As organizações são porosas e há uma capilaridade incrível de relações. Mesmo o ambiente web não é outra coisa que não pessoas se conectando. A estrutura formal de uma organização, posta num organograma, às vezes sugere uma burocracia incompatível com os tempos atuais. Afinal, são as redes informais que viabilizam diversas oportunidades de inovação, adaptação e competividade. Foi com esse escopo que teve início o 6º Seminário Aberje de Comunicação Integrada, evento composto por oito painéis numa programação de dois dias, realizado no Espaço Aberje Sumaré em São Paulo/SP.
A primeira palestra coube ao antropólogo Ignácio Garcia, presidente da Tree Intelligence. Ele acrescentou que, quando não se desvenda o que acontece nos espaços informais, a tendência é desenvolver medo e vê-los como perigo. Surge então a Análise de Redes Organizacionais/ONA, disciplina que mostra visualmente, de maneira qualitativa e quantitativa, os fluxos de relações dentro e fora das organizações. Este processo de gestão consegue dar vivacidade à comunicação integrada, como soma de redes de influência formais e informais entre pessoas e grupos. Aplica-se a design organizacional, identificação e gestão de talentos, avaliação de desempenho, diagnósticos de clima, diagnósticos de canais, mapa de stakeholders e adoção de redes sociais corporativas, e até em processos de fusão e aquisição. “A melhor tecnologia que temos à mão são as redes humanas”, destaca.
O modelo de mapeamento de redes informais de trabalho é baseado em três dimensões relacionais estratégicas: cooperação (composta por redes de comunicação, conhecimento e projetos), energia (dimensão psicológica da motivação e emoções positivas) e inovação (sucessão de redes de co-criação que emergem da cooperação energizada). Garcia, que publicou um dos artigos de maior popularidade na Harvard Business Review sob o título “Uma visão antropológica das redes sociais”, trouxe exemplos de clientes como Vivo e Poliservice.
Vânia Bueno, sócia-fundadora da Anima Comunicação e Desenvolvimento, deu continuidade ao tema. Para ela, “fazer comunicação integrada é aprender a fazer junto”. E processos de mudança corporativa requisitam mesmo um pensamento mais integral sobre a organização e as pessoas. Aliás, para poder sobreviver aos dilemas atuais, diversos pontos-de-vista são fundamentais. Refere-se à superação da visão linear para chegar a uma ação mais sistêmica, à alteração da gestão vertical para uma gestão horizontal e a saída da macronarrativa para as micronarrativas. O entendimento necessário é que os comunicadores não são mais os centralizadores da emissão de narrativas nesta época de abundância de tecnologia e de recursos comunicacionais, e ao mesmo tempo há um ecossistema propenso à inovação e baseado nas habilidades entre pessoas.
Vânia trouxe resultados do Ketchum Leadership Communication Monitor 2014 para debater a informação de que os executivos apontam que a efetividade da comunicação é muito importante em 74%, mas eles também reconhecem em apenas 29% deter as competências desejadas. As qualidades mais esperadas para os líderes foram honestidade, transparência e colaboração. “Fazer comunicação de maneira memorável e impactante se dá através da promoção da virtude. Comunicação é comportamento”, acrescenta. Outra fonte utilizada para as reflexões foi o livro “The cost of bad behavior”, de Christine Pearson e Christine Porath, que destaca a incivilidade no trabalho como um dos grandes problemas atuais. As autoras revelam estratégias que as organizações bem sucedidas estão usando para parar a incivilidade já que 12% dos profissionais terem dito já ter deixado emprego por serem mal tratados. Os executivos da Fortune 1000 revelam gastar cerca de sete semanas por ano na resolução de conflitos entre funcionários e 95% dos norte-americanos pesquisados dizem que já experimentaram grosseria no trabalho. O diálogo seria a saída para respeitar diferenças e diversidade, ouvir para aprender ou criar algo novo, suspender temporariamente os pressupostos, crenças e certezas, refletir sem julgar e não buscar vencer ou convencer.
