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Diretor-geral da Aberje falou hoje ao principal órgão de comunicação da União Europeia em Veneza, Itália

11/11/2011

O segundo dia de reuniões do Club of Venice, que está completando 25 anos de existência, foi aberto na manhã desta sexta-feira, 11 de novembro, pelo porta-voz do ministério italiano para Políticas Europeias, A. Usai.  O evento que acontece na Libreria Sansoviniana na Praça San Marco, em Veneza, contou com 80 comunicadores públicos, porta-vozes dos governos membros da União Europeia e com alguns convidados de países que mantém importantes relacionamentos com o velho continente.

O evento que está sendo transmitido pela televisão italiana RAI, discutiu questões cruciais para a atualidade dos países integrantes do grande bloco Europeu, como: o agir local, voluntariado, desenvolvimentos em comunicação digital e os impactos das novas tecnologias, novas formas de mensuração e particapção 2.0, comunicação mobile e comunicação estratégica em tempos de crises.

O diretor-geral da Aberje e professor doutor da Universidade de São Paulo, Paulo Nassar, foi convidado pelo Club of Venice para falar sobre a visão brasileira sobre a Europa, no momento em que o Brasil assume papel cada vez mais importante mundialmente.

 

                                Membros do Club of Venice

 

                              Paulo Nassar durante a apresentação

 

Acesse a palestra de Paulo Nassar em Italiano e inglês. Leia a palestra de Paulo Nassar na íntegra:

Globalized Communication: A Brazilian view on Europe

Bom dia, senhoras e senhores.

Meu nome é Paulo Nassar, sou diretor-geral da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) e Professor Doutor da Universidade de São Paulo, a principal universidade da América Latina. 

Gostaria de retribuir o honrado convite para compartilhar desta manhã de tão enriquecedores debates, contando um pouco da história do Brasil e de sua formação, para que possamos compreender melhor as atuais visões e possíveis comportamentos desse país em relação a essa comunidade que aqui se reúne.

Há vários séculos, os primeiros europeus começavam a desembarcar no Brasil. E, logo, encantados e espantados com a magnífica e absolutamente nova realidade, incomparável com o padrão de realidade que conheciam, passaram a buscar meios de relatar às terras europeias o que viam no novo continente.  A carta de Pero Vaz de Caminha foi, assim, a primeira narrativa oficial europeia sobre o território brasileiro.

Em seguida, chegavam ao continente os artistas da corte, levando sua arte, suas técnicas e seus conhecimentos. Depararam-se logo com uma grande dificuldade: trabalhar com a luz dos trópicos, uma luz diferente e intensa que revelava de forma completamente nova aquilo que se observava.

No início de sua conquista, o Brasil já envolvia e conquistava os povos que nele chegavam.

Ainda assim, os povos que viviam no Brasil antes do descobrimento – entre tupiniquins, tupinambás e aimorés – sofreram violações cruéis durante a colonização. Em seguida, trazidos de diversas partes da África, os negros traficados como escravos, compunham a terceira dessas importantes matrizes da população e da cultura do país.

País que aprendeu a relacionar dominados e dominadores em dialogias constantes, embora nunca fáceis e simples, formando uma grande e diversificada população a partir das sínteses dos contrastes. Dessas matrizes, mamelucos, cafuzos e mulatos surgiram, encontrando-se mais à frente com os imigrantes, entre eles os alemães, os italianos, espanhóis, holandeses e japoneses.

Um país que lidou com todas as dominações e injustiças, criando um povo diverso, novo, único e aberto para as diferenças. Uma cultura rica em si, pela aceitação e absorção do outro, do novo. Um território de povos que, apesar das explorações sofridas, descobriu a alteridade, a mestiçagem, o respeito e a tolerância, como valores positivos.

O Brasil, assim, não foi criado apenas pela chegada dos colonizadores ou, posteriormente, dos imigrantes povoadores. Foi somando novos valores, novas culturas e novas narrativas históricas, mas sempre como território já existente, repleto de valores e significações próprias.  

Ainda que tendo seu IDH - ONU (Índice de Desenvolvimento Humano, das Nações Unidas) bastante abaixo do ideal nos dias de hoje, o país se desenvolve em progressão geométrica. Um país recente, sobretudo em relação ao velho continente. Mas um país que tem se estruturado rapidamente, entre erros e acertos, para abarcar esses múltiplos povos que encontram a reconstrução das narrativas de suas vidas.

Segundo estimativas da embaixada italiana no Brasil, vivem no País cerca de 25 milhões de descendentes de imigrantes italianos. O IBGE calcula, até o início da década de 1990, a chegada de 2.256.798 portugueses no país. Os alemães constituem no Brasil a segunda maior comunidade alemã abrigada fora da Alemanha no mundo, com mais de 300 mil imigrantes. Até 1959, mais de 680 mil espanhóis chegaram ao Brasil.  Todas estas comunidades imigrantes estão profundamente integradas no Brasil.  No Brasil, não temos comunidades vivendo em territórios separados por origens, religiões, entre outras separações.

