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Caravaggio se despede do Brasil em exposição no Palácio do Planalto

02/10/2012

Depois de encantar milhares de pessoas em Belo Horizonte e São Paulo – respectivamente, na Casa Fiat de Cultura e no MASP –, obras do gênio Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571–1610) chegam a Brasília. De 6 a 14 de outubro, no Salão Leste do Palácio do Planalto, o público da Capital Federal terá a oportunidade de apreciar seis obras do mestre, que, por meio da técnica do chiaroscuro, em que o emprego de luzes e sombras gera impressionante dramaticidade às cenas retratadas, revolucionou a arte de seu tempo. A exposição será inaugurada para convidados, nesta sexta-feira, dia 5, pela presidenta Dilma Rousseff e pelo presidente da Fiat-Chrysler para a América Latina, Cledorvino Belini, patrocinador master da mostra de Caravaggio no Brasil.

Evento que encerra a programação do Momento Itália-Brasil 2011-2012, a exposição “Caravaggio no Palácio do Planalto” reúne obras pertencentes a coleções particulares e a três dos mais prestigiados museus estatais italianos – Galleria Borghese (Roma); Palazzo Barberini (Roma) e Galleria degli Uffizi (Florença). Destaque para Medusa Murtola, Ritratto di cardinale e San Giovanni Battista che nutre l’Agnello, que saíram da Itália pela primeira vez. Idealizada por Rossella Vodret, uma das principais especialistas em Caravaggio na Itália e chefe da Superintendência Especial para o Patrimônio Histórico, Artístico e Etnoantropológico e para o Pólo Museológico da Cidade de Roma, a exposição contou com curadoria, em terras italianas, de Giorgio Leone e, no Brasil, de Fabio Magalhães.

Apesar da incontestável herança do gênio italiano para a estética ocidental, jamais houve, na América do Sul, exposição de grande magnitude com as obras do pintor. Em 2012, tal lacuna foi devidamente preenchida, quando, em maio, as obras de Caravaggio aportaram em Belo Horizonte, na Casa Fiat de Cultura. Os seis óleos do artista expostos no Brasil retratam diversos períodos pictóricos e da vida de Caravaggio e serão apresentados em ordem cronológica. Há trabalhos consagrados e conhecidos do imaginário do pintor, novas descobertas e um quadro atribuído ao artista por historiadores da arte, apesar de ainda estar em estudo.

No Palácio do Planalto, o público poderá apreciar as seguintes obras: Medusa Murtola (coleção particular), de 1597; Ritratto di cardinale (coleção Galleria degli Uffizi), de 1599 a 1600; San Girolamo che scrive (coleção Galleria Borghese), de 1605 a 1606; San Francesco in meditazione (coleção Palazzo Barberini), de 1606;  San Giovanni Battista che nutre l’Agnello (coleção particular), do final da primeira década do século XVII, e San Gennaro decollato o Sant’Agapito (Museo Diocesano), de 1610.

Para o presidente da Casa Fiat de Cultura, José Eduardo de Lima Pereira, é uma honra aproximar o público brasileiro da obra de um dos mais geniais e misteriosos artistas de todos os tempos. “Após grande sucesso de público em Belo Horizonte e São Paulo, a mostra de Caravaggio chega a Brasília, para, em seguida, seguir a Buenos Aires e, então, voltar aos colecionadores e museus italianos. Para a Casa Fiat de Cultura, é um grande orgulho levar a exposição à Capital Federal, no Palácio do Planalto. Trata-se, afinal, de importante testemunho sobre um artista ímpar, com obras de inominável importância, algumas das quais jamais haviam saído do território italiano. Coroamos, assim, essa itinerância e, ao mesmo tempo, celebramos, de maneira adequada, as boas e tradicionais relações a unir Brasil e Itália”, ressalta.

A realização da exposição em Brasília é da Casa Fiat de Cultura, da Base7 Projetos Culturais, do Ministério de Bens e Atividades Culturais Italiano e da Superintendência Especial do Patrimônio Histórico, Artístico e Etnoantropológico e para o Pólo de Museus da Cidade de Roma. O patrocínio é da Fiat Automóveis e da Caixa Econômica Federal, com o apoio das Embaixadas da Itália no Brasil e do Brasil na Itália.

