Experiências traumáticas são a causa de transtornos que podem gerar graves limitações ao longo da vida de um individuo ou comunidades inteiras. Catástrofes naturais ou acidentes gerados a partir de uma ação do homem ou falha mecânica são algumas dessas experiências. Logo após a ocorrência desses eventos, muitas organizações humanitárias, movimentos de grupos sociais, religiosos e outros acorrem para os locais atingidos a fim de atender as necessidades básicas e imediatas, tais como resgate, atendimento médico, alimentação, vestuário e abrigo. Todavia, é justamente depois, entre seis meses e seis anos, que começam a surgir os sinais de trauma psicológico decorrentes dessas situações críticas. Para essas questões, é necessária a intervenção de profissionais da área de psicologia com capacitação específica capazes de identificar pessoas e grupos que estejam sofrendo de TEPT – Transtorno de Estresse Pós-Traumático e de prestar atendimento especializado para que essas pessoas possam retomar um ritmo de vida o mais próximo possível da normalidade. Dentro desta perspectiva é que está em atuação o grupo Comunicadores Sem Fronteiras, incentivado pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial desde o primeiro encontro no final de janeiro de 2010. O diretor geral da entidade, Paulo Nassar, gravou um depoimento em vídeo sobre a iniciativa. Veja o conteúdo direto no YouTube - http://www.youtube.com/watch?v=auKWF4D1VKA ou clique na imagem abaixo. O conteúdo integral tem 3min36s, com câmera e edição de Emiliana Pomarico Ribeiro.
Com a proposta de preparar profissionais da área psicossocial da rede pública para atendimento a população de Niterói (RJ), afetada emocionalmente pelas perdas decorrentes das fortes chuvas ocorridas no mês abril, e prestar assistência às vítimas ainda abrigadas em escolas, o PAHP - Programa de Ajuda Humanitária Psicológica esteve no primeiro final de semana de maio na “Cidade Sorriso” e realizará a segunda etapa do trabalho nos dias 18 e 19 de junho.
Coordenada pela
No primeiro dia do evento, os Majores Edgar e Sara Chagas do Exército da Salvação, emocionaram a platéia com a exposição do drama que acompanharam de perto, durante os treze dias das buscas aos corpos e poucos sobreviventes no Morro do Bumba, comunidade carente que cresceu sobre um lixão desativado.
Dos 48 abrigos temporários disponibilizados na cidade, profissionais já treinados em edições anteriores e os recém-formados estiveram em sete deles, onde prestaram atendimento a pessoas, que ainda sofrem com as perdas materiais e das vidas de parentes e amigos, a fim de avaliar a necessidade de intervenções terapêuticas. As visitas aconteceram durante os dois dias da ação, sendo os atendimentos realizados em locais como: Escola Municipal Vila Costa Monteiro, Escola Municipal Paulo Freire, Escola Municipal Machado de Assis e Escola Municipal Helena Antipoff. Os abrigos temporários receberam donativos arrecadados pelo Exército da Salvação e entregues por colaboradores do programa.
Voluntários do Comunicadores sem Fronteiras Aberje - braço social da entidade que presta assessoria de comunicação para instituições, inicialmente, de ajuda humanitária - relataram ser nítida a percepção do abalo provocado pela catástrofe naquelas pessoas, que tinham uma espécie de estresse no olhar. Crianças aparentavam estar ainda assustadas e alguns adultos apresentavam sinais de revolta.
Há pouco mais de 1 mês da tragédia, a desesperança ainda é imperativa na vida da maioria dos que hoje engrossam a lista dos sobreviventes e desabrigados da cidade. O caso mais grave aconteceu com uma senhora alocada na Escola Municipal Helena Antipoff. O quadro depressivo avançado gerado pelo trauma vivido a levou ao óbito. Dormiu como todos os companheiros do abrigo, mas na manhã seguinte não acordou.
Em meio a tanta tristeza provocada pela dor da tragédia, as técnicas psicoterapeuticas aplicadas produziram estímulos surpreendentes. Joanna Alimonda, voluntária do Comunicadores sem Fronteiras – Aberje, acompanhou o atendimento realizado com um grupo de adolescentes. Nele, uma das meninas chamou a atenção por seu comportamento arredio, distante e indiferente a tudo. Não interagiu com ninguém, não participou das atividades propostas pelos psicólogos e respondeu com rebeldia aos estímulos das outras meninas que como ela vivem a mesma realidade. Esquivou-se de todos os “clicks” produzidos pela câmera de Joanna, mas para surpresa de todos, na finalização do trabalho, pediu para ser fotografada ao lado de uma das psicólogas e com um lindo sorriso mostrou que cada um tem um tempo para absorver, viver e sobreviver aos problemas.
