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COLUNAS


Ricardo Dorés
ricardo@salesresults.com.br

Com formação acadêmica em Direito e especialização em Marketing, ocupou no mercado as posições de Diretor de Unidades de Negócios, Gerente de Unidade de Negócio, Gerente Nacional de Vendas, Gerente de Desenvolvimento de Mercado, Gerente de Treinamento de Vendas, Supervisor de Vendas, em empresas multinacionais e nacionais de grande porte, tais como: 3M, Pfizer, Glaxo, IMB, Itaú Seguros, dentre outras. É, há 10 anos, consultor empresarial e palestrante.

Comunicações e protesto social no século XXI

              Publicado em 22/08/2013

O começo do Século XXI pode ser lembrado pela irrupção das tecnologias de informática e comunicações (internet, redes sociais, smartphones, tablets etc) e suas consequências na sociedade. De fato, uma das influências mais notáveis e uma evolução inesperada, já na segunda década deste século, é o novo fenômeno das manifestações sociais e populares, tão poderosas e impactantes que até derrubam governos ao redor de todo o mundo. O protesto social, a evolução tecnológica e a inoperância na gestão de comunicações de governo são fenômenos intimamente relacionados entre si e cuja compreensão constitui uma obrigação para os comunicadores. 

O primeiro protesto social moderno começou em 18 de dezembro de 2010 na Tunísia, desatando um fenômeno que alguns especialistas denominaram “primavera árabe”,  que resultou em manifestações sociais e quedas de governos em vários países da região. Em 2011, Londres se surpreendeu com uma série de protestos nos suburbios, que fizeram a Europa temer a extensão dos movimentos de protesto. Na América Latina, a Venezuela e a Argentina tiveram diferentes tipos de protesto em tempos recentes – todos pacíficos, e nenhum da magnitude dos anteriores – , e o Chile enfrentou um protesto estudantil muito importante, que durou meses. Entretanto, o fenômeno que verdadeiramente impactou a América Latina foi o protesto social desatado no Brasil nas últimas semanas, cujas causas, explicações e consequências intrigam os especialistas de toda a região, e em particular os governos. 

As reivindicações dos diferentes protestos ao redor do mundo têm alguns pontos em comum e vários diferentes, conforme a situação econômica, social e política de cada país. Nas nações árabes, a reivindicação de maior liberdade e participação política se misturava com expectativas de melhorias econômicas e sociais. No Chile, o acesso massivo aos benefícios da educação foi a mensagem dominante. No Brasil, unem-se também a reivindicação ao acesso massivo dos benefícios do progresso – infraestrutura, educação, saúde, segurança pública – , a diminuição da marginalidade, a inclusão social e o combate à corrupção. 

Governos e políticos em geral enfrentam os protestos com uma mistura de temor, surpresa e incerteza. Contudo, um fator comum na maioria dos casos é a incompreensão do próprio protesto e a ineficiência total em acertar as estratégias para enfrentá-lo. Enquanto os políticos da oposição e, muitas vezes do próprio governo, costumam se unir à reivindicação popular uma vez iniciada e fazem suas as proclamas e reclamações, em geral se enfrenta a situação com respostas mais apropriadas ao Século XX que ao XXI. A primeira resposta, geralmente ineficiente, foi a repressão militar e policial. Na maioria dos países árabes, paradoxalmente, terminou gerando enfrentamentos armados que finalmente derrubaram os próprios governos. Uma segunda resposta, igualmente ineficiente, foi a tentativa de controlar os meios de comunicação e as redes sociais, um reflexo manipulador próprio dos governos autoritários do século passado.

Chegando a este ponto cabe uma pergunta: onde estavam nesses momentos os “experts” em comunicação? O que estavam fazendo exatamente os supostamente especialistas em detectar as mensagens da população e oferecer um diálogo convincente? Sobre isso só penso em três respostas possíveis: 

1. Não estavam.
2. Estavam lá, mesmo que dominados por um poder político anacrônico e equivocado.
3. Estiveram, mas foram totalmente ineficientes no diagnóstico da situação e na gestão de ferramentas para enfrentar o conflito. 

