Bienalize-se!
Parece um grito de guerra, mas é mais do que isto, é um apelo a se deixar levar, a se envolver com a arte, a se deixar tomar por ela.
Este slogan criado pela Agência Africa diz tudo sobre a 29a Bienal Internacional de Arte de São Paulo. Tempo de ressurgir, de se renovar, de se entregar à sociedade, de se internacionalizar definitivamente, de assumir a cumplicidade com novos valores, de conquistar a liderança da arte contemporânea brasileira e de lançá-la definitivamente aos quatro cantos do mundo. Tempo de ver e ouvir o que se faz lá fora, de mesclar experiências, de evidenciar que os artistas são transterritorializados e que estão em todas as partes, de se convencer de que a arte emula a vida, e de se transformar em um território experimental por excelência.
Temos enfim, novamente, uma Bienal em ritmo, clima e atmosfera de Bienal. Valeu!
Herdeira das mais legítimas tradições modernistas, a Bienal de São Paulo foi criada nos idos dos anos 1950, por Ciccillo Matarazzo, num momento em que São Paulo buscava se modernizar, internacionalizar-se, seguindo o modelo americano instituído pelo MOMA, de Nova York. A participação ativa das elites do pós-guerra buscava a construção de um modelo de instituição cultural independente do Estado, movida a recursos advindos do mecenato cultural.
Ao longo de seis décadas, em edições bienais, uma bela história da arte brasileira e internacional circunscreveu-se ao mais emblemático dos pavilhões do Ibirapuera: barreiras estéticas foram rompidas, celeumas políticas foram enfrentadas, caminhos inovadores foram buscados, discursos curatoriais foram enunciados, o acesso à arte foi expandido – enfim, a Bienal de São Paulo sempre ali esteve latente, presente, polêmica.
No entanto, as instituições culturais refletem de forma emblemática não apenas as intenções de seus fundadores, ou a ousadia de seus curadores, mas também acabam por oscilar de acordo com a inconsistência dos sucessivos colegiados que as dirigem. As mais bem arquitetadas curadorias mal conseguiram disfarçar a insolvência institucional que acometeu a Fundação Bienal de São Paulo nos últimos anos. Não por acaso, realizar uma bienal tornou-se um esforço, uma obrigação, para manter a tradição; tudo exatamente ao avesso do que deveria ser, ou seja, antes de mais nada, a Bienal deve estar ligada ao prazer de suscitar a inovação.
Bastou uma virada institucional – marcada pelo apetite e coragem dos que querem reconstruir – para afastar o gosto amargo de continuísmo e de insucesso que marcaram as últimas edições da mostra. Novas lideranças, novos desafios, novos profissionais, novos métodos, novas crenças. Assim foi possível reerguer a Bienal, num esforço conjunto, compartilhado, que envolveu apuro e determinação.
A recente edição aboliu o amadorismo e acreditou no profissionalismo. Atraiu investidores com contrapartidas verdadeiras, ou seja, o nome da empresa foi aliado a uma instituição de prestígio, liderança, inovação e representatividade. Acreditou no poder da arte para educar e promover a inclusão. Optou por um tema polêmico, mostrando que arte e política são condimentos indissociáveis e essenciais à democracia. Acenou de forma clara que a instituição tem apetite para liderar a arte contemporânea brasileira e assegurar sua transposição ao cenário internacional.
Cumpre, portanto, a todos nós brasileiros, trabalharmos para que a Bienal de São Paulo brilhe no cenário internacional, ombreando-se com a Documenta de Kassel, com a Bienal de Veneza e com as demais manifestações artísticas internacionais. Enfim, já é hora de acreditar que à Bienal cabe uma dimensão efetivamente pública e cidadã, que se alinhe ao que de mais moderno nosso país possa representar no cenário internacional contemporâneo.
Conseguimos dar o salto de qualidade, de inovação, de pertencimento, de ousadia. A 29a edição da Bienal de São Paulo, como seu próprio tema indica, nos mostra que há sempre um copo de mar para um homem navegar1.
1 Título dado à exposição da 29ª Bienal de São Paulo – “Há sempre um copo de mar para um homem navegar” – verso do poeta Jorge de Lima, de sua obra maior, Invenção de Orfeu.
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