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COLUNAS


Carla Nieto Vidal


Responsável pela área de comunicação e estratégias da Expomus, empresa que atua no mercado cultural desde 1981. Coordenou os programas de Patrocínio e Comunicação das exposições internacionais: Impressionismo: Paris e a Modernidade (prêmio Aberje 2013), A Herança do Sagrado: Obras Primas do Vaticano e Museus Italianos e recentemente Mayas: Revelação de um tempo sem fim, que apresentou pela primeira vez no Brasil um rico acervo mexicano dedicado a arqueologia maia. Dentro da Expomus, é também responsável pelas estratégias de comunicação, fomento e financiamento para museus, além de liderar projetos voltados para a memória institucional corporativa. Integrou a equipe do Museu da Pessoa, foi coordenadora do centro de pesquisa do antigo jornal Gazeta Mercantil e desenvolveu projetos de mobilização comunitária voltados à preservação do patrimônio, com destaque ao projeto Museus de Bairro da Cidade de São Paulo, dedicados ao bairros da Lapa, Pinheiro e Pompéia. É formada em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 

Olhos nos olhos

              Publicado em 05/11/2014

Há alguns dias, Antonio Sagrado, um jovem de vinte e poucos anos e cheio de vitalidade, me propôs uma experiência: olharmo-nos, olhos nos olhos por um breve minuto. Aceitei ao convite considerando a tarefa fácil, como uma brincadeira que fazemos com as crianças. Me posicionei à frente de Antonio - olho no olho.

Que estranha sensação. Eu, ali, à frente de um menino 20 anos mais jovem, olhando-o olhos nos olhos. Constrangimento, incômodo, presença, espírito e, por fim, a compaixão.

A cada dia olhamos cada vez menos nos olhos daqueles com quem nos relacionamos. E-mails, mensagens, twitter, facebook, whatsapp.  Eu estou aqui, mas não estou, alardeamos conectados aos nossos laptops, enquanto o outro fala. 

Onde está a nossa conexão? O olho no olho, que penetra, transcende e conecta?

Porque estamos perdendo essa capacidade de olhar o outro? Olhar no olho? Quantas ideais se pedem nessa ausência de encontro genuíno e verdadeiro?

Uma comunicação silenciosa e tão precisa, olhar nos olhos de quem te conta uma história, uma ideia, um projeto. Olhar profundamente, deixar que nossa retina ouça o outro.               

Em 2010, a artista Marina Abromovic levou ao MOMA de Nova York o projeto THE ARTIST IS PRESENT. Durante três meses ela se propôs a ficar sentada numa cadeira por 12 horas, seis vezes por semana, sem paradas para comer, beber ou ir ao banheiro. O projeto, consistia em um convite aos visitantes para que se sentassem à frente da artista, em silêncio, numa profunda experiência olho no olho, cara a cara. 


Marina Abramovic The Artist is Present Trailer from Dogwoof Documentary on Vimeo.

O que esse projeto nos diz? O que podemos aprender com essa reveladora experiência artística?

O jovem Antonio Sagrado, que me propôs a experiência do olhar, em meio a um encontro numa livraria em São Paulo, participou de um projeto que busca, justamente, a uma reflexão sobre novas perspectivas para a educação. Dirigiu, com mais dois amigos, o documentário Quando sinto que já sei, que registra práticas educacionais inovadoras que estão ocorrendo pelo Brasil. O documentário reúne depoimentos de pais, alunos, educadores e profissionais de diversas áreas sobre a necessidade de mudanças no tradicional modelo de escola. O projeto independente partiu de questionamentos em relação à escola convencional, da percepção de que valores importantes da formação humana estavam sendo deixados fora da sala de aula.

Durante dois anos, os idealizadores visitaram iniciativas em oito cidades brasileiras para conhecer projetos que estão criando novas abordagens e caminhos para uma educação mais próxima da participação cidadã, da autonomia e da afetividade.

Quando sinto que já sei, ao apresentar novos modelos de educacionais para nossas crianças, nos coloca à frente de questões fundamentais para o entendimento da crise humana que atravessamos. A educação baseada numa comunicação mais afetiva e genuína, onde o ver e ouvir o outro é um valor para o fortalecimento das gerações futuras e a manutenção de nossa sociedade.

Está aí um motivo para que nós, comunicadores, coloquemos o olho no olho de volta nas dinâmicas que empreendemos. Um olhar profundo e cuidadoso, um olhar de escuta, um ver e viver o outro. 


Os artigos aqui apresentados n�o necessariamente refletem a opini�o da Aberje e seu conte�do � de exclusiva responsabilidade do autor. 1592

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