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Luís Antônio Giron
giron@aberje.com.br

Jornalista e escritor, Doutor em Comunicações e Artes e Mestre em Musicologia pela Escola de Comunicação e Artes da USP. É editor da revista Comunicação Empresarial e editor de Publicações da Aberje. Colabora nos jornais Valor Econômico e Folha de S. Paulo. Trabalhou como editor e repórter especial nas seguintes publicações: Folha de S. Paulo, Veja, O Estado de S. Paulo, Gazeta Mercantil e Época. Como gerente de Multimídia da Fundação Padre Anchieta, reorganizou o portal cmais. Produziu e redigiu documentários e programas na TV Cultura. Livros publicados: Ensaio de Ponto (romance, Editora 34, 1998), Mário Reis, o fino do samba (biografia, 2001), Até nunca mais por enquanto (contos, Record, 2004), Minoridade crítica: folhetinistas diletantes nos jornais da corte (Edusp/Ediouro, soo4), Teatro de Gonçalves Dias (Martins Fontes, 2005) e Crônicas Reunidas de Gonçalves Dias (Academia Brasileira de Letras, 2013).

Os novos corpos de Barbie e o ideal de beleza

              Publicado em 29/01/2016

Barbie é a boneca que mais vende no mundo. Seu prestígio, acumulado desde que foi lançada, em 9 de março de 1959, baseava-se em um ideal de beleza perfeita: a garota longilínea, pele branca, de olhos azuis e traços delicados. Desde o princípio, nas suas versões loira e morena, Barbie sempre transmitiu uma mensagem de perfeição olímpica ocidental. Tornou-se um paradigma de atitude a ser seguido por meninas e adolescentes do mundo todo.  Claro que se tratava de uma meta inatingível, como todos os modelos de beleza. O aspecto inalcançável ajudou a fomentar o desejo de ascensão cultural e de transformação do corpo.

Assim, Barbie tornou-se uma das marcas mais eminentes do mundo. E o motivo de sua importância está em uma mensagem nítida: o corpo feminino jovem é um produto sujeito a manipulações em nome da beleza. Quando a Mattel comprou os seus direitos de fabricação, em 1964, Barbie já funcionava como um símbolo da época de ouro do consumismo. Quantas meninas e mulheres não se converteram em Barbies por força de todo tipo de cirurgia, tratamentos, dietas mágicas etc.?

Dessa forma, Barbie ensina que o corpo é mutante. Ela parece repetir a lição do pensador francês Roland Barthes: “O corpo é histórico”.  Ao longo de 57 anos, a boneca sofreu pequenas mudanças no tom da pele, no formato do rosto etc. O modelo inicial era inspirado em beldades hollywoodianas: deusas platinadas e aparentemente indiferentes ao comum dos mortais.

Agora, Barbie vai sofrer a transformação mais importante de sua carreira. A Mattel anunciou que vai lançar três modelos da boneca: alta, pequena e curvilínea (tall, petite, curvy), com variações de tom de pele e cor de cabelo. A beleza perfeita dá lugar à estética da variedade.

Obviamente, Barbie reflete as alterações de comportamento e mentalidade na passagem do século 20 para o 21 – e das formas de comunicar uma marca e um produto. As três novas Barbies apelam para uma certa inclusão de características físicas antes banidas da estética da perfeição. Se há ainda um ideal de beleza, ele se tornou passível de questionamento.

O espírito do nosso tempo é relativista. Por conseguinte, só falta Barbie adotar a diversidade e inspirar a Mattel a lançar Barbies em versões mais ousadas, como trans, gay e feminista (desprovida de apelo sensual, talvez?). E como ficaria Ken nesse processo de transformação? Se a boneca quiser se manter no pedestal de vendagens e servir como epítome da beleza, terá de acompanhar as mutações a que todos nós estamos submetidos.  

 


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