Imigrantes que nos trouxeram fortes influências linguísticas, educacionais, gastronômicas, arquitetônicas, nas artes, em nossa formação institucional, na Política et Cetera.

Um povo recente, que tem reconstruído sua história. Recente e conhecido pela sua alegria. A alegria de tentar melhorar as coisas. Desde sempre, uma terra de esperança.

Hoje, mais que isso: uma terra de concretização das esperanças de outrora: quase 200 milhões de habitantes que vivem em harmonia.

Ao contrário dos estereótipos, os brasileiros são pessoas flexíveis e dispostas, pessoas que trabalham muito. Pessoas com peles de diversos tons, cabelos que variam num gradiente de texturas, olhos em formatos e cores distintos. Cujo código de DNA é, conforme um estudo feito em 2009, 80% europeu. Pessoas que, como o país, não se definem apenas pelo que aparentam ou pelo que contêm no código, mas pelo que fazem com isso. "O Brasil é uma extensão da Europa".

Assim como a população brasileira tem uma origem mestiça, temos também na configuração empresarial uma grande mestiçagem. Nos rankings das maiores empresas do país, grande parte das listadas é de origem internacional e, pelo menos 50% destas, de origem europeia.

A italiana Fiat é a 6ª maior empresa do país e a 2ª no setor automobilístico. A TIM é a 13ª maior do país, entre as maiores de telecomunicações.

O Brasil está entre as 10 maiores subsidiárias da alemã Bayer no mundo. Ainda entre as alemãs, a Volkswagen é a 5ª maior no país e a maior do setor automobilístico; a BASF, líder mundial da indústria química, completou recentemente 100 anos no país; desde 1978 no Brasil, a DHL é líder no agenciamento de carga e desembaraço aduaneiro.

As espanholas Vivo e Telefonica foram, em 2010, a 9ª e a 11ª maior empresa do país, respectivamente. O Santander é o terceiro banco privado por volume de ativos e o primeiro entre os bancos internacionais no Brasil. Com mais de 6,7 milhões de clientes, é responsável por 25% do lucro do grupo.

A francesa L’oréal chegou ao Brasil em 1939 e tem hoje mais de 2 mil funcionários no país. Em 1970, a Danone iniciou suas atividades brasileiras. No concorrido varejo brasileiro, O Carrefour mantém o 25º lugar entre as maiores no país. A filial brasileira é a maior operação da Sanofi-aventis nos mercados emergentes e tem por objetivo estar, em breve, entre as maiores do mundo;

As anglo-holandesas Shell e Unilever também estão entre as maiores do país, ocupando a 8ª e a 45ª posições. A divisão de alimentos da Bunge é a 17ª maior empresa no país e a de Fertilizantes, a 133ª.

O setor de comunicação e mídia é também promissor no Brasil. Segundo pesquisa encomendada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República, a televisão é assistida por 96,6% da população brasileira, enquanto o rádio é utilizado por 80,3%. As revistas são lidas por 34,9% da população, enquanto que 46,1% dos brasileiros costumam ler jornais. A Internet já é utilizada por 46,1% da população brasileira, que navega em média 16,4 horas semanais.

No campo profissional e na realização de negócios, o Brasil transita com a sua flexibilidade entre as gigantes internacionais, que encontram aqui novas possibilidades para seus negócios.

A visão do Brasil sobre a Europa vem também do passado. Do passado que é estudado, pesquisado e admirado. Usado, muitas vezes, como referência. De construções e histórias que fazem parte do nosso imaginário. Os estrangeiros não nos causam apenas simpatia, mas empatia por todos os valores que têm perpetuado em nosso país.

E grande admiração. Pela longa história dos países do continente europeu, fomos sendo envolvidos pelas conquistas e revoluções daqui e nos sentimos atraídos por tudo aquilo produzido no continente. Desde a produção material e de bens de consumo, até a produção artística, cultural, gastronômica e intelectual, passando também pelos movimentos sociais e pelas novidades pontuais.

Exemplo disso, no campo do consumo, é que o valor dos importados de luxo, sejam carros, relógios, jóias ou sapatos, sofre tributação superior a 100%. Mas isso parece não ter sido empecilho para as empresas do setor, que mesmo sob o efeito da crise financeira mundial, faturou em 2009 algo em torno de US$ 6, 5 bilhões no Brasil, 8% a mais do que os US$ 5,99 bilhões registrados em 2008. Luis Vuitton, Giorgio Armani, Chanel, Dior, Gucci, Tiffany&Co. e Ferrari estão entre as preferidas do consumidor de luxo do Brasil.

