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Aberje sedia discussão de estudo sobre preconceito e lança comitê LGBT

06/04/2015

As pessoas são diferentes. Têm diferentes pesos, cores, formas, tamanhos, nomes. Apesar dessas diferenças, todas continuam sendo gente. Mas, muitas vezes, alguns não são tratados iguais a outros. Isso acontece o tempo todo: na escola, na rua, no trabalho. Em especial, a diversidade sexual e de gênero é um dos grandes tabus na sociedade, e também no mercado de trabalho. Vale dizer que, no Brasil, há 17,9 milhões de homossexuais declarados em pesquisa do IBGE ainda de 2012, sendo que já aconteceram mais de 3 mil uniões civis de pessoas do mesmo sexo no país.

Toda organização tem um conjunto de valores que traduz sua razão de ser, mas ainda assim poucas incluem o respeito à diversidade nesse espectro. Não há dúvida que a gestão da diversidade está ligada à cultura organizacional, que sofre impactos da sociedade. A maioria não enxerga, ou não sabe como aproveitar, o potencial humano, o conhecimento e até mesmo as vantagens competitivas que perde ao encarar o mundo sob determinados padrões e restrições.

Essas e outras constatações foram o estímulo que a consultoria de engajamento Santo Caos precisava para sair a campo. A empresa, além do atendimento convencional de demandas de clientes como McDonalds e ViaVarejo, também se debruça periodicamente na produção de conteúdo relevante para provocar reflexões. Foi o que se viu na apresentação exclusiva e completa do estudo “Demitindo Preconceitos: por que as empresas precisam sair do armário”, feito pelos sócios-diretores Jean Soldatelli e Guilherme Françolin no dia 2 de abril de 2015 no Espaço Aberje Sumaré em São Paulo/SP.

 

 

 

A ocasião ainda serviu para o lançamento do Comitê Aberje LGBT, que vai traçar formas de abordar o tema nas empresas associadas e mobilizar e conscientizar os profissionais de comunicação. Um dos primeiros efeitos é a apresentação da pesquisa da Santo Caos para toda a estrutura de governança da entidade, em seus conselhos Consultivo e Deliberativo. Paulo Nassar, diretor-presidente da Aberje e professor livre-docente da ECA/USP, já se manifestou abertamente sobre o assunto em artigo publicado ainda no ano de 2010 no então portal Terra Magazine, sob o título “Vem aí a comunicação empresarial mais gay, mestiça, mulata, feminina”. Para ele, o encaminhamento tradicional das organizações formatando manuais e códigos  de ética, conduta, segurança, meio ambiente e saúde não é mais suficiente. É um trabalho que tem seus méritos de ordenação das discussões, mas não pode ocorrer por vias impositivas e sem diálogo, e achar-se suficiente. “O ambiente empresarial será novo, marcado pela liberdade do empregado para afirmar sua identidade: o somatório das dimensões subjetivas e objetivas de homens e mulheres”, dizia. No entendimento de Nassar, expresso neste encontro e dando ideia de como vai agir o comitê recém-criado, a administração deve assumir novas formas de se relacionar com a diversidade comportamental, etária, étnica e religiosa. Num mundo do trabalho tão regulamentado e preconceituoso, as mudanças inevitáveis de áreas como comunicação e recursos humanos não podem mais ser recusadas. “E ao comunicador cabe este papel de protagonismo”, conclama ele.

 

ESTUDO - Foram entrevistadas 230 pessoas - entre ativistas, especialistas (psicólogos, psiquiatras e advogados) e profissionais LGBT no estudo da Santo Caos, mesclando entrevistas em profundidade e pesquisa online, o que totalizou cerca de 68 horas de filmagem. A proposta foi detectar e analisar comportamentos e poder abordar a relação entre a orientação sexual e identidade de gênero com o trabalho, do momento de escolher a profissão até o dia-a-dia nas empresas. 60% dos entrevistados declaram sua orientação sexual às famílias, sendo que 13% disseram já ter enfrentado problema para encontrar emprego por conta dessa abertura. Para 74% deles, a orientação sexual não tem nenhuma influência na escolha da profissão.

Segundo especialistas, como o psicólogo Klecius Borges e o psicanalista Oswaldo de Vitto, pessoas que precisam esconder quem são no trabalho produzem menos, inovam menos, se engajam pouco e ficam menos tempo na empresa. Para Soldatelli, “a discriminação, além de ser algo totalmente cruel e irracional, gera impactos negativos para a própria empresa: piora o clima organizacional, perda de bons funcionários, imagem arranhada no mercado, entre outros fatores”. Cerca de 52% das empresas de origem dos entrevistados dizem declarar-se favoráveis à diversidade sexual, mas são os 35% de neutralidade que preocupam. O posicionamento corporativo ativo sobre o assunto vai ser cada vez mais requisitado. “A opinião explícita da empresa pode ter peso suficiente para mudar pessoas. Hoje, ser neutro com relação a esse tema não é mais suficiente. É preciso mostrar valores e agir na prática”, aposta.

 

 

Um indicador de pesquisa do portal Trabalhando.com desvendou: 38% das empresas têm restrições à contratação de homossexuais, patamar que ainda é maior se o candidato for transexual. Se uma empresa se omite com relação à diversidade, ela abre as portas para que funcionários adotem posturas preconceituosas. “Ou seja: se você, como gestor da organização, não se posiciona a favor da diversidade, permite que pessoas ligadas a você se posicionem contra. Isso é ser conivente com a discriminação. É fugir da sua responsabilidade como empregador e ser humano, e tomar parte em algo que, se ainda não é considerado crime, é no mínimo uma forma grave de violência”, destaca o sócio-diretor da Santo Caos.

Várias discussões foram levantadas, como o fato de homossexuais masculinos serem conectados a profissões tidas como “femininas”, como cabelereiro e manicure; o baixo índice de homossexuais declarados em profissões tradicionais como Engenharia, Direito e Medicina, por conta da inviabilidade de assumir-se diante de evidentes prejuízos profissionais; as referências de homossexualidade serem muito ligadas a comportamentos mais escrachados. Mas há uma diversidade dentro deste universo que não vem sendo considerada. A própria escolha por um estereótipo representativo é uma discriminação evidente. Outro tema foi a revisão do conceito de família, com diferentes arranjos afetivos – e todos eles com diversas qualidades e defeitos, como qualquer relacionamento entre pessoas - tudo muito distante das imposições de dogmas religiosos quanto a um padrão de suposta normalidade e aceitabilidade.

As experiências corporativas vistas hoje em dia estão ainda reforçando grupos separados, com a existência de comitês de diversidade compostos integralmente por determinado segmento das equipes. E, neste ínterim, acaba não existindo diferentes pontos-de-vista fundamentais na montagem de planos de ação mais efetivos. Um dos caminhos  seguidos é instituir manuais de conduta (como referido por Nassar – ver acima), baseados em proibições, punições e ordenações de comportamento, normalmente numa perspectiva genérica e impositiva.

Apoiando a diversidade sexual e de gênero e criando condições para que ela cresça e dê frutos dentro do ambiente de trabalho, as organizações só têm a ganhar. Alguns exemplos foram dados pelos próprios participantes do evento na Aberje. Comunicadores de Syngenta, Natura e GE deram seus depoimentos.

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