Arte revolucionária

A importância de Caravaggio não para de crescer desde a famosa exposição realizada em 1951, no Palazzo Reale de Milão, organizada pelo historiador de arte Roberto Longhi. “A exposição de Longhi desencadeou o ‘fenômeno Caravaggio’ da atualidade e trouxe o artista para o centro das atenções da crítica de arte do nosso tempo”, conta o curador brasileiro Fabio Magalhães, ao ressaltar, ainda, que, no século XVII, o pintor já havia provocado na Itália, e em grande parte da Europa, enorme transformação pictórica: “Como a energia de um vulcão, sobretudo, entre os anos de 1600 e 1630”.

O público poderá apreciar as “bases” do revolucionário modo de pintar do gênio, assim como características fundamentais de suas composições: o tema retirado da realidade; o formato “ao natural” das figuras semelhantes ao espectador; a cena toda representada em primeiro plano, para envolver emocionalmente quem olha; o fundo neutro ou escuro – de modo a concentrar a atenção sobre o tema representado – e enfatizado pelo feixe de luz forte e direto, e, principalmente, a acentuada dialética do claro-escuro, que torna tudo “real”, vivo e vital.

As obras

No Palácio do Planalto, estão os “grandes Caravaggios”, como San Girolamo che scrive (coleção Galleria Borghese), San Francesco in meditazione (coleção Palazzo Barberini) e Ritratto di Cardinale (coleção Galleria degli Uffizi). Também serão apresentadas as duas novas descobertas, fruto de pesquisas que duraram anos e foram concluídas recentemente. Tais obras – expostas pela primeira vez como legítimos Caravaggios – são Medusa Murtola (coleção privada) e San Giovanni Batista Che nutre I`Agnello (coleção privada). Trata-se de descobertas possíveis apenas agora, quando se sabe muito mais acerca da técnica de Caravaggio, assim como sobre seu processo criativo e executivo. Por fim, está a obra San Gennaro decollato o Sant’Agapito (Museo Diocesano), obra que ainda é objeto de estudo.

Medusa Murtola, cujo nome remonta a um poeta italiano, ilustra bem as características responsáveis por tornar Caravaggio conhecido. Quando se analisa a obra com radiografias e técnicas de investigações históricas, como o infravermelho, pode-se identificar todos os rascunhos do artista. Há, por exemplo, olhos e boca que mudaram de lugar no quadro final; traços perdidos, escondidos por camadas de tinta e que, pouco a pouco, foram descobertos e analisados pelos pesquisadores. São indícios que enriqueceram o estudo especializado e mostraram que a Medusa Murtola é uma autêntica obra de Caravaggio.

Assim como Medusa Murtola, é a primeira vez que Ritratto di Cardinale – “que não é recente, mas também tem sua história” – sai da Itália. O quadro foi realizado em significativo momento da trajetória do artista, quando o jovem Caravaggio chega a Roma com dificuldades financeiras e pede emprego em um dos ateliês (bottega, em italiano) da cidade. À época, o artista produzia muito para sobreviver, a ponto de fazer dois ou três retratos por dia. Acredita-se, pois, que Ritratto di Cardinale, que já ilustra o grande domínio da técnica pictórica pelo artista, seja desse período.

Outra obra com misteriosa e peculiar história é San Giovanni Battista che nutre I´Agnello, que, durante anos, ficou sob a guarda do Estado italiano. “O quadro foi descoberto por um de nossos restauradores, quando um portador tentava sair do país com a obra. No entanto, após longo processo judicial, a tela voltou a fazer parte da coleção privada. Causa ganha, o colecionador desapareceu e a pintura sumiu por anos. Só recentemente é que retornou ao circuito expositivo. Como é a obra é muito importante, achamos fundamental que ela fosse apresentada ao público brasileiro”, conta Rossela Vodret, uma das especialistas de Caravaggio na Itália.

Também é interessante a história por trás de San Gennaro decollato o Sant’Agapito, quadro encontrado em Palestrina, província de Roma, um dos locais onde Caravaggio refugiou-se depois de ser considerado culpado pelo assassinato de Ranuccio Tomasso, em 1606. Nessa fase, condenado à decapitação, o artista começou a retratar situações como a de San Gennaro decollato: figuras mórbidas, entre a vida e a morte.

O gênio: vida e morte

Michelangelo Merisi, mais tarde conhecido como Caravaggio por causa do lugar de origem da família, nasceu em Milão, provavelmente em 29 de setembro de 1571, dia de São Miguel Arcanjo. Foi o primeiro de quatro irmãos, filhos de Fermo, mestre de obras, e Lucia Aratori, cujo pai, Giovan Giacomo, tinha cargo de destaque na administração financeira dos bens dos Sforza-Colonna. O povoado de Caravaggio era sede do marquesado de Francesco Sforza e Costanza Colonna, aquela que foi um dos maiores sustentos em toda a penosa existência dos Merisi. Após a morte do marido, em 1577, causada pela peste, Lucia seria obrigada a vender terrenos para pagar os estudos do primogênito, que muito cedo manifestaria interesse pela pintura.

