O mundo corporativo sob os novos signos da arte
A recente edição da SP-Arte, a maior feira de arte da América Latina, que acaba de se encerrar no pavilhão da Fundação Bienal de São Paulo, traz à cena artística brasileira e latino-americana um saldo surpreendente, tendo batido, em sua sexta edição, todos os recordes de venda anteriores. Criada nos moldes das grandes feiras internacionais de arte, como a Art Basel (Suíça), Frieze (Inglaterra), Arco (Espanha), FIAC (França), MACO (México) e ArteBa (Argentina), a SP-ARTE reuniu mais de 1.500 obras de renomados artistas nacionais e internacionais, representados por galerias do Brasil e dos países convidados, tais como Estados Unidos, Espanha, França, Inglaterra, México, Uruguai e Argentina. Durante o curto período de realização da feira, os jornais estamparam não apenas que tudo foi vendido, mas incluíram também o “refil” trazido às pressas pelas galerias, que foi igualmente consumido pelos ávidos compradores. Negócios foram fechados pessoalmente e a distância, aos borbotões e, mesmo assim, alguns galeristas saíram da feira com listas de pedidos que serão repassados prontamente aos artistas, já que parece haver compradores para além do que foi exposto.
Na abertura da feira, o burburinho de artistas, críticos de arte, curadores, colecionadores e interessados em arte acentuava o clima de euforia que se observava pelos corredores do Pavilhão da Bienal. O motivo para tal euforia é claro: o volume de negócios fechado, já no primeiro dia, era absolutamente inusitado. Mais do que um grande momento do mercado de arte brasileiro, evidencia-se também a força econômica do Brasil, enquanto país emergente no cenário global e, de novo, consolida-se a equação de que a arte é um sofisticado termômetro das relações estéticas, econômicas e, também, humanas e sociais. Para além do bom investimento financeiro, encontram-se talvez as reais razões da aquisição da obra de arte: o conhecimento, o gosto, o desejo de posse, a paixão.
A presença marcante de um dos bancos de primeira linha do Brasil, com um stand estrategicamente situado no coração da feira, evidencia muito mais do que o patrocínio – sinaliza que os negócios ali fechados são de interesse das grandes fortunas do país. O colecionismo no Brasil já há muito deixou de ser assunto exclusivo de amantes da arte, para se tornar uma das linhas de investimento recomendadas, tanto para pessoas físicas, como para as jurídicas. As coleções privadas passaram não só a representar importante parte do investimento pessoal, como têm potencial de representar inegável prestígio pessoal e relevante alavanca social para a geração de novos negócios.
Já na esfera corporativa, podem-se destacar várias oportunidades de negócios que a arte pode suscitar, em gestos sinérgicos e precisos. De um lado, ampliam-se os produtos a serem oferecidos pelas corporações aos clientes de grande fortuna que investem em arte, caracterizando esta natureza de ação como um grande diferencial perante a concorrência. Serviços de assessoria para aquisição de obras, catalogação, informatização e avaliação de coleções, efetivação de seguro especializado e até mesmo orientação quanto a novos investimentos e a caminhos sucessórios são hoje estratégias sensíveis para mobilizar clientes preferenciais. Como diria um alto executivo, “não se pode mais pensar em dar uma Mont Blanc a um grande colecionador, pois isto não é de forma alguma seu objeto de desejo; no entanto, auxiliá-lo a organizar sua coleção pode ser um diferencial sensível e significativo, capaz de fidelizá-lo à sua marca”.
Por outro lado, também uma corporação interessa-se hoje por conhecer e investir em arte, para que sua marca comunique inovação, estilo e, mais do que isto, esteja sintonizada com este novo perfil de cliente que despende tempo e dinheiro para reconhecer, selecionar, adquirir, manter e curtir sua coleção de arte. Aí estão as coleções de arte pertencentes aos grandes bancos brasileiros, hoje geridas profissionalmente, expostas com rigor e requintes temáticos nas suas sedes corporativas, a nos mostrar como estas linguagens são prioritárias no diálogo com o cliente diferenciado. Mais recentemente, os conhecimentos relativos à arte brasileira e internacional têm sido incorporados ao discurso dos principais executivos do mercado, que recebem hoje apurada capacitação em história da arte e do colecionismo, além de conhecimentos em torno do perfil do colecionador, seus gostos, estratégias de fidelização e credibilidade, para que se relacionem com competência e apuro com este sofisticado perfil de cliente.
Durante muitos anos, acreditou-se que o desejo de colecionar objetos estaria vinculado ao desejo humano de compreender o passado distante; o crescente interesse dos colecionadores pela arte contemporânea e por suas distintas linguagens, talvez venham a enunciar o desejo pessoal e coletivo de prospectar o futuro. As sucessivas tentativas de compreender o mundo da arte, enquanto uma das mais instigantes facetas de entendimento da própria condição humana, poderá trazer às corporações um novo diálogo sensível com seus clientes, capaz de indicar novos direcionamentos para o futuro.
Para saber mais sobre a SP – ARTE consulte: www.sp-arte.com
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