Olho no olho, como será o amanhã?
“(...) E a maior parte da podridão pode ser perfeitamente atribuída ao comportamento pouco responsável de grande parte dos dirigentes em razão da falta de accountability que grassa no país.”.
José Eustáquio Oliveira de Souza[1]
“(...) Nossas escolhas de hoje, para o bem ou para o mal, continuarão a determinar o tipo de amanhã
que teremos de encarar.”.
Luiz Fernando Brandão[2]
Os profissionais de Recursos Humanos das grandes empresas sabem muito bem o quanto é difícil registrar indicadores positivos de engajamento. Geralmente são as pesquisas de clima que retratam exatamente essa dificuldade. Alcançar e manter um alto nível de comprometimento, interesse e energia dos empregados, no dia a dia, é uma conquista de poucas organizações. O engajamento é como um pulso batendo forte e vibrante quando a empresa tem a sua marca admirada, possui uma gestão eficiente e uma comunicação transparente e confiável. Tem seus clientes e acionistas satisfeitos, enquanto reflexo da dedicação e do empenho dos seus empregados. Quando a questão é engajamento, o time de Comunicação Interna sabe que são os líderes os motivadores principais das pessoas dentro da empresa. A palavra do líder é a fonte da credibilidade para qualquer ação de comunicação interna.
Nada mais natural portanto, durante uma crise, que a estratégia da comunicação interna seja reforçar a transparência, os fluxos de informação e, assim, estreitar a confiança na diretoria. São os executivos do alto escalão e, claro, o próprio presidente da empresa, que serão vistos como o exemplo a ser seguido. Seus atos falarão mais alto que mil palavras. Assim, se as crises nascem em diferentes dimensões de um negócio e têm uma grande variedade de causas, a pior delas com certeza é aquela que envolve a própria liderança em questões éticas e morais. Nessas horas, o grau de engajamento dos empregados é testado ao limite e muitas marcas de prestígio perdem valor de forma acelerada, deixando um rombo na reputação e um estrago surpreendente perante a opinião pública. Crises éticas dilapidam a confiança na palavra da liderança.
Assim foi no caso da Toyota durante a crise de 2009 e 2010, que começou com um acidente de carro e cresceu a ponto de obrigar a empresa a suspender a venda de alguns de seus modelos mais vendidos nos EUA. Os problemas descobertos forçaram a uma transparência tal, que a empresa precisou abrir caixas pretas e olhar fundo no seu modelo de trabalho, até então, um exemplo. Diante disso, fizeram um recall global que envolveu mais de 8 milhões de veículos da marca em todo o mundo. Com certeza, um exemplo de desastre de Relações Públicas, com prejuízos gigantescos para acionistas e investidores. Mas a marca não só sobreviveu por causa de seu crédito reputacional, mas também por um renovado engajamento dos seus funcionários ao longo daqueles anos, especialmente após o CEO Akio Toyota pedir desculpas publicamente em depoimento, perante o Congresso dos Estados Unidos. A repercussão foi mundial, mas podemos dizer que Toyota deu a volta por cima no final das contas e dos erros.
Atualmente, somos espectadores no Brasil de um exemplo impressionante de crise de reputação que envolve a nossa maior companhia de petróleo e gás. Não preciso dizer seu nome, você leitor já sabe que marca é essa. Uma empresa cuja alta direção, com seu comportamento imoral, afundou no pântano da corrupção. Um escândalo sem precedentes na história brasileira e que não tem paralelo no segmento mundial do petróleo. Para nós, comunicadores, um case de estudo histórico. O desdobramento dos fatos e a superação do desafio quase que intransponível da quebra da confiança na palavra das lideranças atingiu em cheio o trabalho da comunicação e o “moral da tropa”.
[1] Trecho do artigo publicado no site da Aberje em maio de 2014. Disponível em: http://www.aberje.com.br/acervo_colunas_ver.asp?ID_COLUNA=1055&ID_COLUNISTA=37
[2] Trecho do artigo publicado no site da Aberje em novembro de 2014. Disponível em: http://www.aberje.com.br/acervo_colunas_ver.asp?ID_COLUNA=1277&ID_COLUNISTA=75
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