Esta foi a estratégia usada pelo Brasil para atrair o mundo dos museus para o ICOM Rio 2013 – Conferência Internacional de Museus, realizada no Rio de Janeiro, de 10 a 17 de agosto, na Cidade das Artes.
Tivemos a oportunidade de receber neste ano, na cidade do Rio de Janeiro, a 23ª Conferência Geral do Conselho Internacional de Museus.
A história desse evento, que mobilizou centenas de profissionais, começou há cinco anos, quando candidatamos a cidade do Rio de Janeiro para sediar a Conferência. Competindo com duas cidades magníficas – Moscou e Milão – nossa campanha foi marcada pela transparência e inovação. Era preciso sensibilizar os votantes presentes à sessão solene na sede da UNESCO, em Paris. Entramos em cena com a força plural do Rio de Janeiro e da cultura brasileira, o que resultou numa vitória inesquecível, em primeiro turno, que trouxe para o Brasil, pela primeira vez na história, o maior encontro mundial de museus.
Obtida a vitória, o ICOM Brasil e a delegação brasileira voltaram para casa com a missão de transformar o evento em realidade. Muito trabalho se avistava nos trópicos: contratos internacionais, negociações político-institucionais, desenvolvimentos conceituais, arregimentação de Comitê Organizador, obtenção de recursos físicos e financeiros, agenciamento de serviços especializados e estratégias de comunicação, de negociação e de sustentabilidade tomaram conta dos organizadores nos últimos três anos.
O resultado desse esforço não poderia ser melhor. No Rio de Janeiro, entre 10 a 17 de agosto, cerca de 2.000 profissionais de museus, oriundos de mais de 100 países, se reuniram no encontro que teve como tema Museus (Memória + Criatividade) = Mudança Social. Mais que uma equação matemática, o tema proposto pelo Brasil transmitiu toda a força inventiva da cultura brasileira – um mote de formação, regeneração e propulsão de nossos museus enquanto lugares de memória, vocacionados a provocar, com criatividade, significativas mudanças e transformações sociais.
Uma programação rica e inventiva, articulada por emblemáticos conferencistas brasileiros e internacionais, mostrou como o mundo dos museus é hoje elemento-chave, fórum articulador das cidades e sociedades contemporâneas. Entre temas ligados às diferentes vertentes da memória, às relações entre ciência e arte, ao papel do museu como observador do presente e dedicado às dicotomias do tempo, a programação se desenvolveu não apenas na Cidade das Artes, mas se espraiou por mais de 30 museus do Rio de Janeiro.
Os Museus de Favela, como o da Maré e o MUF – de Pavão, Pavãozinho e Cantagalo –, em sua formatação singela, foram, sem dúvida, os astros de maior grandeza, evidenciando estratégias inovadoras ligadas à museologia social que tanto atraíram e encantaram os profissionais de museus internacionais.
A articulação suscitada entre diferentes comitês temáticos do ICOM, como, por exemplo, do Comitê de Museus de Cidade com o Comitê de Museus Literários, originou atividades inovadoras, como leituras públicas de textos sobre cidades, de autores internacionais, em diferentes idiomas, realizadas no arboreto e no Museu do Meio Ambiente do Jardim Botânico. Oficinas inéditas de técnicas de sopro em vidro foram realizadas pelo Comitê de Vidro do ICOM, em plena favela da Maré; o Comitê de Indumentária realizou um passeio inédito em Ipanema, identificando os modos de vestir contemporâneos.
Passeios inspiradores, programa cultural intenso – modulando teatro, música e exposições – mostraram aos convidados estrangeiros um país de cultura diversa, inventiva e articulada com o presente. A cidade do Rio de Janeiro, aliando as magias de sua beleza natural com o jeito acolhedor de ser e receber do carioca, encantou a todos.
Um sonho é em geral realizado por muitos que nele acreditam, que ousam torná-lo realidade. O trabalho coeso entre o ICOM Brasil e as três esferas de governo demostrou, em todo o percurso conjunto, como as alianças são essenciais para garantir a realização de projetos emblemáticos. Sem dúvida, essa Conferência fez história, não só por sua realização efetiva, mas pela lógica da cooperação intergovernamental que ela instaurou. Espera-se que esta interação lúcida e generosa entre as três instâncias governamentais seja capaz de iluminar novas políticas integradoras para os museus brasileiros no futuro. Não há dúvidas de que esse talvez seja um dos principais legados desse vibrante encontro internacional.
É importante mencionar ainda os patrocinadores e apoiadores que se empenharam em viabilizar esse sonho. A estratégia de eleição dos potenciais patrocinadores seguiu um critério estruturador, ou seja, todos eles têm uma relação direta com os museus brasileiros. Não foram escolhidos ao acaso – foram procurados por já terem, em seu DNA, uma relação de apoio contínuo a museus. Os filmes que foram veiculados antes da sessão solene de abertura da Conferência atestaram essa vocação. Desde o patrocinador máster, a Petrobras, que mantém programas permanentes de apoio aos museus brasileiros, assim como o BNDES, a Vale, a Gerdau, a Oi, a Light, o Bradesco e a AMBEV revelaram ao público brasileiro e internacional, que lotou a grande sala da Cidade das Artes, os seus próprios museus ou os projetos de memória por eles patrocinados.
Como estratégia de comunicação, além da ABERJE, da The Art Newspaper e da Price Waterhouse, a Globo apoiou o evento com uma ação inédita, proposta pela organização da Conferência. Numa articulação conjunta com o IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus/MINC, os museus brasileiros foram estimulados a abrir gratuitamente as suas portas a toda a sociedade brasileira, durante a segunda semana de agosto, quando se realizava a Conferência no Rio. Em contrapartida a esta ação de inclusão, a Globo veiculou, em horário nobre, um filme inédito desenvolvido pelo ICOM Brasil, voltado a difundir a importância dos museus brasileiros.
Assim como os museus são verdadeiros arautos que marcam, no presente, as relações entre passado e futuro, essa Conferência Internacional de Museus foi certamente um ensaio, em menor escala, para os grandes eventos que se avizinham no Brasil.