A Aberje lançou, em parceria com a Lazuli, o 11º número da revista MSG de Comunicação e Cultura. O tema central da edição é “Narrativa Brasil”, discutido por vários especialistas convidados que mostram seus pontos-de-vista a partir de lugares de fala distintos. A edição também marca o início de um novo projeto gráfico, formato e material.
O diretor-presidente da Aberje e professor-doutor da ECA/USP, Paulo Nassar, e o diretor da Lazuli, Miguel de Almeida, assinam o editorial “O gigante acordou”, onde assinalam que, assim como não há consenso sobre o valor absoluto da cor – e mesmo da representação da figura humana, cada um enxerga o Brasil sob diferentes toadas. As recentes manifestações populares chegaram a exaltar e demolir antigo conceito consagrado em verso do hino nacional: “o gigante acordou”. E a comunicação intui o desejo da mudança, consagrando-o e muitas vezes ressignificando-o em linhas e palavras. Segundo eles, as expectativas da sociedade trabalham para dessacralizar as imagens carcomidas no tempo da memória e, de repente, uma população apresentada como passiva reformula sua postura e provoca conturbadas reflexões nos modelos até então estabelecidos pela sociologia.
O dossiê “Narrativa Brasil” analisa a forma com que várias áreas da criação representam o país, pensando se ainda prevalece o tom folclórico imprimido pela visão estrangeira, com mulatas, futebol e samba, ou se já surge um novo ângulo de país emergente e moderno. A curadora da Divisão de Pesquisa em Arte do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Ana Magalhães, dá início à discussão com o texto “Arte brasileira tipo exportação”, e aponta que ainda é preciso superar o fenômeno da moda e do exotismo, ainda mais numa época em que os centros culturais hegemônicos do mundo entraram em crise e precisam se reinventar. O escritor Claudio Willer fala que críticos e jornalistas da literatura estão devendo um balanço das ocasiões em que o Brasil está no exterior em eventos, no artigo “Nossa literatura e as representações do Brasil em outros países”. O professor da ECA/USP e da ESPM/SP, João Carrascoza, contribui com “A narrativa realista da comunicação empresarial”, e discute que as empresas, antes de se lançarem com voracidade a ampliar o market share de suas marcas, deveriam expandir sua linguagem e seu universo afetivo.
O assunto é continuado com “Tempos e tempos de São Paulo”, do museólogo Emanoel Araújo, que visualiza que a narrativa das artes plásticas no Brasil passa primeiro por SP e retoma sua própria história em meio a este panorama. Fábio Lucas, escritor e crítico literário, traz “Imagens externas do Brasil cultural” e debate que o corpo cultural dedicou-se a fortalecer a gestão autônoma dos fornecimentos externos e a criar o amálgama de criação interna em mescla com a produção importada, deixando de preencher os estereótipos moldados pela mídia e pela instrução de grupos dominantes. Paulo Nassar também participa com uma análise intitulada “Narrativas sobre o novo Brasil – os números e os ignorantes e idólatras da mensuração”, chamando atenção para a grande massa de gente classificada como classe C, o novo commodity brasileiro buscado pela narrativa mercadológica e publicitária.
Franklin Leopoldo e Silva, professor da USP, é outro pensador que participa da revista. Em seu texto “Pontos de vista do presente”, disse que a visão do Brasil contemporâneo leva a uma constatação que já se tornou clichê, por ser tão frequente: falta ética em todos os aspectos das relações – na política, nos negócios, nos vínculos sociais, na vida familiar, na esfera pública e no domínio do privado. Já o artigo “Brasil, e quando a moda passar?” tem a marca do dramaturgo Hugo Possolo para assinalar que o país não está se apresentando no cenário global conectado ao futuro, e sim está mais para um emergente sem educação.
Para o cineasta João Batista de Andrade, tal como acontece na própria sociedade, a cultura brasileira se acomodou numa letargia de quem não tem sonhos e nem dirige o país para futuro algum. Ele assina “A imagem do que fomos e do que somos”. E, como diz a professora Lucia Santaella em “A mistura é o espírito”, apesar das desigualdades no grau de desenvolvimento, nas classes sociais das diferentes regiões geográficas há algo que acolhe todas as diferenças – a corrente copiosa, evidente ou subjacente, da cultura não verbal, especialmente notável na música, na dança, nas artes e nas novelas de televisão tipo exportação.
O documentarista Max Alvim é incisivo: para ele, o Brasil de hoje é e não é o país que se pensa ser, e o desafio acontece quando se está neste não-país, um lugar que não dá certo e não constitui como nação. Seu texto é intitulado “Isto não é um país”. A coordenadora do Observatório de Tendências Ipsos e professora da ECA/USP e PUC/SP, Clotilde Perez, diz que a linguagem edulcorada é uma característica do cotidiano pós-moderno e a língua portuguesa usa fartamente diminutivos, metáforas simples, aglutinações e linguagem icônica. Ela escreveu “Brasil, pós-moderno hasta la médula”.
A revista, que chega aos associados com 76 páginas, também pode ser adquirida em bancas nas unidades da Livraria da Vila, Livraria Cultura e FNAC, entre outras. Werner Schulz é o diretor de arte e responsável pelo projeto gráfico, com Cynthia Calhado, Flávia Teles e Victor Bauab como repórteres. Nara Almeida é a produtora executiva. A IBEP é a gráfica contratada com circulação da DPA. Para mais informações, consulte nara@aberje.com.br .
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