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COLUNAS


Varda Kendler
vkendler@hotmail.com

Mestre em Administração. Especializada em Marketing, Comunicação e Gestão Empresarial e Gestão Estratégica da Informação. Graduada em Publicidade e Propaganda.
Mais de vinte anos de experiência em Comunicação Organizacional e Marketing, em empresas de grande porte, em cargos de gestão. Atua também como consultora e professora.
Áreas de atuação: planejamento; comunicação integrada; comunicação interna e endomarketing; gestão de públicos estratégicos e crise; desenvolvimento pessoal e de equipes.

Para onde vai a Polegarzinha?

              Publicado em 27/01/2015

"Polegarzinha” representa a geração de jovens do mundo contemporâneo, filhos da internet, dos smartphones e das novas tecnologias, que velozmente utilizam seus polegares em seus dispositivos. Essa personagem foi brilhantemente criada por Michel Serres - filósofo contemporâneo francês -, crítico das práticas pedagógicas atuais no âmbito acadêmico, um intelectual no campo do saber e da comunicação.

Polegarzinha não nasceu em um espaço métrico, como “nós”. Ela vive de forma diferente, ela se comunica de forma diferente e percebe o mundo por outra perspectiva. Ela procura o saber em sua máquina a tiracolo e não mais em locais hierarquizados, fragmentados e limitados. Ela já se deu conta que, agora, o conhecimento “já está o tempo todo e por todo o lugar transmitido” (SERRES, 2013). Para o autor, o conhecimento agora circula pelas redes, “emitido e compartilhado por milhares de anônimos”.


(adaptação da capa do livro da Polegarzinha)
 

“No que você está pensando?”. É com essa questão que o jornalista e escritor mineiro Francisco Mendes inicia uma crônica referindo-se à pergunta que o Facebook faz diariamente a milhões de pessoas. Ela o leva a refletir sobre o passado, à década de 90, época ainda de ditadura, “tempo em que era melhor não dizer no que estava pensando” (MENDES, 2014). O autor relembra o esquema gráfico em que estudava no curso de Comunicação, envolvendo o emissor, a mensagem, o receptor, o ruído e o feedback. Mendes recorda, nesse contexto, que “tão importante e democrático quanto conquistar a própria voz era dar voz ao outro”. Ele reflete, pois, sobre a questão do Facebook, se representa um convite, uma sugestão bem como uma imposição. Polegarzinha provavelmente não se preocupa com isso... E não imagina como era difícil, naquele tempo, ter espaço tanto para o emissor quanto para o receptor.      

Nos dias de hoje a “Internet é um campo totalmente dominado pelos emissores. Talvez a maior mudança que ela tenha operado em nossas relações com a escrita tenha sido a da indiferenciação entre emissor e receptor, autor e leitor”. Esse é o pensamento do escritor paranaense Miguel Sanches Neto sobre a atualidade, na qual o internauta assume um papel ativo na escrita. Para ele, a internet possibilitou que qualquer leitor também seja um escritor, todos somos “alguém que escreve”. O escritor ancora-se nas palavras de Foucault (2009), a respeito dos cadernos de nota, para analisar os blogs, que constituem “uma memória material das coisas lidas, ouvidas ou pensadas”. São espaços de escrita não mais secretos e proibidos, como na época em que Mendes estudava. Antagonicamente, esse é o universo da Polegarzinha, onde autor, leitor e internautas interagem, compartilham e somam.

Passeando pela “praia” da Polegarzinha, também encontramos posições de ciberceticismo, tais como a fala de Freire (2007) sobre o “ambiente controlado” de algumas redes sociais, que podem acabar com a abertura e a liberdade que define a internet. Ou a visão de pensadores internacionais apresentadas por Harris (2011): moderna a maneira como as pessoas se comunicam freneticamente on-line é uma forma de loucura; a tecnologia está ameaçando dominar as nossas vidas e nos tornar menos humanos, uma realidade virtual que nada mais é que uma imitação medíocre do mundo real; uma geração de ativistas passivos ou passivistas, ou seja, um ambiente que deixou as pessoas preguiçosas e criou a ilusão de que um simples clic é uma forma de ativismo similar a doar dinheiro e tempo no mundo real.      

Reflexões, lembranças, encantamentos e críticas em relação ao assunto não faltam! Polegarzinha é um nome código para todos nós, um novo indivíduo social, com inúmeras vozes a serem faladas, ouvidas e interpretadas.

Hoje temos outras construções sociais. Organizações, profissionais, famílias, clientes, estudantes, cidadãos: todos, em seus diversos papéis, nos deparamos com formas diferentes de viver e de nos comunicar. Portanto, temos que nos adaptar a novas mentes, formatos, processos, meios, plataformas. Maneiras novas, autênticas, de comunicar, compartilhar, relacionar e criticar com (ou sem) as novas tecnologias. E a comunicação, então, como fica? Será que estamos cometendo falhas com relação ao nosso tempo?

Serres diz que gostaria de ter 18 anos, a idade da Polegarzinha, “pois tudo tem de ser refeito, tudo tem de ser reinventado”. Não me sai da cabeça tema mais instigante de como será o mundo, a forma de convivência e de comunicação das gerações pós Polegarzinha...


Referências

- FOUCAULT, Michel. A escrita de si in O que é um autor. 7ª edição, tradução de António Fernando Cascais e Eduardo Cordeiro. Lisboa: Nova Veja, 2009, p. 135.

- FREIRE, Juan. Redes «antisociales»: ¿la peor idea de internet?. Dez, 2007.

- HARRIS, Paul. Redes sociais enfrentam onda de ceticismo. The Guardian, tradução e edição: Agência Pavanews. Publicado no Pavablog por Jarbas Aragão. Fev, 2011.

- MENDES, Francisco de Morais. A pergunta e o silêncio. Revista do Minas, Dez. 2014. p. 66

- SANCHES NETO, Miguel. Crítica e Redes Sociais. Gazeta do Povo, Rascunho. Jan. 2012.

- SERRES, Michel. A polegarzinha: uma nova forma de viver em harmonia e pensar as instituições, de ser e de saber, tradução de Jorge Barros. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2013.


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