Em 1584, segundo contrato estipulado em 6 de abril, Michelangelo é confiado ao artista Bergamasco Simone Peterzano (1540-1596), para que lhe ensinasse a arte da pintura em seu estúdio de Milão. O aprendizado milanês durou até 1588, mas não se sabe nada dos movimentos do jovem até 1591. É plausível, entretanto, que Michelangelo não tenha retornado imediatamente a Caravaggio, pois completaria sua formação na Lombardia e no Vêneto, ao estudar com os grandes mestres quinhentistas, cuja influência pode ser percebida em suas obras. O último documento que atesta a presença do artista na Lombardia é de 1º de julho de 1592, quando ele é citado como testemunha em um documento de cartório.

Ao longo da vida, Caravaggio envolveu-se numa série de brigas, fruto, em grande medida, de seu temperamento explosivo e dos permanentes problemas financeiros. Em 1606, o artista seria acusado de matar um jovem. À época, foge de Roma com a cabeça, literalmente, “a prêmio”. Passa, então, por Nápoles, Malta e Sicília, cidades onde se envolve em novos conflitos: como exemplo, basta lembrar que, quando em território napolitano, sofre atentado engendrado por inimigos jamais identificados pelos estudiosos.

O grande Michelangelo Merisi da Caravaggio morreria a 18 de julho de 1610, aos 38 anos, em Porto Ercole. Dias antes, Caravaggio embarcara numa feluca – barco tradicional feito de madeira – em direção a Roma. O pintor para em Palo, entre Civitavecchia e a foz do rio Tibre, onde é interrogado pelo capitão local do forte sobre a motivação da sua viagem. Cartas enviadas a Roma por Deodato Gentile, núncio apostólico em Nápoles, traçam hipótese sobre os últimos dias de vida do artista. Depois da chegada a Palo, o pintor tem de deixar o barco. Enquanto é interrogado, a embarcação parte com todos os seus bens a bordo, entre os quais três quadros a serem doados ao cardeal Borghese: dois San Giovanni Battista e uma Maddalena. Supõe-se que Caravaggio tenha continuado sua viagem a pé até Porto Ercole, onde chega extremamente cansado e com febre, causada por pneumonia ou malária. É internado e morre no hospital local.

Casa Fiat de Cultura: seis anos de democratização da arte

Mantida pelas empresas do Grupo Fiat e inaugurada em 2006, em Belo Horizonte, a Casa Fiat de Cultura é o primeiro espaço cultural criado por uma fabricante de automóveis no País. Entre os objetivos da Instituição, que conta com programação de alto valor histórico, artístico e educativo, está o estímulo à circulação dos bens culturais, à difusão das culturas brasileira e mundial, à formação do público, à democratização do acesso às artes e à inclusão social.

Ao longo dos anos, a Casa Fiat tem conseguido superar o desafio de garantir experiências qualificadas e enriquecedoras para todos os públicos, capazes de gerar novas reflexões e conhecimentos, assim como de promover desenvolvimento humano e social. Nesses seis anos de atuação, mais de 600 mil pessoas visitaram o espaço cultural, que, desde sua inauguração, destaca-se por abrigar grandes mostras internacionais de artes plásticas e apresentações inéditas de acervos brasileiros, com debates acadêmicos e programas educativos.

Entre 2006 e 2011, realizaram-se doze grandes exposições de arte na Casa Fiat de Cultura. Trata-se das mostras Arte Italiana do Masp (2006); Speed – A Arte da Velocidade (2007); Amilcar de Castro na Casa Fiat de Cultura (2008); Com que roupa eu vou (2008); A Arte dos Mapas (2008); Olhar Viajante (2008); O Mundo Mágico de Marc Chagall – O sonho e a vida (2009); Rodin, do Ateliê ao Museu (2009); Guignard e o Oriente: China, Japão e Minas (2010); Olhar e Ser Visto (2011); Tarsila e o Brasil dos Modernistas (2011); Roma – A Vida e os Imperadores (2011); Caravaggio e seus seguidores (2012) e De Chirico: O Sentimento da Arquitetura (2012).

Desde 2011, a Casa Fiat de Cultura promove em parceria com a Embaixada do Brasil em Roma e com o patrocínio da Fiat Automóveis –, o Festival de Cultura Brasileira na Itália, que leva à capital italiana

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