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Comunicação deve inspirar para o diálogo e o 'servir genuíno'

07/04/2015

Falar sobre construção de realizações no trabalho e na vida; o despertar da consciência do servir; proposta de um novo paradigma; característica do ‘servir genuíno’; e a ética e os valores morais: essa foi a pauta desafiadora assumida por Robert Van Dijk, Diretor Executivo do Banco Votorantim e Diretor Geral da Votorantim Wealth Management, na abertura do 15º Mix Aberje de Comunicação Interna e Integrada. O evento foi realizado nos dias 26 e 27 de março de 2015 no Espaço Aberje Sumaré em São Paulo/SP, com uma programação de cinco palestras e sete relatos de casos vencedores do Prêmio Aberje 2014.

 

 

Serviço, terminologia frequentemente utilizada para representar o emprego de cada um, é sinônimo de trabalho e embute uma compreensão de se estar numa condição de quem serve. Servir à pessoa é possibilitar a si e ao outro algo, um “vir a ser” feliz. Felicidade traz diretamente uma noção de paz de espírito. Esse encadeamento de raciocínio foi o ponto de partida de Van Dijk para argumentar em direção a um novo paradigma de vida: “é uma escolha: despertar para a consciência de si e reconhecer a própria essência. É ser para fazer e não fazer para ser. Em sendo, você fará. Só fazendo, você não será”. Para a pessoa física, isso representa dar um significado para sua experiência de vida. Para a pessoa jurídica, é ter um propósito, dar um novo significado aos resultados, na ideia de uma prosperidade consciente. E ele ponderou: “nos sabotamos muito, a vida nos traz oportunidades e nem sempre aproveitamos”.

Para o palestrante, há dois modelos de trabalho: o conflitante e o cooperativo. No modelo conflitante, vê-se uma competição destrutiva e uma idolatria dos números. No modelo cooperativo, a competição colaborativa introduz uma cultura do servir como caminho para honrar resultados. Entre as características deste servir genuíno, estariam a compaixão, a ética, o amor incondicional, a gratidão, a paciência, o respeito, o altruísmo, a cooperação, o perdão, a humildade e a resiliência. O diretor do Banco Votorantim centrou atenção nos processos de escuta que transcendem o ouvir fisiológico: é ouvir com os olhos (foco), com as orelhas (captura da intenção de comunicação) e com o coração (sentimento e valorização do que é dito). Ele propôs a cooperação como processo contínuo e equilibrado, que entende o servir como dar e receber. E neste caminho, falou sobre ética como uma escolha genuína pelo bem do outro, com efeito transformador.

 

INTERAÇÕES COMUNICATIVAS - A sócia-fundadora da Anima Convivência Produtiva, Vânia Bueno Cury, também esteve no evento. O objetivo foi sensibilizar profissionais para os novos desafios e oportunidades que se abrem em um trabalho mais integrado entre as áreas de comunicação e gestão de pessoas e desenvolvimento organizacional.

O desenvolvimento organizacional diz respeito a um esforço educacional muito complexo destinado a mudar atitudes, valores, comportamentos e a estrutura da organização. Identifica as mudanças no ambiente interno e externo e promove intervenções necessárias para a mudança desejada. Exige participação ativa, aberta e não manipulada de todos os elementos que serão sujeitos ao seu processo, num profundo respeito pela pessoa. E isto tudo feito em momentos de macrotransição, é muito mais difícil.

Vânia referiu-se a momentos raros de transição na sociedade, com mudança profunda, abrangente e irreversível em todos os níveis e em todos os sistemas, como estaria acontecendo neste momento. Isto coloca em questionamento uma série de conceitos e práticas entre pessoas e organizações. A própria longevidade do planejamento, exemplificou ela, é posta em análise, com prazos cada vez mais curtos. Para poder sobreviver aos dilemas atuais, diversos pontos-de-vista são fundamentais. Refere-se à superação da visão linear para chegar a uma ação mais sistêmica, à alteração da gestão vertical para uma gestão horizontal e a saída da macronarrativa para as micronarrativas. A ação sistêmica predispõe a uma condição de interferência transversal de fatos interligados. O entendimento necessário é que os comunicadores não são mais os centralizadores da emissão de narrativas nesta época de abundância de tecnologia e de recursos comunicacionais, e ao mesmo tempo há um ecossistema propenso à inovação e baseado nas habilidades entre pessoas.

 

 

A palestrante trouxe resultados do Ketchum Leadership Communication Monitor 2014 para debater a informação de que os executivos apontam que a efetividade da comunicação é muito importante em 74%, mas eles também reconhecem em apenas 29% deter as competências desejadas. As qualidades mais esperadas para os líderes foram honestidade, transparência e colaboração. Outra fonte utilizada para as reflexões foi o livro “The cost of bad behavior”, de Christine Pearson e Christine Porath, que destaca a incivilidade no trabalho como um dos grandes problemas atuais. As autoras revelam estratégias que as organizações bem sucedidas estão usando para parar a incivilidade já que 12% dos profissionais terem dito já ter deixado emprego por serem mal tratados. “Assumindo que nunca se teve tantas ferramentas de comunicação disponíveis e recursos aplicados na área, o que justifica uma percepção que ela é tão deficitária?”, instiga.

Expoente da física e filosofia da ciência do século 20, o americano David Bohm foi outra dica da palestra. Ele tem seu interesse focado nas ciências cognitivas e relações humanas, área na qual se enquadra a obra “Diálogo - Comunicação e redes de convivência”. Para Bohm, diálogo significa mais que o simples pingue-pongue de opiniões, argumentos e pontos de vista que habitualmente ocorrem entre dois ou mais interlocutores. O autor parte de uma premissa de suspensão temporária de todos os pressupostos, teorias e opiniões arraigadas em relação aos assuntos em pauta para observar o que emerge de novo no fluxo da conversação. O propósito de seu método é investigar o pensamento não só depois de estruturado, mas também como este se forma, como são seus mecanismos e a sua dinâmica.

Neste caminho do diálogo, algumas dicas podem ser preciosas: falar em primeira pessoa, respeitar as diferenças entre os interagentes e ouvir para aprender, refletindo sem julgar e não buscando vencer ou convencer. Esse conjunto de práticas conforma um pressuposto da integração de saberes e inteligências em direção à empatia. A abordagem tradicional é analisar o passado e identificar falhas para então corrigi-las. Ela propõe uma nova visão de criar um futuro desejado e investigar o presente para identificar os potenciais existentes. “É preparar-se para uma convivência produtiva de pessoas em conversação permanente, é criar um cenário estimulador nas organizações: isso é papel da comunicação”, finalizou.

A iniciativa teve patrocínio da P3K Comunicação, com apoio do jornal Valor Econômico e da Seepix. Outras matérias serão publicadas no portal Aberje com os principais insights dos convidados. Veja o calendário de eventos da Aberje para as próximas semanas.

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