Os novos corpos de Barbie e o ideal de beleza
Barbie é a boneca que mais vende no mundo. Seu prestígio, acumulado desde que foi lançada, em 9 de março de 1959, baseava-se em um ideal de beleza perfeita: a garota longilínea, pele branca, de olhos azuis e traços delicados. Desde o princípio, nas suas versões loira e morena, Barbie sempre transmitiu uma mensagem de perfeição olímpica ocidental. Tornou-se um paradigma de atitude a ser seguido por meninas e adolescentes do mundo todo. Claro que se tratava de uma meta inatingível, como todos os modelos de beleza. O aspecto inalcançável ajudou a fomentar o desejo de ascensão cultural e de transformação do corpo.
Assim, Barbie tornou-se uma das marcas mais eminentes do mundo. E o motivo de sua importância está em uma mensagem nítida: o corpo feminino jovem é um produto sujeito a manipulações em nome da beleza. Quando a Mattel comprou os seus direitos de fabricação, em 1964, Barbie já funcionava como um símbolo da época de ouro do consumismo. Quantas meninas e mulheres não se converteram em Barbies por força de todo tipo de cirurgia, tratamentos, dietas mágicas etc.?
Dessa forma, Barbie ensina que o corpo é mutante. Ela parece repetir a lição do pensador francês Roland Barthes: “O corpo é histórico”. Ao longo de 57 anos, a boneca sofreu pequenas mudanças no tom da pele, no formato do rosto etc. O modelo inicial era inspirado em beldades hollywoodianas: deusas platinadas e aparentemente indiferentes ao comum dos mortais.
Agora, Barbie vai sofrer a transformação mais importante de sua carreira. A Mattel anunciou que vai lançar três modelos da boneca: alta, pequena e curvilínea (tall, petite, curvy), com variações de tom de pele e cor de cabelo. A beleza perfeita dá lugar à estética da variedade.
Obviamente, Barbie reflete as alterações de comportamento e mentalidade na passagem do século 20 para o 21 – e das formas de comunicar uma marca e um produto. As três novas Barbies apelam para uma certa inclusão de características físicas antes banidas da estética da perfeição. Se há ainda um ideal de beleza, ele se tornou passível de questionamento.
O espírito do nosso tempo é relativista. Por conseguinte, só falta Barbie adotar a diversidade e inspirar a Mattel a lançar Barbies em versões mais ousadas, como trans, gay e feminista (desprovida de apelo sensual, talvez?). E como ficaria Ken nesse processo de transformação? Se a boneca quiser se manter no pedestal de vendagens e servir como epítome da beleza, terá de acompanhar as mutações a que todos nós estamos submetidos.
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