. Foi diretora da D+D Eventos. Foi coordenadora de pós graduação na FAAP; e professora na graduação, pós-graduação e MBA na FAAP e Anhembi Morumbi.
Graduada em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas. Pós-graduada em: Comunicação Empresarial e Gestão de Serviços pela ESPM e no Máster em Tecnologia Educacional pela FAAP. Mestre em Comunicação e Práticas de Consumo pela ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing.

Sons de Verão

              Publicado em 20/01/2010

Acredito que por nossas memórias afetivas, sempre ansiamos pela chegada do verão. Associamos festas, presentes, romances, férias, diversão, descanso, encerramento de um ciclo e início de outro. Desejamos coisas boas aos outros e a nós mesmos. Parece que uma energia coletiva e utópica nos envolve em magia. Temos fé que nos livraremos de problemas antigos e que os ótimos acontecimentos virão. Isso é bom, muito bom. Pois nos move, nos faz refletir, pensar em mudanças, buscar novos caminhos, entre outras divagações.

Por também ser professora, aproveito as férias acadêmicas para descansar, embora particularmente não goste de viajar neste período. Todos os lugares estão cheios, os serviços não são dos melhores, além dos preços é claro.

Opto por ficar na praia, onde temos um apartamento aconchegante de frente para o mar em um ponto que por questões imobiliárias não superlota de guarda sol. Este “parece” o lugar ideal. Conseguimos fugir do excesso de congestionamento da estrada, estocar alimentos e bebidas para não termos que pegar o carro em hipótese alguma, caso contrário: trânsito + caos = desgaste!

E vamos a “La Playa”! Justamente por frequentar o local desde criança, observo as transformações. Os ambulantes se dividem em algumas categorias: os legais, os ilegais, os fixos, os temporários, os silenciosos e os barulhentos. Normalmente os fixos são os que estão legalizados e são os menos barulhentos, pois têm freguesia feita. É o caso da Verônica dos salgadinhos, que acompanhamos o crescimento de seus filhos que foram educados com o lucro de suas deliciosas empadinhas. Este verão o filho mais velho já a ajuda na praia. Ela é muito silenciosa, não fala nada. Acessa a previsão do tempo na véspera para calcular a quantidade e decidir se vale a pena ir à praia ou não. Seus clientes ficam ligados e atentos a sua chegada. Ao avistar o boné rosa, salivamos e disputamos prioridade. Atualmente usa uma camiseta de uso obrigatório dos ambulantes legais que é muito quente, não é apropriada para a situação, fiquei com pena. As grandes indústrias de sorvetes se preocupam com isso, pois é importante que o sorveteiro sinta-se bem em seu local de trabalho, gera mais lucro.

Contudo, nem para os grandes é fácil trabalhar no verão. A Garoto lançou um barulhento sorvete. No céu paragliders sobrevoavam a praia chamando mais a atenção pelo ronco de seus motores do que pela beleza ou ineditismo que proporcionaram. Em seguida, promotores vestidos com as cores da marca, desembarcaram de várias vans adesivadas e distribuíram saquinhos de lixo. Enquanto isso os banhistas perguntavam uns aos outros, mas cadê o sorvete? Muito mais tarde, apareceram os sorveteiros com pesados isopores carregando o lançamento. Imaginando o que havia acontecido, perguntei a um deles se não iriam receber carrinhos. Ele respondeu que não estavam prontos e que receberiam posteriormente. Algum problema sério houve. No Brasil cerca de 50% do faturamento anual da indústria de sorvete, ocorre nos 4 meses de verão. Um erro como este compromete gravemente o desempenho anual. Sabemos que pertencem a um grupo grande e irão aprender, mas não começaram bem. Só na praia que frequento, contei 8 marcas de sorvetes, além do novo Icegurt (um chup-chup de iogurte) que concorre na mesma categoria de refrescância. Todos, dos mais caros aos mais baratos trabalham com carrinhos. Nos dias que se sucederam, quase todos os sorveteiros da Garoto improvisaram um carrinho ou bicicleta para carregar o pesado isopor. Melhor assim, pois com este calor de El Ninho, tinha pena só de olhar. O uniforme deles é adequado na cor e no tecido.