COMUNICAÇÃO INTERNA - Marcelo Douek, CEO da LUKSO Story & Strategy, foi um dos convidados para falar no painel sobre comunicação interna. Ele centrou foco no poder das histórias para repasse de mensagens corporativas e utilizou a definição de Robert Mckee, para quem histórias são metáforas da vida que dão insights para compreender a natureza humana. Um entendimento mais genérico é sequência de eventos, organizados de forma especial, capaz de influenciar pessoas, organizações e sociedades. Mais comumente utilizado no cinema e nos comerciais publicitários, o tema storytelling foi exposto como um recurso narrativo perfeito para se usar no universo corporativo. De acordo com ele, fatos ancorados em histórias têm 20 vezes mais chances de serem lembrados e, sem dúvida, uma história bem construída é uma poderosa ferramenta de comunicação. Em um ambiente onde os canais de comunicação e as informações sobrecarregam colaboradores, funcionários e clientes, o storytelling surge como uma ferramenta que pode ajudar a espalhar uma ideia, fortalecer uma marca ou aumentar as vendas, conquistando o público pela história.
Durante sua apresentação, o CEO falou sobre o estudo feito por sua consultoria baseado nas grandes narrativas do cinema de Hollywood. “Consideramos que a narrativa é composta por quatro principais elementos, que são: personagem protagonista, conflito, universo e trama. A soma bem pensada desses elementos cria histórias incríveis, críveis e inspiradoras”, afirmou. Os participantes também puderam conhecer dois cases, nos quais o Hotel Ritz Carlton e a Heineken utilizaram com sucesso o storytelling para mobilizar e incentivar seus funcionários, com ações alinhadas aos valores das duas empresas. “As histórias materializam os valores e as intenções. Elas precisam ser coletadas e sistematizadas”, sugere.
Cynthia Sganzerla Provedel, Coordenadora de Comunicação Interna, Cultura e Engajamento do Grupo Pão de Açúcar, foi a outra palestrante no tema. Movida pela inquietude em saber o real diagnóstico da função de Comunicação Interna no ambiente corporativo, Cynthia desenvolveu um estudo e uma linha de avaliação chamado Matriz de Maturidade da Função de Comunicação Interna. Essa foi a primeira vez que o estudo foi apresentado fora do ambiente de trabalho do Grupo Pão de Açúcar, onde está sendo aplicado nas áreas de negócio para seus 160 mil funcionários. Segundo ela, a estrutura está constituída por três norteadores - o tático, o estratégico e o político - e também por cinco graus de maturidade – tático de demanda represada, tático de orientação pela demanda, consultivo, estrategista e conselheiro. Em tático, ela estuda a comunicação formal, o diálogo e a comunicação da liderança, as infra-estruturas e competências e a governança. Em estratégico, o foco recai sobre contribuição para a geração de resultados e para a construção de sentido. Já em político, vê-se a representatividade da área junto à alta gestão, o tipo de reporte, a agenda própria da comunicação e o apoio a stakeholders.
A reflexão e análise do atual estágio da Comunicação Interna e a identificação dessa posição na Matriz de Maturidade apontam o caminho que a Comunicação precisa percorrer para chegar no nível que se deseja. “Acredito que o grande desafio continua sendo o norteador político. As Comunicações Internas se concentram muito na atuação tática, em entregar demandas tangíveis e mensuráveis. Tivemos uma importante evolução no norteador estratégico, ele faz parte do nosso discurso e das nossas ações do dia a dia. Mas a Comunicação Interna deve se posicionar de forma politicamente inteligente, mostrando sua importância corporativa e buscando espaço junto a liderança na tomada de decisões políticas”, destacou Cynthia.
O 6º Seminário Aberje de Comunicação Integrada teve patrocínio da Bayer e apoio do jornal Valor Econômico. Outros textos com os principais insights serão publicados no portal da Aberje nos próximos dias.
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