O museu é a bola da vez
Mal nos recuperamos da derrota da Copa da África do Sul e já sentimos o peso da responsabilidade enquanto país organizador da Copa de 2014. Um cenário crescente de potencialidades e responsabilidades se avizinha, e o Brasil é agora o foco das atenções internacionais. É sabido que os grandes eventos esportivos atrairão oportunidades, realizações, investimentos, inovação, capacitação crescente e, acima de tudo, legados importantes para as cidades brasileiras e para o próprio país, que terá de se haver com a recuperação de uma defasagem já histórica na área de transportes, infraestrutura e serviços em geral.
É interessante observar que o Brasil começou a desenhar a sua nova face de competência para realizar a Copa do Mundo e as Olimpíadas não somente desenvolvendo masterplans para a criação ou reforma dos estádios em diferentes cidades, mas sobretudo planejando aspectos de desenvolvimento urbano, fomento ao turismo, estratégias de sustentabilidade, criação de centros de recuperação e saúde de excelência, programas para a capacitação de nossos atletas, entre outros.
Para muito além disso, paira a preocupação de que a infraestrutura desenvolvida para os megaeventos internacionais não se transforme em esqueletos vazios no pós-Olimpíada. Espera-se que para os investimentos se efetuarem seja levada em conta a capacidade que tais equipamentos terão de se metamorfosear futuramente em bens capazes de acolher atividades de lazer, cultura e educação, ou seja, benefícios duráveis para a sociedade brasileira. Para tanto, os governos têm-se acautelado, buscando não desembolsar a fundo perdido vultuosas quantias, e têm optado pelo modelo híbrido das PPP – parcerias público-privadas – que permitem desembolsar menos e dividir responsabilidades, ou seja, equilibrar ônus e bônus.
Neste cenário virtuoso, que precisa ser construído com determinação e competência, os valores culturais se transformam em estrelas de real grandeza. Nossa música, nossa dança, nossa arte, nossa história, nossas tradições, nosso samba, nossa bossa-nova, nosso carnaval, nosso forró, nosso cinema, nosso teatro, a televisão brasileira, ou seja, tudo o que reluz e faz referência ao que somos e ao que pretendemos ser se transformará em moeda eficaz no jogo de cena que se avizinha.
Não é por acaso que os investimentos em cultura têm-se multiplicado nos últimos dois anos. Hoje não cabe ao BNDES apenas a tarefa de financiar estádios e infraestrutura, mas também, por exemplo, patrocinar a esplendorosa restauração do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, recém-concluída; a Prefeitura do Rio, antes mesmo de lançar o plano geral de recuperação da região portuária, já adiantou que fará investimentos da ordem de mais de duzentos milhões em Museus – Museu do Amanhã e Museu de Arte do Rio de Janeiro - MAR – a serem instalados no cais do porto, que deverá ser integralmente requalificado na próxima década; as cidades brasileiras já apensam a seus novos estádios, a serem repaginados para a Copa, projetos de novos Museus e memoriais vocacionados a celebrar o passado, registrar o presente e intuir o futuro.
Vemos hoje, portanto, que o Museu não é mais a configuração do passado, mas a linguagem do futuro; não é mais o espaço do culto saudosista ao atleta que já se foi, mas principalmente o eixo de articulação entre o esporte e a sociedade brasileira, em sintonia com as potencialidades globais. Este novo Museu que dialoga com o seu tempo é aquele que não mais se congela entre lembranças e guardados, mas sim experimenta as redes sociais de forma propositiva e colaborativa. Afinal, como diz Paulo Nassar, "reputação é memória" .
Nesta década de aceleradas mutações, o Museu poderá ser, sem dúvida, o instrumento de potencialização da sociedade brasileira para reforçar aspectos sensíveis de pertencimento, de autoestima e crença na capacidade de realizar tais sonhos grandiosos; poderá se transformar ainda na interface que evidenciará ao turista visitante o poder desta nação jovem, híbrida e pulsante, capaz de redesenhar não só a Copa do Mundo e as Olimpíadas, mas também contribuir, engenhosamente, para um futuro mais equilibrado.
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