Ética traz uma condição de reclamação de conduta sobre o que é socialmente aceito em determinada época. É um ponto recorrente na história humana, demonstrando uma inquietude permanente para melhorar as relações entre as pessoas. E as corporações não estão alheias a essa busca de manter em ordem ativos intangíveis num sistema de vigilância para cumprimento de normativas. Então vem a concepção de compliance, termo com origem no verbo em inglês to comply, que significa agir de acordo com uma regra, uma instrução interna, um comando ou um pedido. Com as atividades de compliance, qualquer possível desvio em relação a uma política interna é identificado e evitado. “Onde o compliance não é suficiente, entra a ética”, explica George Barcat, Coordenador do Programa de Formação de Especialistas em Ética Aplicada da Palas Athena.
Ele foi um dos palestrantes convidados da 1ª Jornada Aberje de Ética e Transparência, realizada no dia 30 de abril de 2015 no Espaço Sumaré em São Paulo/SP. E exemplificou que um plano de contas na contabilidade é um código de conduta, e todo código prevê um controle de execução. Isso comporia a ética normativa, que sozinha não basta. Douglas Linares Flinto, Diretor-Presidente do Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios, também participou da iniciativa (veja abaixo).
Para Barcat, enquanto a ideia de ética não for compreendida, e deixar o campo estrito das normas, nunca será entendida como ética da convivência. E acrescenta: “advogo que a ética normativa fique com o setor jurídico. Os demais setores de convivência devem ficar nas corporações com o RH e com a Comunicação. Assim, chegaremos na auto-vigilância”. E então citou o filósofo dinamarquês Kierkegaard, criador do Existencialismo, para quem a ética não começa por uma ignorância que deva ser transformada em saber, mas por um saber que exige ser realizado. O saber técnico é voltado para a explicação, que responde perguntas ‘como é’ e ‘como posso usar’, ligado à produção. Já o saber prático é voltado para implicação e envolvimento, que responde a pergunta ‘até onde posso ir’ na relação com o outro, ligado à ação e à escolha. “Não tem que comunicar a letra do código, mas sim seu espírito”, resume.
Na escada da ética, há uma sequência que vai da sociabilidade (etiqueta, gentileza ou civilidade), passa pelo reconhecimento (respeito, empatia e solidariedade) e chega no envolvimento (doação de espaço ao outro, coragem e honestidade). E para que ela serve? “Para impedir que as pessoas se transformem em idiotas, no sentido grego de indivíduos ocupados apenas com seus próprios interesses”, responde ele mesmo. E conceitua: “ética é a felicidade compartilhada ou sustentável, balanço entre a boa vida e a vida boa”.
O motivo da conduta antiética, na visão do diretor da Palas Athena, é que os homens são criaturas dotadas de padrões e interesses contraditórios, e não estão imunes a tentações e equívocos. Erro, neste caso, é deixar as decisões sobre o comando das paixões e desejos negativos (egocentrismo, impaciência, intolerância, orgulho, arrogância, vaidade e moralismo), que fazem crer que não há conflito de interesses e optar por causa própria. Seria preciso parar de aceitar que tudo possa ser relativo, porque isso abre a chance de querer agir como todo mundo, independente do que isso signifique. Uma das maneiras de sair dessa cilada é buscar a simplicidade na vida. “Nossos planejamentos viram planejamintos, porque nos faltam planejamentes”, confessa usando os trocadilhos em torno de um simulacro de se estar agindo sobre os vícios.
Ele contextualiza que pessoas boas que vivem numa época confusa, onde não se valoriza o amálgama da gentileza, precisam de ajuda de um código. O certo seria aceitar perder status, conforto, privilégios, fama ou poder, atentando que o medo é que gera cumplicidade nociva. No caminho do código, antes é preciso despertar diálogos livres, antes de palestras com famosos, porque “a comunicação espalha a mudança sobre as coisas, mas a mudança vem primeiro nos atos”. E assim não tem o menor sentido a existência de códigos de empresas que, além de serem plágios de modelos de outras organizações, são impossíveis de seguir, condena Barcat. Por isso, sugere o “caminho do storytelling, que traz números que cantam, e não que contam”, com histórias genuínas que não existem para enganar.
Douglas Flinto deu continuidade à programação da Jornada na Aberje com tópicos sobre liderança. Para ele, “liderança é influência: o chefe diz vai, o líder diz vamos”. E todos podemos ser líderes sob algum aspecto, e não é diferente no campo da ética, do compliance e da governança corporativa. O ponto principal não são as habilidades técnicas ou o carisma, mas sim o caráter. “Uma empresa com bom compliance não necessariamente é uma empresa ética. O contrário, porém, é possível. Ser cidadão e sustentável não é sinônimo de ser ético”, opina.
Em seu entendimento, a pressão por resultados financeiros é um dos grandes motivadores do desvio de conduta. Mas é preciso ver que ganhar dinheiro não pode ser visto como objetivo cego, menos ainda se significar distância entre discurso e prática. A ética deve ser pessoal, num embate entre valores próprios e a pressão por resultados. Ele lembra de Oscar Wilde para definir o tema: “chamamos de ética o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão olhando. O conjunto de coisas que as pessoas fazem quando ninguém está olhando chamamos de caráter”. Para Flinto, ética é um chamamento para a responsabilidade dos atos de cada um, é comportamento e decisão sobre o certo e o errado, assumindo suas consequências e influenciando pessoas.
Para o presidente do Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios, a manutenção da conduta ética vem da consciência ou da punição. Ter valores consolidados é o melhor guia para saber para onde andar, e isto requer a compreensão do próprio propósito de vida e a missão de dar exemplo. “Vigie seus pensamentos, porque eles se tornarão suas palavras, que guiam seus hábitos e moldam seu caráter”, registra.
SOBRE AS ENTIDADES - A Palas Athena promove, agencia e incuba programas e projetos nas áreas de Educação, Saúde, Direitos Humanos, Meio Ambiente e Promoção Social, com a finalidade de aprimorar a convivência humana por meio da aproximação de culturas e articulação dos saberes. Fundada em 1972, é uma organização da sociedade civil e sem fins lucrativos, declarada de utilidade pública por órgãos oficiais. Tem como princípios de atuação a ética da responsabilidade, a multiculturalidade e a transdisciplinaridade.
O Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios é uma associação de direito privado sem fins lucrativos, com sede em Campinas/SP, fundado em 2003 para fomentar o tema no ambiente empresarial e estudantil, por meio da construção e disseminação das melhores práticas, possibilitando um futuro mais ético e sustentável. Em sua visão, ética é a base da atuação responsável empresarial, trazendo a certeza de lucros constantes e a garantia de perenidade nos negócios. Desde 2008, promove a Pesquisa Código de Ética Corporativo buscando propor exemplo e motivação para que um número maior de empresários e executivos venham a adotar e divulgar o Código de Ética. Em 2010, criou o Prêmio Ética nos Negócios para destacar as melhores práticas empresariais no assunto. Desenvolve desde 2012 os Indicadores de Gestão da Ética (IGE), uma série de questões de autoavaliação gratuita para saber qual o estágio que as empresas se encontram (Básico, Intermediário ou Avançado) e os passos a serem dados para que a Gestão da Ética.
Para saber sobre os próximos eventos, basta clicar aqui. Outras informações sobre o projeto Jornadas Aberje podem ser obtidas pelo telefone 11-3662-3990 Ramal 826 ou ainda pelo e-mail mariana.fonseca@aberje.com.br com Mariana Fonseca.
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