Atendida pela Drª Lílian Tostes, a pequena R. de 4 anos, que perdeu sua mãe na tragédia, após meia hora de atendimento não conseguia expressar nem uma palavra, nem um sorriso, mas falava através do olhar e do toque dos estímulos bilaterais (EMDR). Ao perceber a linguagem não-verbal apresentada pela menina, a psicóloga a trouxe novamente para o mundo lúdico comum a todas as crianças. “Foi maravilhoso poder ouvi-la dizer: - ‘posso desenhar?’. Fez alguns rabiscos, levantou e foi brincar e sorrir com as amiguinhas. Preciso falar mais?”, concluí Lílian. Atitudes como estas deixaram clara a importância que a presença da equipe teve naquele momento para ajudá-las a compreender o que viveram, a reencontrar quem são na essência e dar prosseguimento as suas vidas.
Foram ouvidas muitas histórias comoventes de pessoas que perderam parentes, amigos, vizinhos, bens materiais e referencial de lar, mas o caso de Elaine da Silva Rosa, acompanhado por Indaiá Reyes – voluntária do Comunicadores sem Fronteiras-Aberje - chamou a atenção pelo desprendimento solidário de uma verdadeira cidadã que assumiu a missão de auxiliar às vítimas.
Dona Elaine, como ficou conhecida, é moradora de uma comunidade do bairro Santa Bárbara, onde também houve deslizamentos de terra. Após a tragédia provocada pelas fortes chuvas sentiu-se aliviada por sua casa não ter sido atingida, mas em seguida, inconformada com a dor dos que não tiveram a mesma sorte decidiu não cruzar os braços para a triste realidade que via a sua volta e hoje coordena informalmente um dos abrigos improvisados na cidade. Extremamente feliz por receber voluntários da equipe do PAHP, Dona Elaine desabafou: “estes desabrigados estão realmente precisando de atendimento psicológico... estão apreensivos e muitos recorrem à bebida, para aliviar a tensão”.
Dulce Fiedler, membro da equipe de psicólogos do grupo, emocionou-se ao falar que naquele dia fez pelos moradores de Niterói, o mesmo que o PAHP proporcionou a ela quando realizou o primeiro atendimento aos desabrigado em Santa Catarina. “Como este trabalho e palavras que ouvi foram importantes não só pra mim, mas também para minha família”, declarou.
No último dia do evento foi realizado o "Sociodrama Construtivista das vozes das Vítimas de Niterói" – método de intervenção grupal - com palestra aberta a participação de toda a comunidade.
Certos de que há muito mais pessoas abaladas emocionalmente por esta e tantas outras catástrofes, psicólogos e psiquiatras voluntários do PAHP finalizaram os atendimentos do dia conscientes de terem cumprido uma importante etapa do processo, que terá prosseguimento nos dias 18 e 19 de junho, através dos profissionais locais recém-formados.
Bastidores dos atendimentos
O PAHP - Programa de Ajuda Humanitária Psicológica chega aos abrigos através de Instituições como o Rotary Club, expondo o objetivo do trabalho: levar apoio psicológico a estas pessoas, após esta situação de catástrofe.
O primeiro passo ao chegar a estes locais é conversar com seus responsáveis e entender qual o público que a equipe encontrará ali, para que a partir deste levantamento eles possam ser divididos em 4 grupos: crianças de 1 a 7 anos, crianças de 8 a 11 anos, adolescentes e adultos. Quando necessário, faz-se também outros grupos como de idosos, mães com crianças de colo e administradores dos próprios abrigos.
Os profissionais voluntários do Programa fazem todo o atendimento baseado no "Protocolo Grupal Interativo com EMDR - M.G.I" e atendimentos individuais, quando preciso. Neste momento, detecta-se ou não a necessidade de acompanhamento, em casos positivos o psicólogo da localidade, encaminha o paciente a um tratamento, realizado com a ajuda de parceiros.
Para a realização destas missões o PAHP conta com o apoio de grupos estratégicos e articulados nos locais das ocorrências para realizarem o mapeamento dos pontos onde farão os atendimentos e identificarem os voluntários que serão necessários para oferecer suporte psicoterapêutico às vítimas. Por não ser uma instituição com fins lucrativos, a cada nova ocorrência que se faça necessária a presença dos voluntários do Programa, inicia-se também a busca por patrocinadores de demandas como transporte, hospedagem, alimentação e traslado no local da catástrofe.
Dentre os apoiadores desta missão, estiveram presentes membros do Rotary de Niterói, Rio de Janeiro, São Paulo e Blumenau; Comandante Edgar Chagas, do Exército da Salvação; FEBRAP – Federação Brasileira de Psicodrama; ABRACE; DR. Jairo Werner, Doutor
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