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Luiz Antônio Gaulia
luiz.gaulia@estacio.br

Jornalista. Mestre em Comunicação Social pela PUC - Rio. Especialista em Comunicação Empresarial pela Syracuse University - ABERJE. Pós-graduado em Marketing e em Comunicação Jornalística. Ex-Gerente de Comunicação da CSN - Cia. Siderúrgica Nacional e da Alunorte. Atuou também no O Boticário e no Grupo Votorantim. Atualmente é Gerente de Comunicação Corporativa e Sustentabilidade da Estácio Participações.

Os Desengajados

              Publicado em 13/04/2015

“Uma excelente pessoa vale por três regulares”
Adir Ribeiro da Endeavour, Rev. Exame, março 2014.

 

 

Cena 1

Entro numa repartição pública e a atendente conversa animadamente com uma colega ao telefone. Aguardo. O tempo urge. A fila cresce. A funcionária termina sua conversa. Sem qualquer cerimônia, sai do balcão ignorando os contribuintes que aguardam atendimento. O tempo passa, meu Whatsapp acumula mensagens de trabalho. Respondo digitando cada uma delas e tentando ganhar preciosos minutos do tempo que a repartição pública me toma. A funcionária retorna. Entrego a papelada requisitada na minha última visita. Cópia disso, daquilo e daquilo outro. Pagamentos no banco... falta o documento tal. Como assim? A funcionária chama o próximo na fila. Diz que é o sistema, não é com ela. Parece que falta um papelzinho burocrático a mais, pede para remarcar e voltar outro dia. Para finalizar, ela me diz diante de minha surpresa: “Senhor, a culpa não é minha. É o sistema. Eu sou uma mera funcionária”.

 

Cena 2

Estou no balcão de uma empresa aguardando um pedido. Demora... Dois empregados começam a se acusar mutuamente na minha frente. Um acusa o outro. As caras estão pra lá de mal humoradas. Entrego meu pedido. A resposta é negativa, não podem fazer nada sobre o meu caso. Para finalizar, um deles me diz: “Senhor, a culpa não é minha. É a companhia. Eu sou um mero empregado”.

 

Qual a conclusão de histórias como essas, conhecidas por todos nós? Eu diria numa única palavra: desengajamento. Um mal que vicia milhares de profissionais e de pessoas todos os dias. Um mal que se alastra, contamina e derruba a satisfação de clientes, a preferência dos consumidores e subtrai o valor de marcas e a confiança nas instituições governamentais.

Não sei como começa, mas sei que esses trabalhadores literalmente desengajados, sem qualquer compromisso com suas obrigações profissionais e suas responsabilidades e que gostam de colocar a culpa em algum “sujeito indeterminado” como o sistema, a companhia e o governo, depredam o valor das organizações nas quais trabalham.  São as laranjas podres. Ou se recuperam através de treinamentos, conversas, orientações profissionais e coaching ou devem ser demitidos.

O desengajamento pode ser fruto da desatenção das lideranças para com suas equipes de trabalho, mas, independentemente dos motivos, é uma praga que pode contaminar uma empresa, um governo e até uma sociedade inteira. Sei que pode ser também fruto de uma total falta de comunicação interna que esclareça de forma transparente os atos da empresa, da organização para os empregados. As pessoas reagirão como adultos se forem tratadas como adultos, mas também reagirão como crianças se forem tratadas como tais. Portanto, os desengajados podem contaminar uma organização sempre que a comunicação interna não traduzir para os colaboradores de forma clara as decisões, os rumos e as mudanças que qualquer instituição precisa tomar frente a cenários de crise ou mesmo em mercados cada vez mais competitivos.

É dever de quem quer fazer as coisas funcionarem, de quem tem compromissos e zelo pelo que faz, cobrar empenho e eficiência dos outros. É preciso saber comunicar os processos de trabalho e as decisões com eficiência, frequência e clareza. Honrar o mérito de cada um também é fundamental. Valorizar os bons, os dedicados, os eficientes e qualificados. E comunicar tudo isso com clareza, lembrando que o diálogo é o motor da motivação. 


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