Dos ilegais temporários, há uma simpática moça que vende suco e sanduíche natural. Ela é funcionária da Casas Bahia e aproveita as férias para ampliar sua poupança. Demonstra talento e conquista clientes com um largo sorriso, mas o sanduíche e o suco precisam melhorar. A boa imagem gera a expectativa de que os produtos são deliciosos. Esse equilíbrio entre imagem e realidade precisa ficar mais alinhado.

Na mesma categoria estão os vendedores de redes, colchas e toalhas de mesa. Normalmente chegam do nordeste para aproveitar os consumidores do sudeste. Mesmo quando disfarçadamente vejo algo que gosto, fico quieta. Pois se perguntar o preço eles mostram tudo e ficam tentando negociar, gerando constrangimento. Acabando o verão, eles retornam as suas cidades.

Entre todos existem os figuras. Notamos a falta de um senhor cantor que vendia cocadas. Ele sempre gritava “comprem hoje que amanhã eu não venho”. Este ano ele não veio... Seu amigo sorveteiro, que também canta os sabores dos sorvetes e que trabalhou com ele por 17 anos em um estaleiro, também não sabe dele. Espero que esteja cantando e vendendo cocadas em outras praias.

Não sei o que houve, mas diminuíram sensivelmente os catadores de latas. Será que o preço da lata baixou ou a concorrência estava grande e diversificaram o negócio?

No céu também tem os aviões monomotores que buzinam para que olhemos suas faixas de propaganda. Os aviões buzinam...

Na terra, passam os carros de som divulgando os shows e baladas, o trenzinho que chama as crianças com o sino e algumas vezes por dia também ouvimos as sirenes de ambulâncias socorrendo banhistas pouco habituados ao mar.

Todavia, no geral os ambulantes se multiplicam a cada ano. É difícil ler ou conversar na praia sem ser interrompido. Dos que lembro vendem: protetor solar, óculos de sol, doces, tapioca, biscoito de polvilho, bijú (com trac-trac), salgados, cocadas, palitinho de camarão, refrigerante, cerveja, água, suco, água de coco, milho, queijadinha, castanha de cajú, amendoim, balas de coco, bombons de leite ninho, jornal, revistas, chapéus, bolsas, vestidos, batas, tapetes, sache aromático de sândalo, brinquedos com bolhas de sabão, papagaio de plástico que canta, pipa, cata vento, algodão doce (com buzina), chinelos, cangas, CDs e DVDs (piratas), jogos da megasena (Caixa), queijo coalho, pastel, raspadinha, acarajé, raquetinha de matar mosquito, quebra-queixo, porta-lata com distintivo de times, bijuterias, tatuagem de hena, raquetinhas de frescobol, bolas, barquinho de madeira e sabe-se lá mais o quê... Este ano ainda não vi nenhum repentista...

Fazendo uma conta rápida, sem considerar que alguns produtos têm mais ambulantes que outros, citei 51 produtos. Em média, um ambulante a cada um minuto e dezessete segundos. Mas é bem mais. Como comentei, somente de sorvete existem 8 marcas com vários sorveteiros. Essa conta é apenas para destacar o movimento praiano. O tempo deve ser bem menor que um minuto.

Lembrando também que se alugam pranchas para surf, bóias para crianças, guarda sol e cadeiras. Também existem barracas de massagem e o que mais a criatividade permitir.

A livre e forte concorrência na praia, faz com que os vendedores disputem os clientes no grito. É um shopping ao contrário, ficamos parados e as vitrines passam. As férias estão ficando cada vez mais profissionalizadas. Eu que desejava aproveitar para colocar a leitura em dia, tenho que me isolar para buscar concentração. Aquele descanso do imaginário não existe mais. Queria estar no Forte dos Andradas, praia vizinha, silenciosa, do exército, onde neste momento descansa o Presidente da República.


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