O Investimento dos Pássaros
Há 4.000 anos os egípcios já haviam registrado em suas pinturas o intrigante fenômeno da migração das aves. De lá pra cá as coisas não mudaram muito. Até hoje, os reais motivos dessa migração são reserva única e exclusiva de seus realizadores. Atualmente sabe-se que todos os anos dezenas de bilhões de aves de cerca de 3.500 espécies migram, em maior ou menor grau, mundo afora carregando com elas seu mistério. Entretanto, se para a humanidade isso é um enigma, para os pássaros não faz a menor diferença. Não muda em nada suas ações, não altera seus objetivos. Eles sabem por que fazem aquilo, e basta.
Alguns conservadores mais ligados à semântica do que ao significado da mensagem em si, certamente dirão que as aves não sabem nada, são irracionais, agem pura e simplesmente pelo instinto. Então, posso substituir o verbo por outro que, na verdade, representa ainda com mais perfeição e profundidade seu significado: elas sentem.
Há momentos nos quais somente você sabe o que é mais saudável para sua própria vida, o que lhe será mais produtivo, seja material, sentimental ou espiritualmente. Você sente isso. Entretanto, por vezes, bambeia para o lado da insegurança e pede auxílios diversos, como se pudesse conferir através de outras pessoas o que só você pode saber. Sem muitos problemas até aí. Até aí.
Então, você ouve o que vem de fora e passa a dar àquilo maior valor e atenção do que a verdade que está sinalizando no seu íntimo. Então, toma a decisão contrária a ela. Sua intuição é eliminada sumariamente sem direito a um último pedido. Você, sem perceber o que fez - não o faria se soubesse - abafou seu único e verdadeiro tesouro, sua essência, aquilo que é você de verdade. Preferiu engaiolar-se, ao invés de alçar o vôo da evolução.
Nosso destino não deve ser outro, senão aprender a dar o que temos de melhor, e não proteger nosso tesouro num abrigo secreto. Se estivermos convencidos disso, a próxima etapa é descobrir onde está esse melhor. A resposta pode parecer: a) óbvia ou b) complexa, depende de como interpretá-la e do quanto você deseja voar por seu céu infinito.
Vamos lá. É certo que o melhor de nós está ...em nós mesmos. Bem, seja qual das alternativas você tenha assinalado, você está certo.
Os que escolheram a alternativa a), acham que, logicamente, o seu melhor não poderia vir do seu vizinho, ou de um antigo colega de escola, do trabalho. Daí a escolha. Analisando por esse prisma, de fato, a resposta é banal e não se fala mais nisso.
A alternativa b) foi a preferida de quem deseja ir além, saber em que parte está o seu melhor. Quem a escolheu pode ter imaginado de tudo: nos olhos, cabelos ou pernas. Talvez, na sua profissão, nos conhecimentos acadêmicos. Quem sabe na força física, ou então na sua bela e eloqüente voz? Muitos dirão, sem precisar pensar muito, que seu melhor está em sua determinação em vencer, ou no sentimento de fraternidade e no amor que conserva em seu coração. “Em qual dessas partes de mim, está o meu melhor?”, você se indaga. De fato, esse raciocínio, por si só, já dá sentido à escolha da complexa alternativa b). Mas a resposta corrige essa última pergunta.
Você, em essência, não tem várias partes, somente uma. É um ser completo, integral. Portanto, seu melhor está em cada um desses pontos, em todos eles, pois todos formam o seu todo.
O que você fez até agora não foi tudo o que poderia ter feito, mas tudo o que conseguiu fazer. Perceba se idéias que você sentiu como sendo verdades interiores foram postas em prática alguma vez, ao menos em parte. Analise se o fato de muitas vezes você não ter respeitado suas intuições fez a diferença. Veja o quanto você realmente esteve presente em suas decisões.
Esteja como estiver a sua vida hoje, ela não é nada mais, nada menos do que o resultado de seus pensamentos e suas ações. Se chegar a conclusão de que ela não está boa o suficiente, faça diferente, você é livre para mudar. Deseje “voar”. É para isso que estamos todos aqui.
Um pequeno pássaro conhecido por Trinta-Réis-Ártico, considerado o maior “maratonista dos ares”, com seus menos de 40 centímetros, voa de um pólo a outro do nosso planeta e depois retorna ao ponto de origem. Atravessando oceanos e desertos, enfrentando frio e calor extremos, lá vão, ele e seu grupo, em busca do que somente eles sabem o que é. São mais de 20 mil quilômetros de viagem com roteiro certo, fazendo o que sentem ter de ser feito por eles, e por ninguém mais.
A pequenez física desse “grande” pássaro só não chama mais a atenção do que sua implacável determinação, valentia e certeza interior. “Trinta-Réis” desses, aplicados em ações assim, renderiam ao longo da vida, em dinheiro de hoje, no mínimo, alguns bons milhões.
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