Como dissemos anteriormente nesta coluna, uma das inovações mais disruptivas do começo do presente século foi o surgimento virtualmente simultâneo dos fenômenos absolutamente convergentes  que se potencializam mutuamente: os dispositivos móveis e as redes sociais e internet em geral. Os dispositivos móveis levam a informação ou a possibilidade de compartilhar informação em tempo real a qualquer lugar, graças a seu acesso amplo à internet e às redes sociais. Estas, por sua vez, são a plataforma em que os usuários compartilham histórias, informação, perspectivas e conversas. 

No século XIX os governos europeus e de outras regiões construíram sistemas de poder baseados em uma pirâmide de autoridade descendente, em que as classes governantes estabeleciam as regras do jogo para toda a sociedade. A competição política e econômica daqueles anos, baseada em fortes sentimentos nacionalistas, levou toda a sociedade a se alinhar ao novo esquema, desde a educação até os incipientes meios de comunicação, desde a estrutura militar até a organização política.

A revolução tecnológica associada aos meios de comunicação minou essa organização, dando início a um processo de destruição de estruturas que já leva algumas décadas. Em primeiro lugar, é indubitável a influência que o rádio e outros meios exerceram para minar a frágil construção política e social dos países da esfera soviética, que se derrubaram na última década do século passado. Paralelamente, a televisão a cabo e via satélite multiplicou as opções de canais para ver, e desse modo acabou com os monopólios informativos, permitindo às audiências estender seu olhar a outros interesses, desde um noticiário em outro idioma até um documentário sobre uma alcateia de leões na savana africana. Portanto, a audiência já não era obrigada a ver só três ou quatro canais de televisão, mas podia ter acesso a dezenas deles. Por último, surgiram a internet e os dispositivos móveis, acabando com os últimos vestígios de domínio informativo e educação formal segundo os velhos parâmetros. 

Os protestos modernos são organizados e coordenados pela internet, cuja informação se transmite pelos dispositivos móveis, inclusive durante sua própria execução. Todas as ordens e os comentários são compartilhados abertamente e para milhares de pessoas: hora e lugar de encontro; os deslocamentos; as ordens políticas; as opiniões e reflexões. As novas tecnologias permitem ter acesso à informação de forma rápida, a uma velocidade superior à do controle do governo. Resumindo, imediatidade e massividade são dois atributos das novas tecnologias que potencializam o protesto social. 

Em ocasiões anteriores compartilhamos nossa visão sobre como as novas tecnologias afetam as comunicações corporativas. Os governos e seus comunicadores deveriam aprender algumas regras que também estão causando impacto sobre eles:

O controle acabou: décadas atrás se podia “controlar” uns poucos meios, e com isso a opinião pública. Agora o controle acabou. No melhor dos casos, participa-se da discussão pública em seu próprio terreno, as redes sociais.

Não há líderes: muitos movimentos políticos aproveitaram a instabilidade gerada durante o protesto social para obter seus proveitos. Mas, em princípio, a maior parte não tem líderes e, portanto, não basta encarcerar alguns. O líder é a própria população, de maneira anônima e massiva. O Brasil é um bom exemplo disso.

A pirâmide se esmagou: a tradicional pirâmide informativa, com uns líderes de opinião que influenciam outros, e assim sucessivamente, está deixando passagem para uma rede informativa absolutamente amorfa, abrangente e anônima. Sempre existem umas figuras mais ativas que outras, mas seus seguidores já não se alinham atrás, e sim estão no mesmo plano, lendo e comentando as notícias nos sites sociais.

As redes não doutrinam: as redes estão para informar e fornecer conhecimentos, trocar opiniões, conversar e comentar. Portanto, de nada serve tentar controlar, é importante fazer parte, participar.

 

Portanto, é importante aprender como as mudanças tecnológicas  modificam os processos comunicativos e, como consequência, influenciam a sociedade. Esse é um fenômeno extremamente dinâmico que promete não parar, o que obriga os comunicadores a atualizar seu conhecimento na mesma velocidade que a tecnologia, que atualiza a si mesma sem cessar. 


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