Temos estado abertos ao que a Europa nos ensina. E confiamos no ensino europeu. A educação europeia sempre foi considerada a melhor. Outrora pelas elites brasileiras, hoje também pelas classes médias e, até para as classes mais baixas. Durante muito tempo, o francês foi ensinado nas escolas brasileiras, influenciando muitos dos nossos autores. A influência europeia, no começo do século XX, também foi a base para o Modernismo brasileiro, que definiu a nossa arte. Hoje em dia, as escolas ensinam também o inglês e o espanhol.

Esses aprendizados nos fazem crescer cada vez mais. Segundo projeções do Fundo Monetário Internacional e das consultorias EIU (Economist Intelligence Unit) e BMI (Business Monitor International), poderemos ser a 6ª economia mundial ao final deste ano, atingindo um PIB de US$ 2,44 trilhões, superando o Reino Unido, que deve atingir US$ 2,41 trilhões. Ainda segundo essas projeções, até o fim da década, o PIB brasileiro se tornará maior do que o de qualquer país europeu e, de acordo com projeções da EIU e a 4ª do mundo em 2030.

A pobreza tem caído e a educação aumentado. Temos lutado contra a corrupção: não aceitamos mais a herança de uma terra iniciada com acordos de cavalheiros e coronelismos. Questionamo-nos o tempo todo. Nós brasileiros, começamos agora a trabalhar com a luz dos trópicos. Nossa luz tropical.

Nossas especificidades ambientais, sociais, econômicas e políticas, somadas à diversidade que nos compõe, levaram-nos a desenvolver estratégias e visões flexíveis e efetivas para lidar com os desafios de um mundo cada vez mais instável. Nesse sentido, a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial - Aberje, na qual tenho a honra de ser diretor-geral, tem realizado pelas principais metrópoles do mundo os Brazilian Corporate Communications Day, eventos que levam às principais cidades do mundo a comunicação estratégica de excelência do Brasil.

Construímos agora nossa história. Da qual a Europa faz parte, em nossa composição e em nossa memória. E inscrevemo-nos, com crescente protagonismo, na História. O nosso grande desafio, que se celebra nessa tarde, é fazer a História juntos, a história do conjunto.

Como tenho apresentado, nosso país conhece muito dos vários países que compõem a Europa. Países que fazem parte da nossa formação e que povoam o nosso imaginário. Mas ainda somos, de modo geral, um país pouco conhecido por esse bloco.

A grande crise que vivemos requer cautela de todos os países. E o Brasil, consolidando seu crescimento, não age de forma diferente. Contudo, a crise não afeta nossa admiração pela cultura, pela história e pelos povos europeus. Nem diminui nossa confiança ou nosso apreço pela produção intelectual, gastronômica, cultural e de bens de consumo da Europa. Um exemplo disso são as filas compostas por brasileiros para tirar a Cidadania Européia.  O brasileiro, em razão de suas origens vê a "Europa como uma extensão do Brasil".

Devemos nos atentar que o Brasil é o único país Ocidental dos BRICS. E nossas facilidades culturais podem e devem criar escala econômica e social.

E é aqui que nós, comunicadores públicos, relações públicas, jornalistas, publicitários, devemos nos envolver fortemente. Se há 44 anos, por exemplo, na data de fundação da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial - Aberje, discutíamos questões meramente técnicas como a gramatura do papel, tamanho e tipo de fonte dos textos, hoje temos grande responsabilidade com a sociedade, nos envolvemos com os desafios impostos pela contemporaneidade: a sustentabilidade, a economia, o desenvolvimento social. No ambiente internacional, somos nós os grandes agentes de integração e de união, que facilitarão a empatia entre as nações e os negócios intercontinentais. Participamos diretamente da construção do Brand Público de nossas cidades, estados e países.

E por falar em comunicação pública, nosso Brasil tem grandes desafios e muito a aprender. Não podemos continuar a ser conhecidos apenas como o país mestiço e simpático para tantas nações, o país do futebol, do samba e do carnaval. Isso nos orgulha, mas temos muito mais. Talvez os megaeventos que receberemos, como a Copa do Mundo de Futebol (2014) e as Olimpíadas (2016), mostrarão o forte desenvolvimento econômico que vivemos. O Brasil, mais uma vez, se abre a receber e a somar as culturas de vocês e a enfrentar de forma conjunta e sinérgica, esse novo mundo que estamos construindo. Temos feito da incerteza e do desajuste nossos impulsos para o crescimento e para a melhora. E, agora, fazemos de nossos aprendizados e de nossa experiência, os pontos de partida para o nosso trabalho conjunto.

Muito obrigado.

Paulo Nassar

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