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Velocidade, multiprotagonismo e alta conexão despertam novas narrativas

23/06/2015

Sensações de poder diferentes entre as pessoas e as organizações, a partir de uma realidade de multiprotagonismo, alta conexão e velocidade, estão originando formas de interlocução distintas – ou mesmo retomando processos de conversa ancestrais e até não mediados por tecnologias. Essa foi a essência do raciocínio feito pelos convidados da cerimônia de abertura do 1º Congresso Internacional de Novas Narrativas. O evento foi realizado, com palestras internacionais e nacionais e mais de 100 trabalhos selecionados e apresentados em divisões temáticas, nos dias 11 e 12 de junho de 2015 no Auditório Paulo Emílio no Campus Butantã da Universidade de São Paulo na capital paulista.

A abertura foi conduzida pelos professores-doutores Margarida Kunsch, Victor Aquino, Paulo Nassar e Luiz Alberto de Farias. A Escola de Comunicações e Artes, em suas diversas estruturas administrativas e de pessoal, foi sede da criação e é a base institucional do Grupo de Estudos de Novas arrativas/GENN que organizou a iniciativa.

 

 

Victor Aquino, Chefe do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da ECA/USP, destacou que o CRP agrega 1/3 dos alunos hoje matriculados nas 16 habilitações da escola, demonstrando sua relevância. E o espírito de trabalho é justamente do compartilhamento. Para ele, a atividade originada em associações de pessoas como o GENN acaba registrando “feitos impagáveis e um registro sério da história recente do encontro entre literatura e comunicações” – como o caso das novas narrativas. “Fico satisfeito por fazer parte deste novo começo e de uma nova articulação entre a narrativa corporativa e a literária”, afirmou.

A Diretora da Escola, Margarida Kunsch, relembrou o ano de 1999 quando a Aberje trouxe ao Brasil o historiador Paul Thompson, autor – entre outras obras relevantes – de “Voz do Passado” sobre o reconhecimento e a valorização das diversas histórias de vida correntes em um dado ambiente, e também foi feita na ocasião uma visita sobre o projeto de memória do São Paulo Futebol Clube. Com isso, referiu que o trabalho é antigo, persistente e meritório, por apostar na diversidade de olhares e falas sobre o mundo, não ficando restrito aos discursos oficiais das organizações. Outro marco rememorado por Kunsch aconteceu no início dos anos 2000, quando do ingresso de Paulo Nassar como doutorando, que levou à tese “Relações públicas e história empresarial no Brasil: estudo de uma nova abrangência para o campo das relações públicas”, aprovada “com distinção” pela banca examinadora. O protagonismo da ECA/USP no estudo e ensino de relações públicas foi outro ponto levantado, com o aniversário de 50 anos marcado para 2017. “O congresso é mais uma conquista dessa estrutura, que traz um trabalho forte com um novo olhar para a comunicação nas organizações e um tema transversal expresso na programação”, finalizou.

Paulo Nassar, diretor-presidente da Aberje e professor livre-docente da ECA/USP, fez o encerramento da cerimônia focando na humanização de narrativas para legitimação corporativa, mas também como proposta de importância de uma série de outros atores na nova sociedade. A disponibilização de acervos históricos e narrativas em meios digitais, a associação entre memória e lugares e suas imagens fortes, a indústria ligada a relatos pessoais (biografias), a romantização dos depoimentos de vida, questões éticas das memórias artificiais, a necessidade do esquecimento e a criação de centros de memória para manter o ideário de organizações foram alguns dos aspectos levantados por Nassar em sua fala. “E tudo isso porque organização não são ilhas isoladas, mas integram um grande território social. E as narrativas, como diz Paul Ricouer, organiza a experiência das pessoas no mundo”, acrescentou.

Nassar pontuou uma época de conflitos de narrativas. A narrativa tradicional tende à centralização e à macrovisão, prescinde do diálogo, está baseada em controles e quantidade de emissão de conteúdo, é mais racional e técnica e mais isolada do contexto. Já a narrativa nova seria descentralizada a partir do incentivo aos pequenos relatos, garantindo diálogos e mais qualidade e emoção, num tom mais humano e diverso. E citou Gerard Genette e Muniz Sodré, para quem a narrativa é um discurso capaz de evocar, através de uma sucessão de  acontecimentos, um mundo dito como real ou imaginário, situado em um tempo e espaço determinados. “É, ao mesmo tempo, uma história e um discurso. É história porque evoca personagens, acontecimentos e certa realidade, mas é também um discurso: sempre existe uma intencionalidade de quem conta a história”, ressaltou inspirado nos estudos de Tzvetan Todorov.

Os conceitos de meta e micronarrativas também foram trabalhados na apresentação. Por metanarrativa, Nassar entende os grandes consensos que organizam o mundo; estando as micronarrativas no ambiente comportamental, nos relatos cotidianos, na experiência que passa de pessoa a pessoa. “Estamos no centro da gênese dessas novas narrativas. Narrativas que transcendem o cotidiano, a realidade, em seus mais diferentes aspectos. É essa transcendência que buscamos aqui”, conclamou.

 

 

Na sequência da primeira manhã de atividades, aconteceu o painel “O olhar estrangeiro sobre a narrativa brasileira”, com os convidados Veronica Goyzueta, correspondente internacional do Diário ABC da Espanha; Laura Bonilla, Editora-chefe da Agence France Presse/AFP no Brasil; Felipe Chibás, membro da UNEAC - Unión de Escritores y Artistas de Cuba; moderados por Thomaz Favaro, analista sênior para América Latina da consultoria Control Risks. Eles falaram sobre a importância do olhar do outro sobre as questões cotidianas de um país, entendendo os fatos sob outra perspectiva, trazendo estranhamentos à tona que não eram considerados pela população local e sendo legítimos contadores de histórias. “É preciso perder-se para encontrar histórias”, explica Laura. Já Verônica acentuou que o Brasil é “uma série de países ao mesmo tempo, e como período aqui ultrapassa duas décadas, acaba exigindo de mim constantes exercícios de distanciamento”. Fazendo um link com o tema geral do congresso, Felipe Ortiz fala do ponto-de-vista de um mundo fragmentado, dinâmico, efêmero e abundante – fatores que favoreceriam a produção de mensagens padronizadas e técnicas. “Mas se o que nos torna humanos é nossa capacidade de contar histórias, de olhar para o passado, o presente e o futuro, temos que reinterpretar e ressignificar”, aposta.

A iniciativa teve patrocínio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da ECA/USP, com apoio da Aberje, da Arco – Associação de Apoio à Arte e Comunicação, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da ESPM e da Casa Semio. 

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